por Elisandra Vilella G. Sé
É cada vez mais comum pessoas acima dos 50 anos se matricularem em cursos de línguas no exterior. No primeiro semestre deste ano a Agência Central de Intercâmbio (CI) enviou cerca de 100 pessoas da terceira idade para outros países para fazerem cursos de línguas.
A expectativa é que aumente cada vez mais esse número. Isso porque as pessoas passaram a planejar suas viagens buscando cursos de línguas; seja pela primeira vez ou para se reciclar.
Entre as línguas mais escolhidas pelos idosos estão o inglês, o espanhol e o italiano. Os cursos são feitos em turmas com a mesma idade e com profissional especializado, com aulas aliadas às atividades culturais, incluindo passeios turísticos, gastronômicos, etc. Existem também opções de cursos específicos para o público da terceira idade. A duração varia de 6 meses há 1 ano e as hospedagens são em casa de família.
Este programa é uma oportunidade da pessoa aprender uma nova língua e conhecer outro país. Fazer intercâmbio cultural não é uma opção somente para jovens. Com o aumento da população longeva, cada vez mais surgirão programas, atividades que agradem esse segmento, proporcionando-lhes boa qualidade de vida.
Fatores sociais e educacionais fazem a diferença no aparecimento de déficits cognitivos na velhice, bem como no surgimento de depressão em idosos. Estudos mostram que é importante a atividade mental complexa, o engajamento com o lazer, a prática da leitura, de exercícios físicos e manter uma boa dieta para alcançar uma velhice bem-sucedida e se proteger de fatores de riscos cognitivos na velhice.
A linguagem é função sóciocognitiva, uma atividade mental que nos possibilita interagir, apreender a realidade, entender o mundo, decodificar símbolos, compartilhar sentimentos e desejos, fazer associações lógicas, interpretar, entender, inferir um significado. A linguagem é a expressão do ser. Dessa forma, o domínio da linguagem causa efeitos transformadores sobre a mente humana.
Aprender uma nova língua no seu contexto natural é muito importante. Aprende melhor uma língua quem mergulha na sua prática social. Para aprender uma língua é preciso que se doe para aquela língua. Incorporar o habitus linguístico da comunidade que fala aquela língua, as práticas discursivas.
Não é possível aprender uma língua se distanciando do seu contexto e tendo a postura de criticá-la. É preciso aceitar as categorias da língua como elas são, acolher tudo à medida que você for aprendendo. Por isso o fator idade não é o principal, tudo depende de como o estudante vai assumir a postura de aprendiz daquela língua. É importante também que sempre que possível após retornar do intercâmbio, fazer uma revisão de tudo que aprendeu.
A identificação do processamento da linguagem em diversos níveis e as modificações nas redes neurais levou os pesquisadores da área das neurociências cognitivas a estenderem as investigações para os casos de pessoas idosas que falam mais de uma língua. O aprendizado da linguagem oral e da linguagem escrita introduz no sistema nervoso estratégias organizativas específicas. Pessoas bilíngues apresentam melhores desempenhos numa variedade de tarefas que envolvem atenção e memória.
Estudo: bilinguismo
Um estudo que analisou o efeito do bilinguismo ao longo da vida na manutenção das funções cognitivas e na proteção contra sintomas de demência em 228 pessoas idosas, sendo 51% bilíngues, na Universidade de Toronto, no Canadá em 2007, publicado na Neuropsychology, constatou que as pessoas bilíngues apresentaram melhores desempenhos em testes mentais mesmo tendo as mesmas queixas cognitivas. Esses resultados mostraram que pessoas bilíngues têm mais reservas cognitivas, isso inclui um aumento de conexões neurais e aumento do vocabulário, e uma maior reorganização funcional da atividade cerebral, sendo um fator protetor de sintomas de demência.
O próprio processo de escolarização, aquisição da leitura e da escrita, o uso continuo da linguagem no cotidiano, já estimula outras competências. E o aprendizado de nova língua, da cultura dessa língua, e a manutenção da mente ativa ao longo da vida torna-se fundamental. Aprender outra língua além de uma necessidade pode ser muito prazeroso e trazer benefícios positivos.