por Samanta Obadia
Eu fui assistir à Nabuco, uma excelente ópera no teatro municipal. Exímia obra de arte, do início ao fim, em cada uma de suas instâncias.
Vozes incrivelmente afinadas ao lado de músicos impecavelmente competentes. Uma orquestra de primeira linha.
Três horas de espetáculo e uma história clássica em pleno século XXI. Todos os espectadores aplaudiram vigorosamente ao final de cada ato, mas ainda que a admirassem, percebi durante a ópera, movimentos de impaciência e tédio.
Observar uma obra de arte ainda é um movimento particular para poucos, visto que toda obra carrega em si o seu tempo de preparo. E isso é o que a dignifica.
A honra e o respeito que adquirimos em nossas vidas provêm dos inúmeros passos que damos e da densidade que eles têm no peso que incidem sobre a Terra.
A composição de uma obra também carrega sua dignidade no tempo que levou para se constituir como um fim, no trabalho incondicional dos artistas que se doam, na maioria das vezes, sem retorno algum.
Observar uma obra sem essa consciência, a diminui. Por isso, contemplar a arte é um exercício paciente de quem cria olhos para vê-la. É preciso preparar o espírito e a sensibilidade para receber a ‘obra em si’, admirando-a em seu conjunto, estando nela.
Partilhar desta experiência estética é um movimento de estranha beleza, onde podemos vislumbrar nas vezes e nos sons dos instrumentos tocados, a energia sensível da natureza humana, que quando transcende, atinge de maneira magnífica o que há de divino em nós.