por Dulce Magalhães
Napoleão é considerado a maior liderança que a França já teve. Fez campanhas militares extraordinárias, mas perdeu a guerra.
Gandhi, Martin Luther King e Kennedy foram assassinados, entretanto são considerados homens excepcionais que realizaram feitos incríveis.
Madre Tereza não conseguiu eliminar a pobreza do mundo, contudo sua vida foi um tributo ao bem. Há uma longa lista de personalidades que fizeram fama na História, todavia suas trajetórias pessoais não são exatamente contos de fada com um garantido "happy end".
Os heróis de carne e osso não usam capa e espada, não sabem voar, não tem poderes mágicos. São pessoas comuns, que vivendo em épocas incomuns, realizaram atos extraordinários. E o extraordinário não está fora do comum, está em colocar valor extra no mais comum dos atos. Qualquer atitude acima da média, qualquer ação que extrapole os limites do conhecido e consagrado, depende de uma coragem especial: a de correr riscos.
Arriscar-se é a essência do progresso em todos os níveis da vida. Porém, significa a chance de fracassar e esse medo muitas vezes nos impede de fazer tentativas. Qualquer comportamento que atue na área de abrangência da mudança causa apreensão, que gera imobilidade.
O fracasso apavora nosso imaginário, como um fantasma medieval. O impacto de uma ação fracassada, de um resultado indesejado é fatal para nossa confiança e autoestima. Como vai ficar minha família? O que meus amigos irão dizer? Meus filhos vão sofrer? O que vão pensar sobre mim?
É um horror sem fim a simples ideia de ser um pária social. Perder a casa, o emprego, todo o patrimônio, é um destino que não desejamos ao pior dos inimigos (bem, talvez ao pior dos piores). Assim procuramos eliminar o risco de nossas vidas, como se isso fosse possível.
Ao tentarmos nos liberar da adrenalina do risco, corremos o risco de nos sufocar na mesmice, de morrer de tédio, de padecer pela acomodação. A vida é um risco constante repleto de sim e não. Não há como evitar riscos, temos é que aprender a gerenciá-los. Entender que ao arriscar podemos alcançar o fracasso, mas que isso não significa o fim, é apenas uma etapa importante na construção do sucesso.
Viajando pelo interior do Brasil, tive a oportunidade de conviver com empreendedores de todas as estirpes, seja no cerrado matogrossense, no pantanal, na região amazônica, nos pampas gaúchos, no semiárido nordestino, no litoral de costumes açorianos, nas comunidades imigrantes de alemães, italianos, árabes, japoneses etc. Por todo lugar que se vá, você encontra pessoas que estão fazendo a diferença. Nas mesmas condições, com a mesma escassez de recursos, sob o mesmo governo, alguns estão fazendo muito mais. Por quê? Correm mais riscos, evidentemente. Todos já tiveram seus fracassos em maior ou menor grau, mas nenhum passou incólume. Todos tiveram que beber do cálice amargo e experimentar a doída sensação de não ter "chegado lá". Naquele momento.
Todos os empreendedores que já encontrei tiveram que arriscar em coisas impensadas pela maioria. Muitos tiveram que recomeçar depois de uma falência ou forte fracasso. Começar do zero é mais fácil, porque só tem caminho para frente, entretanto recomeçar é muito difícil já que há uma tendência de acreditarmos que somos o que estamos vivendo no momento. Então se vivo um fracasso, me sinto como tal. Erro de perspectiva, temos que separar o resultado imediato do grande projeto final.
Uma história que ilustra bem o uso da visão estratégica é sobre uma cidade no sul do Pará, Redenção, fica a mil quilômetros de qualquer lugar. Estradas deficientes (quase inexistentes), transporte aéreo escasso, dificuldades de todos os naipes, um verdadeiro celeiro para empreendedores. A cidade, perdida no meio da floresta amazônica, tem cem mil habitantes, ruas asfaltadas, hospital aparelhado, escolas com laboratório de idiomas e centros de informática, no próximo ano terão uma Universidade. O interessante é que foi a própria comunidade que fez tudo isso, apesar de estarem a longa distância do que usualmente chamamos civilização.
Fui fazer uma palestra nessa cidade, num evento organizado por todas as entidades associativas, que reuniu mil e quinhentas pessoas. Em Redenção ninguém pergunta se pode, todo mundo faz. Ninguém espera que o governo resolva, a própria comunidade se autogestiona. É uma verdadeira democracia grega em plena floresta tropical. Aprendi com eles que o poder está onde está a ação. É assim que os empreendedores estão construindo o novo Brasil.
O mais interessante a destacar é que 80% da comunidade é formada por migrantes que vinham de uma história de fracasso, falências e dificuldades. Mas sem se acovardar com o tamanho do desafio arregaçaram as mangas e construíram a cidade que sonhavam. Redenção tem apenas dezesseis anos, mas seu progresso se equivale ao de muitas cidades centenárias de outras regiões brasileiras. O impossível é cada vez mais realizado mundo afora. E como disse um dos empreendedores que lá encontrei, já tendo passado por uma triste falência, matutava de forma sábia: "Meu fracasso foi só um ensaio para o sucesso, se não tivesse passado por isso e aprendido o que aprendi, jamais poderia alcançar o resultado que estou vivendo." Esta é a verdadeira lição do fracasso.