por Karina Simões
Meu consultório é um laboratório maravilhoso de ideias. Recentemente, comecei a observar uma demanda frequente não só em minha prática clínica, mas também na mídia, de uma forma geral, de queixas de pacientes acerca de uma prática destrutiva em sua relação conjugal.
Trata-se de caso de parceiro que sufoca o outro fazendo certa "pressão" psicológica por inúmeros motivos, e esse cônjuge não se dá conta que esse caminho conduz à construção de uma relação impiedosa.
A intenção parece ser o controle sobre o outro, numa tentativa de mantê-lo perto o(a) parceiro(a).
Consequências do controle sobre o outro no relacionamento
Ao contrário, essa atitude acarreta, cada vez mais, um distanciamento entre o casal levando a vários fatores que geram desgaste, como:
– Quebra da cumplicidade;
– Desconfiança aguçada por uma das partes;
– Ruptura do diálogo franco;
– Instalação de um quadro onde a transparência de atos não mais está presente;
– Sigilo de informações cotidianas;
– Não compartilhamento do dia a dia;
Enfim, o esfacelamento do relacionamento. Esse panorama é originado tendo por base a insegurança do cônjuge.
É notório ressaltar que uma relação conjugal só se sustenta com facilidade, se fundamentada no diálogo aberto, sincero e, consequentemente, na presença de um canal de comunicação livre de críticas destrutivas, de notas de repúdio e de vigilância em qualquer de suas formas. É importante diferenciar o compartilhamento de desejos e de vida com a necessidade de controlar o outro.
Pacientes me revelam que o cônjuge exerce continuamente certo domínio sobre eles almejando o controle com perguntas típicas como:
– Onde você foi?
– A que horas volta?
– Com quem estava?
– Telefone-me ao chegar ao trabalho ou envie-me uma foto pelo WhatsApp.
– Por que não postou no facebook? etc.
São práticas visíveis que denotam a autoridade de um sobre o outro.
Sintomas do controle exacerbado sobre o outro
Esses mecanismos de controle exacerbados acarretam, ao longo do tempo, sintomas psicológicos e físicos, tais como:
– Medo de estar fazendo algo errado;
– Ansiedade elevada;
– Taquicardia;
– Alterações no sono e no apetite;
– Sensação de culpa constante;
– Ficar hipervigilante, entre outros.
Costumo explanar que uma relação saudável fundamenta-se não sob esse prisma, mas sim pela cumplicidade, pela troca espontânea, pela partilha despojada, pelo desejo de revelar ao outro as atividades rotineiras ou não do seu dia.
Ressalto que nenhuma relação se sustenta sob o manto da opressão e da vigilância, pois é na liberdade de poder ser quem somos, e de permitir o outro ser e vir a crescer, na sua plenitude, que o amor – na sua essência maior – se revela: livre, espontâneo, puro e, portanto, verdadeiro.
Amor e liberdade não são sinônimos no dicionário, mas estão intimamente ligados na prática da vida.
O amor só floresce num ambiente livre de opressão!