por Renato Miranda
No artigo anterior (clique aqui), o primeiro de uma série de três sobre as metas reais e irreais no esporte, expliquei por que talento e potencial psicofísico não bastam para consagrar-se no esporte. Neste mostrarei como avaliar a dimensão de destaque (local, regional, nacional, internacional) que um garoto talentoso poderá atingir.
Certa vez, estava em um ginásio de uma cidade do interior ao lado de pais dos atletas locais de voleibol. Durante a entrada na quadra todos eles (os atletas) por volta dos 16 anos, chamavam a atenção pela alta estatura, eram considerados verdadeiros gigantes. No entanto, quando a equipe da capital entrou em quadra, aqueles gigantes voltaram a ser considerados pessoas “normais”.
Quando um (a) garoto (a) começa a ter bons resultados esportivos, não é aconselhável fazer previsões ou planos concretos em longo prazo e ter expectativas exageradas. Basta uma lesão grave em um treino, uma experiência marcante qualquer (frustrações em seqüência, uma namorada (o) que não gosta de esporte, um despertar para uma outra atividade e sem falar nos fenômenos negativos do estresse no treinamento, como o overtraining e o burnout, que podem ocorrer por um motivo ou outro), para mudar todo o curso daquilo que foi pretensamente planejado, ou simplesmente nada daquilo que foi esperado acontecer.
Não é só no esporte que os possíveis talentos podem se destacar desde cedo; na música, artes plásticas, literatura e outros. No entanto, é oportuno admitir a dimensão do destaque desse talento (se é local, regional, nacional ou internacional) e também levar em conta que este (a) jovem promissor (a) possivelmente não está só, há de existirem muitos outros jovens brilhantes espalhados por esse mundo afora.
Em uma ocasião, estava reunido com um pai de um tenista de 14 anos de idade e muito promissor. Era minha primeira conversa com o pai do garoto que naquele instante não estava presente por motivos óbvios. As características psicofísicas e os resultados regionais enchiam os olhos de muita gente, a ponto de, preverem que ele seria o novo fenômeno do tênis nacional em um futuro não muito distante. Dessa forma, o objetivo era alcançar o profissionalismo em nível internacional.
Foi aí então que, sinceramente, despertei o pai do garoto para a realidade. Perguntei a ele quantos garotos na idade do filho, disputavam com ele o ranking nacional. Ele afirmou que ele era o décimo do Brasil em sua faixa etária, mas era o mais novo de todos. A partir daí, pedi que fizesse, embora em uma previsão grosseira, quantos garotos poderiam existir em mesmas ou melhores condições na Argentina, Chile, Estados Unidos, Espanha, França, Alemanha, Europa Oriental, Rússia e Austrália, só para sintetizarmos o número de países de destaque no tênis mundial. Quando chegamos por volta de 700 atletas, paramos a contagem. Foi aí que o pai “caiu” na real e percebeu o quão distantes estávamos de tal meta.
É claro que podemos conhecer um (a) jovem com potencial atlético internacional e acreditar que o sonho de se tornar uma referência esportiva é possível, a questão é que quando acreditamos por nós mesmos, sem fazermos as devidas avaliações da realidade, comparar rendimentos esportivos com outros atletas e, portanto, não sabemos ao certo qual caminho a trilhar e só enxergamos o objetivo sonhado acabamos simplesmente sonhando acordados.
É preciso então, além das condições de infra-estrutura básica para a prática do esporte, reconhecer a realidade, definir uma trilha coerente com o objetivo a seguir e focar esforços e objetivos preliminares (curto e médio prazos) para que deixemos que as coisas aconteçam em um curso natural.
Chamo de curso natural as vivências da rotina de treinamentos, competições e a formação de uma mente disciplinada e motivada para as exigências do esporte conforme o passar dos anos. Assim, saberemos se talento e índole atléticos pertencem concretamente à vida do (a) adolescente.
Treinar com satisfação, intensamente, viver cada dia e superar cada desafio com alegria e persistência, esses são alguns dos fatores que levam os (as) atletas vislumbrarem alguma chance internacional.