Até onde ir com as palavras para não magoar o outro?

Uma lenda antiga diz que um rei, homem com justificada fama de poderoso, cruel e autoritário, convocou os adivinhos mais famosos de seu reino para que lessem seu futuro.

Palavras do primeiro adivinho

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Chegou o primeiro, e se assustou ao perceber que a morte do consulente se aproximava, não conseguiu disfarçar a má notícia:

Imperador, com tristeza vos comunico que seu fim está próximo. Furioso, o rei mando que soldados o tirassem dali e expulsassem do reino aquele “urubu agourento, invejoso e maledicente”.

Palavras do segundo adivinho

Veio o segundo, e sem nada saber de sua própria sorte, mas prevendo a do rei, lhe disse, muito sem jeito, que seu reinado estava quase no fim, que a vida do rei seria breve.  Foi a gota d’água, este adivinho teve sorte pior e foi jogado nas masmorras, para testemunhar a longa vida do rei. Resoluto, o rapaz tinha certeza de que logo seria libertado da prisão se os ratos não lhe infectassem antes…

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Palavras do terceiro adivinho

O terceiro adivinho, dotado de clarividência e outros dons, chegou ate o rei com toda a disposição de falar a verdade, mas temia pelo seu destino. Previu a morte, e mordeu a própria língua. Foi reverente, gentil e sorriu: “Que vida rica foi destinada ao nosso rei, muitos desafios superados com sucesso, conquistas de toda sorte, inimigos dominados e assim, em breve, todos os desafios ruins desaparecerão de seu horizonte. Caberá ao rei muita paz, sossego, e seu reino vai prosperar como nunca, os súditos sempre mantendo em mente que as mudanças estão relacionadas aos seus feitos, eternizados na história”.

Claro que na mente do adivinho as palavras que teria dito seriam: “Em breve o senhor morrerá e com isso o reino ganhará um rumo melhor, e o povo irá respirar aliviado porque suas crueldades não mais se repetirão, o senhor ficará marcado na história de seu povo como rei João XXVII, o Cruel. E por mim, o sono eterno do senhor será nas brasas do inferno, lugar ao qual o senhor, com justiça, pertencerá”.

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E assim o terceiro adivinho escapou de ser jogado como alimento aos leões do zoológico particular do rei. Disse a verdade, mas em palavras que o ouvinte aguentasse ouvir. Essa habilidade é muito importante nas relações humanas, seja porque queremos cuidar dos sentimentos e limites emocionais do nosso ouvinte ou porque precisamos preservar a nós mesmos num relacionamento interpessoal no mundo corporativo, das relações amorosas, na família ou outros contextos.

“Sincericídio”

Ser autêntico pode, algumas vezes, ser confundido com expressar agressividade, ou não ter consideração pelo interlocutor. O “sincericídio”, falar tudo que vem à mente, sem filtro algum, sem avaliar consequências, pode prejudicar o falante e não contribuir para um dado relacionamento.

Vamos prezar a honestidade e a transparência nas relações humanas, dosando nossas palavras com carinho e cautela.