Não é incomum que as pessoas procurem ajuda para superarem as dificuldades que enfrentam na vida. Esse é um tipo de comportamento universal e, a despeito das características de cada sociedade, cada um procura lançar mão dos mecanismos existentes para livrar-se de seus problemas. O que parece caracterizar a estratégia atual de como resolvemos nossos problemas é o fato de que buscamos auxílio para descobrir como nós mesmos podemos nos ajudar.
Na verdade, enfrentamos as dificuldades acreditando que há um modo exclusivamente pessoal de resolvê-las. Então, todo auxílio que podemos obter é, na verdade, uma indicação da maneira como podemos nos posicionar para resolver qualquer coisa que nos aflige. Com isso, estamos afirmando que todos os nossos problemas podem ser resolvidos com uma correta tomada de posição de nossa parte. Nada no mundo pode se apresentar como um obstáculo real se estivermos corretamente orientados internamente. Tudo, mais cedo ou mais tarde, pode se resolver se orientarmos bem nossa vontade. Por isso, a noção de autoajuda faz tanto sentido na nossa sociedade.
E os obstáculos insuperáveis?
Também não é por acaso que aquelas dificuldades realmente decisivas, aquelas que efetivamente se colocam como obstáculos insuperáveis em nosso mundo, dizem respeito à incapacidade dos indivíduos de se manterem na posição de controle de sua própria vida. Afinal, se compreendemos que tudo pode ser resolvido com uma postura decidida e forte de nossa parte, não é absurdo que as verdadeiras dificuldades atinjam justamente essa capacidade de manter-se no leme de sua própria vida. Se a questão se resume a termos controle sobre nós mesmos, a ter uma correta disposição, então o que pode ser mais ameaçador do que ter um ego frágil? Certamente nada.
Quando o ambiente cultural sintetiza as virtudes, também sintetiza fraquezas e patologias. Quando somos instados a sermos inteiramente responsáveis por nós mesmos é justamente aí que se abate sobre nós aquele tipo de fragilidade que torna nosso ego frágil e incapaz de segurar o leme de nossa vida. Por isso, não só a disposição de resolver dificuldades por meio de processos de autoajuda faz sentido. Da mesma forma, também é esperado que as verdadeiras dificuldades que enfrentamos – aquelas que nenhum processo de autoajuda pode revolver – atinja a própria disposição do ego para possuir a energia necessária para sair do lugar. Se há algo que o ego não parece poder alavancar é a própria disposição para sair do lugar, aquele impulso básico para mover-se e colocar-se em marcha – mesmo que seja para adotar a postura correta indicada por algum procedimento de autoajuda.
Por que a autossuficiência possui uma limitação óbvia?
A partir disso, a questão que, entendo, deveria começar a nos ocupar é a de avaliar se a solidão do ego não necessita ser superada. A noção de autossuficiência, típica da cultura da autoajuda, possui uma limitação óbvia: o ego não pode colocar-se de pé sem o apoio de algum valor que não seja ele mesmo. A evidência disso se nota justamente quando ele está desinflado, destituído de energia, incapaz de colocar-se em movimento e tomar alguma direção. Fica claro que nessa situação um ego isolado nada pode fazer por si mesmo, porque nele não há apoio interior, não há um reduto interno que garanta que ele subsista por si mesmo. Será que no fundo, no fundo, o ego não repousa sobre nada? Não seria necessário que, em último caso, ele procure ajuda em algo que não seja ele mesmo? Pode o ego erguer-se indefinidamente pelos cabelos?