por Dulce Magalhães
Todo mundo sabe que uma coisa é uma coisa e que outra coisa é outra coisa bem diferente. O problema se estabelece quando alguém se confunde e pensa que uma coisa e outra coisa são a mesma coisa.
Confuso? Nem tanto, basta entender como nossa percepção cria ilusões sem fim. Nós não vemos as coisas como elas são, mas como nós somos. Costumamos confundir fatos com nossas próprias percepções e fazemos o julgamento do mundo pela nossa visão restrita da realidade.
Quando uma coisa é uma coisa, como uma crítica, por exemplo, não deverá ser vista como algo além disso. Pode ser ferina, honesta, maldosa, construtiva etc, mas é apenas uma crítica, não uma definição da pessoa, nem mesmo uma síntese da verdade. Outra coisa é imaginar que a crítica pode definir ou rotular alguém e estabelecer um limite ou uma condição de funcionamento. Isto já é outra coisa e não se pode confundir uma coisa com outra.
Vemos o mundo através dos véus da ilusão que nossos modelos mentais nos dão. Definimos interiormente o que é prosperidade, sucesso, realização, solução, problema, enfim, tudo que diz respeito à vida, e passamos a agir de acordo com esses padrões internos considerando-os como verdades absolutas.
Aprendizagem: agir de forma mais livre
Até que em algum momento vivemos novas experiências que ampliam ou modificam aquela primeira perspectiva e então podemos agir de forma mais livre, e é a isso que chamamos aprendizagem. Aprender é levantar os véus ilusórios da realidade e vivenciar experiências que possibilitem novos referenciais de mundo. Em outras palavras aprender é ampliar consciência.
Outra confusão que não se deve fazer é entre estudo e aprendizagem. Estudar é se dedicar ao entendimento ou memorização de um determinado tema. Aprender é internalizar o conhecimento transformando-o em um comportamento. Nem sempre se consegue aprender estudando, assim como estudar não é o único caminho da aprendizagem.
Na escola passamos anos estudando, mas quanto realmente aprendemos? Vivemos num emaranhado ilusório, onde conceitos e "pré-conceitos" norteiam a maioria de nossas decisões, sem que tenhamos testado na vida prática. É desta forma que definimos que algo não é possível, que não vai funcionar, que não está ao nosso alcance, ou vice-versa, apenas pela suposição sem experimentação.
Sofremos de um medo visceral do fracasso. Temos receio de nos expor ao ridículo, de falhar, de errar, enfim de tudo que possa ser considerado um fracasso. Por que será que tememos tanto isso? Esse é um dos padrões aprendidos na infância e reforçados ao longo da vida, um espesso véu de ilusão, que nos reprime na tentativa pelo medo do erro.
Uma questão que merece nossa consideração para rever esse padrão é se perguntar se acertaremos em 100% de tudo que fizermos no futuro. Se a resposta é Não, então não há sentido em não se arriscar naquilo que sonha ou busca, porque mesmo sem esse risco, ainda assim vamos errar em algumas das escolhas e ações que empreendermos.
Vamos refletir: se a gente vai errar mesmo fazendo o que não gosta, dentro de obrigações que não nos satisfazem, e em rotinas aborrecidas e restritas, então por que não fazer o que se gosta? Nossa existência é uma curta passagem de tempo, não importando quantos anos se viva. Sendo assim, não podemos desperdiçar precioso tempo limitando nossa prática.
Ganhar, perder, errar, acertar, tudo isso é apenas ilusão, situações transitórias numa realidade fugaz. Vivemos tudo isso apenas para aprender mais sobre nós mesmos, o que queremos e quem somos, nada é para ter, guardar, perder, tudo é apenas para aprender. Entretanto vivemos a ilusão da posse e até guerreamos por ela, vivemos a ilusão do acúmulo e já sabemos que não poderemos carregar nada para além desta existência.
Confundimos ter com viver e passamos boa parte de nossa vida numa busca incessante por obter mais e mais, uma casa, depois uma casa melhor, maior, um carro, depois um mais confortável ou luxuoso, mais roupas, sapatos, livros, diplomas, contatos superficiais, bugigangas que não temos nem lugar para pôr; então compramos outra casa, no campo ou na praia, para onde vamos enviar tudo aquilo que não conseguimos mais encaixar em nossa estrutura.
É tanta busca fora, tantas aspirações ilusórias, que nos esquecemos de olhar para nós mesmos e nos perguntar o que é mais importante. Perceber que não há objeto que possa substituir a sensação e o sentimento de verdadeira vida.