por Gilberto Coutinho
As antigas ciências da Índia e da cultura dos grandes eruditos e sábios Yogues mencionam a criação de vários Dárshanas (escolas filosóficas ou doutrinárias).
Os antigos sistemas filosóficos da Índia são, portanto, classificados em dois grandes grupos:
Grupo – I) Ástika Dárshana – seis escolas clássicas de pensamento, autorizadas ou reconhecidas devido a suas bases sólidas de raciocínio e prática: Yoga (união, escola codificada por Patanjali); Sâmkhya (enumeração, trata da classificação detalhada dos vários princípios da existência); Nyâya (regra, trata da lógica e da dialética crítica); Vaishêshika (distinção, trata das categorias da existência material); Mîmânsâ (investigação, trata da explanação do ritualismo védico e de suas aplicações morais) e Vedânta (ensina que a "realidade" é não dual).
Grupo – II) Nástika Dárshana – três escolas não clássicas, mas que possuem grande influência. Encontram-se aqui as escolas de Buddha, Jaina (escola filosófica que precedeu ao Budismo Indiano) e Cháraka (escola filosófica e de Medicina de Shri Cháraka Sêsha).
O termo "nástika", em sânscrito (antiga língua sagrada indo-ariana da civilização brâmane), significa, literalmente, "aquele que não adora e nem reconhece deuses e ídolos", ao contrário de "ástika", que significa "o conhecimento de todas as coisas divinas".
Siddhârtha Gautama (entre 563 e 483 ªC), do clã dos Shakyas, fundador do Budismo, que alcançou a "iluminação" aos trinta e cinco anos de idade, durante sua busca pela "iluminação", certamente, estudara os ensinamentos desses antigos sistemas filosóficos da Índia. Sabe-se que ele estudou com dois mestres, Ârâda Kâlâpa e Rudraka Râmaputra, que, provavelmente, ensinaram-lhe a ciência e a filosofia do Yoga.
O significado do termo sûtra
Na literatura da Índia, sûtra, em sânscrito, significa "fio ou linha", frase de caráter sentencioso que encerra, de modo conciso e sábio, um pensamento, uma advertência ou, ainda, uma obra aforística, como o Yoga-Sûtra do sábio Patanjali (autor dos importantes textos do Yoga Clássico. Provavelmente, ele tenha vivido na Índia no século II d.C, entre 150 e 200.
O "Sûtra da Flor de Lótus" que, em sânscrito, chama-se "Sad-dharma Pundarika Sûtra", é um dos mais importantes textos do Budismo Mahâyâna, considerado por muitos eruditos, sábios e yogues como uma jóia de imensurável valor. É o segundo de três sûtras. O tratado completo é conhecido como "O Sûtra das Três Faces da Flor de Lótus", composto por "O Sûtra dos Inumeráveis Significados", "O Sûtra da Flor de Lótus da Lei Maravilhosa" e "O Sûtra da Meditação das Virtudes Universais do Bodhisattva".
Correntes do Budismo
No decorrer da história do Budismo na Índia, surgiram duas principais correntes de pensamento: Mâhayâna e Theravada (ou Hînayâna). O termo Mahâyâna significa "grande veículo" ou "grande meio de progressão"; é o maior ramo do Budismo, que tem como núcleo filosófico o ideal do bodhisattva e os ensinamentos sobre o "vazio" (shûnya ou shûnyatâ). O Budismo Mâhayâna espalhou-se pelo Tibete, China, Coréia, Japão etc., enquanto o Budismo Theravada (pequeno veículo) difundiu-se por Burma, Sri Lanka (Ceilão), Tailândia etc. O Mâhayâna é mais metafísico (transcendente) do que o budismo hînayâna.
O Theravada ou Hînayâna é uma escola minoritária do Budismo, que gira em torno do ideal do arhat e não do bodhisattva. "Thera" significa "anciãos". É a escola dos patriarcas anciãos que, historicamente, eram monges conservadores que pregavam uma rígida lealdade aos preceitos budistas, opondo-se aos monges cujas ideias formaram o pensamento do Budismo Mâhayâna.
O que distingue os ensinamentos do Budismo Mâhayâna é a convicção de que todos os seres podem alcançar o estágio de "iluminação" ou de libertação (bodhi). Esse pensamento contrasta com as opiniões do Budismo Theravada, que acredita que a "iluminação" só pode ser alcançada por seletos e poucos estudantes, eruditos, yogues e monges. Pelo fato de o Budismo Mahâyâna dedicar-se ao ideal de algum dia todos os seres vivos alcançarem o estado de Buddha ("desperto"), é que, então, é chamado de "O Grande Veículo".
O significado do termo bodhisattva
No Budismo Mâhayâna, o termo (bodhi, "iluminação", sattva, "ser"; ser da iluminação) é aplicado a uma pessoa que se empenha para alcançar a "iluminação" e que, por sua grande compaixão e opção, escolheu adiar sua ascensão ao nirvâna ("a perfeita tranquilidade", "extinção do ciclo de nascimento e morte", no Budismo, a transcendência do eu egóico, no contexto hindu, o termo é utilizado, na maioria das vezes, como sinônimo de "libertação"), com o objetivo de ajudar e ensinar aos outros o caminho da sabedoria e libertação (moksha).
Originalmente, esse termo foi empregado para se referir a Gautama Siddharta, quando ele ainda não havia alcançado o estado de iluminação. Depois, com o surgimento do Budismo Mâhayâna, o termo passou a designar todos aqueles que se esforçam em atingir o estado de um Buddha ou de Prajnâ (a mais apurada e iluminada sabedoria que em muito se diferencia da ordinária inteligência humana).
O "Sutra da Flor de Lótus" foi escrito originalmente em sânscrito e traduzido muitas vezes para o chinês, entre os séculos III e V d.C. e, posteriormente, para o japonês. A mais importante dessas traduções foi feita por Kumarajiva, morto no princípio do século V d.C..
O mantra mais famoso do Budismo
Assim como no Yoga, no Budismo, a repetição de Mantras é muito importante. Buddha, estudou e praticou profundamente os ensinamentos libertadores do Yoga. Os mantras budistas, muitas vezes, evocam a energia e a proteção de um Buddha ou Bodhisattva. Mantra é todo som "sagrado", que pode ou não ter um significado explícito, mas que dá à mente o poder de concentrar-se e transcender os estados comuns da consciência.
O mantra Mani: "Om Mani Padme Hum", originário da Índia, associado ao bodhisattva da compaixão (Avalokiteshvara), é um dos mantras mais conhecidos pelos yogues e usados no Budismo; contém a essência de todos conhecimentos de Buddha e encontra-se disponível a todas pessoas que se sentem inspiradas a recitá-lo durante a meditação, pois não requer uma prévia iniciação.
Muitos budistas acreditam que esse mantra não pode ser traduzido numa única frase ou sequer em poucas sentenças. O "OM" simboliza a presença de todos os Buddhas e ajuda a alcançar a perfeição no exercício da generosidade; "MA" ajuda a atingir a ética; "NI", a alcançar a perfeição na prática da tolerância e da paciência; "PAD", na prática da perseverança; "ME", na prática da concentração; e "HUM", na perfeita prática da sabedoria. A palavra sânscrita "MANI" significa jóia e simboliza a compaixão; "PADME", flor de lótus, a flor que não se contamina com as impurezas do lago (vida); e "HUM" representa a mente iluminada.
No Tibete, sua pronúncia foi modificada pelo fato de ser difícil a pronúncia de alguns fonemas da língua sânscrita indiana pelos tibetanos, ficando: "Om Mani Peme Hung".
No meio do século XIII, um monge japonês, de nome Nichiren, fundou uma seita ou uma escola de Budismo chamada Hokkekyo-shu (seita do Sûtra da Flor do Dharma), baseada nos ensinamentos do "Sûtra da Flor de Lótus". No entanto, seus ensinamentos foram muito contestados por ter ele excluído todas as outras práticas budistas, com exceção os ensinamentos contidos no "Sûtra da Flor de Lótus".
O segundo capítulo do "Sûtra da Flor de Lótus" afirma que o texto contém a essência mais elevada do Dharma ("suporte", lei, ensinamento, doutrina). Por tal razão, Nicheren acreditava que todas as outras práticas do Budismo eram desnecessárias e que seus ensinamentos continham os mais elevados ensinamentos de Buddha a respeito da "iluminação".
Nichiren definiu a essência de seus ensinamentos como: Nam-myohô-rengê-kyô. Por tal razão, hoje, muitos monges budistas cantam "Nam-myohô-rengê-kyô". A tradução literal reflete os ensinamentos de Buddha: NAM significa devoção; MYOHÔ, lei mística; RENGÊ, causa e efeito; e KYÔ, os ensinamentos libertadores de Buddha.
Para muitos seguidores budistas, essa frase ou mantra em japonês expressa a mais elevada verdade da vida e do universo. Acredita-se que, com a observação e a vivência dos ensinamentos de Buddha no diário viver, aliadas à prática de meditação regular com a recitação desse mantra, o praticante possa experimentar em sua vida uma profunda transformação, sabedoria, energia, saúde, confiança, superar os problemas, alcançar a paz de espírito (a tranquilidade interior) e a "iluminação"