por Renato Miranda
Sobre a importância do esporte nas vidas das pessoas, vários assuntos são abordados em conversas informais, reportagens, artigos, pesquisas, palestras e estudos especializados.
Nada, porém, é tão unânime quanto o valor do esporte para inocular os jovens com relação ao uso de drogas e tudo aquilo que cerca a vida de um usuário de drogas, como por exemplo, “tirar” jovens do “mundo das drogas”.
Na semana passada em conversa com um professor de educação física escolar, que há 29 anos convive com jovens, falávamos sobre o preconceito acima.
Naturalmente, a primeira avaliação é acreditar que o esporte é uma atividade com tantos valores positivos, que a tendência é aceitar que o esporte tem esse poder.
No entanto, nós devemos ter certas restrições a respeito dessa ideia. Tal afirmação surpreende muitas pessoas, principalmente vinda de alguém que é especialista em esporte, acredita no valor do esporte e é incentivador de sua prática.
Esporte não cura dependência química
Acontece que o esporte é uma atividade que por si só não garante os benefícios que muitos de nós acreditamos possíveis de serem atingidos. Em tom provocativo, em certos momentos, eu digo exatamente o contrário. O esporte além de não inocular o uso de drogas, também não “tira” ninguém do “mundo das drogas”, muito pelo contrário, pode até mesmo apresentar e incentivar o consumo de drogas.
Esse pensar é norteado em primeiro lugar, ao considerar o doping um fenômeno tipificado no esporte. Ou seja, quando lemos ou escutamos essa palavra naturalmente o assunto é competição esportiva ou algo correlato. Portanto, nesse caso, o esporte foi motivador do uso de drogas, já que o doping está ligado ao consumo de drogas.
Por outro lado, os valores positivos do esporte não estão contidos no esporte como algo garantido intrinsecamente. Fatores ambientais como companheiros, instituição e principalmente qualidade pessoal e profissional do líder (professor, técnico, etc.), na verdade são as bases que irão consagrar os valores do esporte.
Em última análise, pais que acreditam que simplesmente inscrever os filhos no esporte já é o suficiente para garantir que os mesmos estão “protegidos” estão enganados. É preciso antes de mais nada verificar, conhecer, avaliar, etc. a qualidade pessoal e profissional do líder e a diretriz que a instituição esportiva valoriza ou segue.
Em texto anterior (sobre dicas para treinadores de jovens – clique aqui), abordei a respeito de orientação para aqueles treinadores (técnicos, professores, etc.) que querem ser bons modelos.
Os valores positivos do esporte como honestidade, confiança, espiritualidade, humildade e liberdade funcionam como base para comportamentos desejáveis no futuro de um jovem atleta, mas não é o esporte que os permite. O que permite de fato, é o esporte orientado por alguém que é bom exemplo profissional e pessoal e em lugar onde o ambiente seja saudável.
Aí sim, o esporte atinge os objetivos pretendidos. Pois, o resultado dos valores descritos acima serão comportamentos, pela ordem: de correção, coragem, harmonia, realismo, persistência e criatividade.
Enfim, o esporte pode ser um grande aliado na formação de jovens, mas, é preciso saber que são pessoas (líderes) e o ambiente esportivo que garantem os benefícios pretendidos.