por Dulce Magalhães
Maestria é o auge de um processo de competência. Quando nos tornamos mestres é porque estamos prontos para ir além dos conceitos conhecidos e somos capazes de criar novos conceitos.
Contudo, o caminho da maestria exige um espírito aberto para a aprendizagem. Seja qual for a área de interesse do indivíduo, não pode haver qualquer 'pré-conceito'.
O mestre constrói seus conceitos a partir da experimentação, da prática e não apenas de ouvir falar, de ter estudado. Aliás, aprender não é o mesmo que estudar. Aprender é o que internalizamos, o que transforma nossa relação de mundo. Estudar pode ser uma ação puramente de estocagem de informação, que não modifica nem a visão, nem nosso comportamento e, portanto, não modifica nossa vida. Aprender sempre gera mudança.
Sendo assim, mestre é aquele que aprende continuamente. E isso exigirá uma atitude de não julgamento, afinal, para estarmos abertos para novas ideias é preciso que sejamos capazes de ver, conhecer, sentir, experimentar, sem julgar. Julgamento é limite, é definição de realidade a partir de parâmetros antigos. O mestre não julga, conclui a partir da experiência. Sua conclusão pode e vai se modificar, mas é fruto de sua interação com a realidade e não de uma visão herdada ou limitada pelo conhecimento puramente mental.
Aliás, todo mestre irá sempre além da mente. É preciso, para a maestria, ganhar referências de outras esferas da vida. A prática física, o engajamento na tarefa, o colocar a "mão na massa", darão significados ao conhecimento. Agir, não apenas pensar. Experimentar, não apenas conhecer. Fazer antes de crer. A experimentação é ação direcionada, energia aplicada, corporificação do mental. Maestria exige longa prática, até que se internalize o conhecimento e este, então, se torne algo interno, pessoal, não puramente racional. Nos transformamos naquilo que internalizamos. O mestre se transforma naquilo que conhece.
O aprendiz, antes da maestria, busca compreender o mundo através da mente, já o caminho do mestre, exigirá, além da experimentação física, a devida envergadura emocional. Maestria é vocação, palavra de origem latina que significa "chamado". Atender ao chamado do coração, aquilo que é nosso caminho, a jornada que se exige fazer. Don Juan, mestre de Carlos Castañeda – antropólogo americano com vários best-sellers internacionais -, ensinou a lição da maestria: "busque um caminho com coração, pois este é um bom caminho".
Não há maestria sem engajamento emocional. Não há distância entre a lição e o indivíduo. Abordar a vida com emoção, sentimentos, sensações e experimentar toda a gama de possibilidades, das angústias mais profundas até as alegrias mais intensas, para, enfim, ser capaz de escolher a forma mais equilibrada de se conduzir. Um mestre não perde a sensibilidade, mas a tempera com sensatez. Um estado indiferente, distante, não é um estado de maestria, é um estado de alienação. O mestre está dentro da questão, sente-a, vive-a, até ser capaz de pressentir antes da própria questão. É isso que definimos como sabedoria, forte intuição, capacidade de ver sem olhar e saber sem estudar. Este espaço emocional, cuja representação simbólica é o coração, é uma entrega ao processo, onde a tarefa e a vida não se distinguem e não existe separação entre o trabalho, a aprendizagem e o lazer.
Maestria pode ser um destino a que nos propromos e, ao escolhermos este processo, estaremos fazendo uma opção pela entrega plena à experiência, a transcendência de um estado puramente mental, para a vivência integral, até que ao entrar na esfera da maestria, possamos desfrutar de um estado de bem aventurança, de conforto por saber e fazer o que se faz, de confiança por conhecer a si mesmo e ter clareza de seus limites e possibilidades interiores.
Ser mestre não é uma conquista, é uma jornada, que se renova a cada dia e avança em uma única direção, na busca de si mesmo.