por Luís César Ebraico
Freud dizia que a Psicanálise não era uma Weltanschauung, leia-se, uma visão do mundo. Essa afirmação precisa ser qualificada. Mal entendida, pode parecer que a Psicanálise não se fundamenta em nenhum tipo de Filosofia. Fundamenta-se, sim. E um dos trabalhos da visão loganalítica da Psicanálise é demonstrar isso. A Psicanálise tem três grandes pilares filosóficos que – além de por Nietzsche – foram claramente enunciados por três grandes filósofos brasileiros, nomeadamente:
Primeiro princípio: "Quem não se comunica, se trumbica" (filósofo brasileiro responsável: José Abelardo Barbosa de Medeiros, vulgo Chacrinha);
Segundo princípio: "Eu é eu e o sinhorr é o sinhorr" (filósofo – note-se, "filósofo", não "gramático"! – brasileiro responsável: Nerso da Capitinga, distinto colaborador, não da Academia Brasileira de Letras, mas da Escolinha do Professor Raimundo);
Terceiro princípio: "Faish partshi", normalmente grafado "faz parte" (filósofo brasileiro responsável: o Bambam, do Big Brother, que teve uma menor longevidade do que os anteriores em nosso cenário intelectual; note-se que também era só filósofo, não era gramático).
Pois bem, é a aplicação dos três princípios expostos acima que nos permite construir diálogos saudáveis. Voltaremos várias vezes a esses princípios, exemplificando seu emprego, em diálogos específicos, alguns, como os abaixo, inspirados em e-mails que me têm sido enviados por leitores desta coluna.
PEDRO (com Maria, em um supermercado): – Podemos levar maionese, se você quiser.
MARIA: – Não sei se eu quero maionese.
PEDRO: – Mas, se você quiser, podemos levar. Você quer?
MARIA: – Já disse que não sei. Você quer?
PEDRO: – Eu estou perguntando se você quer.
MARIA: – Já disse que não sei! Você quer?
PEDRO: – Eu perguntei se VOCÊ queria maionese.
MARIA: – Eu ouvi perfeitamente você me perguntar sobre se EU queria maionese e lhe respondi que EU NÃO SEI SE QUERO MAIONESE. Então vou acrescentar o seguinte: não estou pensando em maionese, não quero pensar sobre maionese, se VOCÊ quiser levar maionese, VOCÊ leva a maldita maionese e se não quiser deixa a maldita maionese aqui. Aliás, acabei de chegar à conclusão de que EU odeio maionese, de que nunca mais vou comer maionese, nem conversar com pessoas que FALAM SOBRE MAIONESE! Está claro assim?
E Pedro, que não conseguiu assumir que ELE estava querendo levar a maionese, deixou-a no supermercado. A aplicação do princípio "eu é eu e o sinhorr é o sinhorr" teria poupado tal dissabor. Em tempo: "disSABOR", aqui, significa mais do que FALTA DE MAIONESE.
Esta coluna se propõe a relatar experiências sobre o poder da palavra em nossas vidas. Aqui serão relatados dezenas de fragmentos de diálogo – reais ou fictícios – segundo os pontos de vista da Loganálise, mostrando onde e como esses diálogos apresentam elementos favoráveis ou desfavoráveis ao estabelecimento de uma comunicação sadia. *A Loganálise é um filhote da Psicanálise: pretende mostrar como o cidadão comum, em seu dia-a-dia, pode tirar proveito de conceitos como repressão, fixação, trauma e outros para promover sua própria saúde psicológica e a daqueles com quem se relaciona.