por Aurea Caetano
Na infância as experiências vividas pelo bebê são categorizadas e generalizadas em mapas de estados afetivos. Esses mapas podem ser traduzidos ou compreendidos, do ponto de vista neurofisiológico como redes neurais iniciais e de forma muito precoce vão se transformar no que chamamos de memória implícita.
Memórias implícita ou também chamadas “de procedimento” são prontamente adquiridas sem intenção e permanecem na mente, sem se tornar conscientes. Elas podem ser entendidas como padrões subjacentes de ser e agir, os quais, embora fora do conhecimento consciente, afetam nossa atuação no mundo.
Alguns exemplos: uma mãe calma que atende de forma cuidadosa e atenta a seu bebê, proporcionando um ambiente de confiança vai facilitar o surgimento do que os estudiosos (a partir de Bolwby) chamam de “padrão de apego seguro”.
Uma criança com esse tipo de padrão de apego vai se sentir confiante em suas relações com o mundo e suas trocas serão realizadas de forma mais tranquila. Esse é um tipo de padrão que fica “registrado” de forma implícita a partir de inúmeras vivências da relação da criança com o mundo e vão moldar suas relações ao longo da vida.
Já, em um meio ambiente inseguro, no qual não há uma constância na realização das necessidades básicas do bebê, o padrão de apego que pode ser “instalado” é o de um apego inseguro, que vai moldar a partir daí todos os padrões de relacionamento daquele bebê com o mundo.
Há misturas de padrões de apego, eles não são tão simples e uniformes como nos exemplos acima. Importante para nós pensar que na medida em que esses padrões básicos iniciais moldam os relacionamentos de um ser com o mundo, são esses mesmos padrões que serão vivenciados ao longo de toda a vida, funcionado como espécie de matriz de “maneira de estar no mundo”.
Ora, essa matriz é matéria de trabalho em psicoterapia. Em uma análise estaremos lidando com esses padrões registrados no que chamamos de memória implícita e que serão muitas vezes reeditados no relacionamento terapêutico.
Esses tipos são manifestados nos modos de ser, sentir e agir dos pacientes no consultório. Através da experiência da transferência/contratransferência, o terapeuta pode se tornar consciente da natureza do padrão de apego do paciente. Parte da tarefa do terapeuta será ajudar o paciente a explorar e se tornar consciente do seu estilo de apego e a ser capaz de olhar para o jeito que esse padrão pode ser espelhado nos seus relacionamentos atuais.
As interações que se estabelecem no consultório expressam as experiências afetivas resultantes da memória implícita inicial; tais interações ocorrem devido a um tipo de “re-experiência” afetiva que ocorre na transferência. Na relação com o analista, o paciente pode, a partir de um “meio ambiente” acolhedor, ser capaz de explorar o seu padrão de reagir ao outro, padrão esse profundamente estabelecido e formado pela experiência prévia.