por Lilian Graziano
Até que ponto nossas ações são capazes de exprimir quem verdadeiramente somos?
A pergunta vale para tudo o que fazemos, para cada papel que desempenhamos em cada uma de nossas funções sociais.
Dia desses, ministrava um treinamento de liderança no qual falávamos sobre valores e sua importância na gestão.
Após uma breve introdução teórica, convidei os participantes a refletir sobre quais seriam os três principais valores que norteavam suas vidas. Com uma certa dificuldade (e a partir de uma lista de valores que dei como exemplo), as pessoas foram timidamente definindo seus valores essenciais sobre os quais, confessaram, jamais tinham refletido até então. Mas a verdadeira dificuldade do exercício ainda estava por vir.
Numa segunda parte, convidei os participantes a listar os comportamentos concretos que deveriam ter junto à sua equipe para que essa fosse capaz de perceber quais seriam os valores de cada gestor. Seria algo como convidá-los a uma reflexão do tipo: “Na prática, o que devo fazer para que meus subordinados percebam que a justiça é para mim um valor essencial?”.
Estava armada a confusão. O público parecia surpreso ao perceber que seus subordinados não identificariam seus valores de maneira automática. Nesse momento, lancei mão de um ditado que muito aprecio e que diz: “À mulher de César não basta ser honesta. Ela tem que parecer honesta”. Foi somente então que as pessoas se deram conta de que, talvez, suas ações não estivessem em sintonia com seus “eus” verdadeiros.
Isso sugere que talvez seja importante guardarmos as máscaras que não correspondem à nossa essência, em nossa convivência diária. Lógico que, diariamente, seguimos regras de convivência impostas pela sociedade (e isso é bem marcado nas corporações). Mas é preciso filtrar o que disso faz sentido para nós, o que tem a ver, de fato, com nossa essência, o que nos permite ser autênticos.
Não à toa, a Psicologia Positiva resgata a importância da autenticidade, na medida em que a descreve como uma das 24 forças pessoais – veja aqui. Em linhas gerais, a força pessoal chamada autenticidade (especificamente chamada de integridade/autenticidade/honestidade) corresponde à característica daquele que diz a verdade e vive de maneira genuína e autêntica. E é justamente nesse sentido que o autoconhecimento adquire importância ímpar.
Afinal, os valores que reproduzo por meio de minhas ações estariam compatíveis com a minha verdadeira essência? Seria eu aquela que acredito ser? Seria eu uma pessoa autêntica?
Para resgatar a importância do autoconhecimento, vale lembrar que Sócrates dizia ser um bárbaro o homem desconhecido de si mesmo (nesse sentido, seria lícito dizer que, nos tempos atuais, vivemos na barbárie, sem tempo para o autoconhecimento). Ainda na Grécia antiga, para resgatar a importância da autenticidade, era justamente na correspondência entre essência e aparência que se fundamentava a verdadeira virtude. Aliás, é curioso notarmos que a pura demonstração de qualquer coisa que não fosse sua verdadeira essência era, pelos antigos, chamada de prostituição, numa definição bastante diferente do que vemos na modernidade para o termo.
Foi nesse ponto – o de explicar o que era prostituição para os gregos – que houve um silêncio geral na turma em treinamento.
No final, aqueles jovens gestores da aula de liderança me agradeceram por lembrá-los da importância de serem eles mesmos em qualquer circunstância e sobre a coragem necessária para sê-lo.