por Ricardo Arida
Os benefícios da atividade física na função e estrutura cerebral em humanos têm sido cada vez mais evidentes.
Uma forte associação positiva entre condição física, uma melhora cognitiva e volume cerebral tem sido observada. Essas evidências são também observadas em pessoas idosas. Por exemplo, idosos submetidos a um programa de exercício aeróbio apresentam uma redução do declínio do volume cerebral com o envelhecimento (1,2). É bom lembrar que existe também um efeito positivo do exercício na diminuição da progressão de doenças neurológicas, assim como na recuperação de leões do sistema nervoso.
Considerando essas ações benéficas da atividade física no sistema nervoso, é importante conhecer os mecanismos que induzem essas alterações. Esses mecanismos não podem ser facilmente testados em humanos e muitos dados da literatura a esse respeito provêm de experimentos com animais. Nesse sentido, trabalhos com animais mostram que o treinamento físico aumenta o volume vascular em várias estruturas cerebrais (cerebelo, córtex motor, visual, etc.), a formação de novos neurônios, fatores de crescimento, e consequentemente a plasticidade cerebral. Entretanto, é difícil julgar ou transpor todos esses efeitos positivos do exercício físico utilizado em animais para os humanos, isto é, não está esclarecido se as alterações no sistema nervoso central induzido pelo exercício demonstrada em animais poderiam ocorrer em humanos. Para esse propósito, um estudo recente publicado na revista de grande impacto científico “Neuroscience” mostra esses efeitos em primatas – não humanos (3).
O grupo de pesquisadores desse estudo desenvolveu um modelo em macacos que correram em esteira rolante para aprimorar a condição cardiorrespiratória (similar a um programa de treinamento físico de humanos) e examinar se o exercício físico moderado proporciona ações positivas na estrutura e função cerebral.
Nesse trabalho, os pesquisadores tomaram o cuidado de padronizar variáveis como o programa de exercício e estilo de vida (dieta e exposição ao estresse) normalmente observado em humanos (fatores externos e internos observados no cotidiano). Foi mostrado que o nível de exercício para melhora da condição física em humanos idosos é suficiente para aumentar o fluxo sanguíneo cerebral (densidade vascular) e o aprendizado, pelo menos durante o período regular de exercício. A utilização de primatas nesse estudo demonstra que as alterações positivas do exercício físico no cérebro documentado em animais (roedores) podem também ocorrer em humanos. Outros estudos em primatas não humanos, onde se pode realizar análises mais invasivas para obter uma melhor visão da influência do exercício físico nas alterações morfológicas e funcionais podem ser úteis para confirmar esses efeitos.
1-Colcombe SJ, Erickson KI, Raz N, Webb AG, Cohen NJ, McAuley E, Kramer AF (2003) Aerobic ?tness reduces brain tissue loss in aging humans. J Gerontol A Biol Sci Med Sci 58:176–180.
2-Colcombe SJ, Erickson SI, Scalf PE, Kim JS, Prakash R, McAuley E, Elavsky S, Marquez DX, Hu L, Kramer AF (2006) Aerobic exercise training increases brain volume in aging humans. J Gerontol A Biol Sci Med Sci 61:1166–1170.
3- Rhyu IJ, Bytheway JA, Kohler SJ, Lange H, Lee KJ, Boklewski J, McCormick K, Williams NI, Stanton GB, Greenough WT, Cameron JL (2010). Effects of aerobic exercise training on cognitive function and cortical vascularity in monkeys. Neuroscience 167(4):1239-48