por Ceres Alves Araujo
Pais são os modelos primários de identidade para as crianças. São as pessoas reais que lhes dão continência, proteção, segurança e amor e que, como consequência, geralmente se tornam idealizadas como fortes, poderosas, sábias durante toda a infância.
Na adolescência ocorre o processo de desidealização dos pais. Isso é necessário para que o jovem ganhe a autonomia e a independência esperadas de seus pais. Porém, para os pequenos, pai e mãe devem ser figuras de autoridade, figuras a serem respeitadas e comumente imitadas.
No nosso país e em muitos outros, é frequente que os filhos assumam o time de futebol de seus pais. Muitas vezes a escolha nem é feita pela criança, pois ela, desde recém-nascida é recrutada para determinada agremiação de futebol. Basta lembrar os enfeites das portas dos quartos das maternidades: camisetas, uniformes, chuteiras… Ao crescer, a criança passa a ter a sensação de pertença a um grupo maior que o familiar, o time do futebol. Outros grupos se apresentam, o grupo da escola, do clube etc. É essa pertença a grupos que delineia as características da identidade da criança que vai se formando.
Na nossa sociedade, a filiação a partidos políticos fica mais restrita. Apenas na época das eleições os filhos descobrem em quais candidatos os pais votarão, algumas vezes candidatos de um mesmo partido político, outras vezes de partidos diferentes. As crianças tendem a endossar as preferências de seus pais, interessando-se pelos candidatos e vivendo, a seu modo, o clima eleitoral.
No dia das eleições, muitos filhos acompanham seus pais aos lugares de votação e podem até irem vestidas com as cores da campanha do candidato dos pais. Porém, ultimamente têm participado com alguma frequência, de manifestações, passeatas ou outros acontecimentos desse tipo. Qual o significado implícito? Está se criando uma geração que pode ser politizada? São crianças que estão sendo despertadas para a cidadania? Ou são filhos que, nas manifestações, apenas acompanham a família num programa festivo?
Ainda que não se tenham, no momento, respostas corretas para essas questões, é importante perceber que o interesse das crianças foi despertado. Por que não aproveitá-lo? Somos um país onde não existe, infelizmente, um projeto de nação. Os partidos políticos, na atualidade, tendem ser ligados a uma ideologia que nem sempre é pragmática ou sociologicamente viável, sendo que os líderes partidários não se sintonizam com as necessidades do povo, buscando, ao contrário, satisfazer as necessidades pessoais ou as do partido, crendo que todos os meios possam ser justificados por finalidades ideológicas, interpretadas pessoalmente.
Quanto mais as crianças forem aculturadas por seus pais, no sentido de serem despertadas desde cedo para a política do País, mas elas poderão, no futuro, contribuir como cidadãos para o Brasil. Isso é bom para elas, bom para a democracia e bom para a nação.
Quem sabe chegue o dia, no qual a filiação partidária seja tão importante quanto à filiação à agremiação esportiva e que, desde bem jovens, os cidadãos cobrem de seu partido e de seus candidatos uma postura coerente, justa e honesta frente às decisões que possam orientar os rumos do País.