por Ricardo Arida
Vários estudos apresentados na literatura científica e artigos publicados aqui no Vya Estelar, mostram a ação da atividade física regular na melhora da cognição em diferentes faixas etárias.
No texto anterior (clique aqui e leia), mostrei que poucas sessões de exercício podem melhorar a cognição em idosos com depressão.
Até recentemente, o modelo prevalente para a perda cognitiva decorrente do envelhecimento, era atribuído à redução da funcionalidade neuronal, que levaria inevitavelmente à perda neuronal.
Atualmente essa visão é diferente, visto que se descobriu que a perda de neurônios não é tão grande quanto se presumia (Morrison e Hof, 2003). O cérebro que envelhece é capaz de se utilizar de mecanismos adaptativos consideráveis para evitar uma maior redução cognitiva e neurodegeneração, provavelmente por mecanismos de proteção e de restauração neural. Além disso, processos adaptativos sociais continuam na velhice, e o próprio idoso se adapta à sua cognição alterada.
Nessas condições, pode-se entender o envelhecimento cognitivo como um balanço entre determinantes positivos e negativos para a retenção da cognição na velhice. Os fatores que previnem uma redução na capacidade cognitiva pelo envelhecimento são denominados conjuntamente de reserva neural, ou simplesmente reserva.
A reserva é usada amplamente para explicar como indivíduos que sofrem algum processo lesivo de mesma natureza podem variar consideravelmente no grau de déficit cognitivo e demência clínica. Nesse caso, uma pessoa com uma reserva maior tem mais capacidade de manter a função cerebral na normalidade do que um indivíduo com uma reserva menor. Essa hipótese também prevê que adultos idosos com maior habilidade cognitiva terão menos risco de desenvolver demência do que indivíduos com menor habilidade cognitiva.
Paralelamente, os fatores que estão associados com maior habilidade cognitiva podem hipoteticamente reduzir o risco de demência, isso inclui uma dieta balanceada, participação de programas de ensino de alta qualidade, complexidade ocupacional (Whalley et al., 2004) e atividade física.
Nesse sentido, a pratica regular de atividade física também está relacionada com a reserva neural. Um estudo conduzido por Dik e colaboradores em 2003, mostrou uma importante relação entre a atividade física praticada na idade de 15 a 25 anos e a cognição desses mesmos indivíduos na idade de 62 a 85 anos de idade.
No mesmo ano, outros pesquisadores (Richard e colaboradores, 2003) relataram que atividade física no início da vida está ligada a uma redução significativa nos efeitos deletérios à memória durante o envelhecimento. Recentemente, observo que mulheres idosas que eram fisicamente mais ativas na adolescência possuem um desempenho cognitivo melhor e uma chance menor de desenvolverem déficits de inteligência na velhice do que mulheres que foram fisicamente inativas no mesmo período (Middleton e colaboradores, 2010).
Entretanto, os mecanismos pelos quais o exercício físico exerce tal função não estão bem esclarecidos. Uma possível explicação é que o exercício físico pode aumentar a expressão de *fatores neurotróficos (BDNF). e estimular o crescimento neuronal resultando em uma reserva neural que poderia ser extraída ao longo da vida.
Concluindo, vale a pena reforçar que os dados interessantes descritos acima sugerem que a prática precoce de atividade física pode melhorar as funções cerebrais ao longo da vida.
* Brain Derived Neurotrophic Factor (BDNF) = proteína fabricada pelos neurônios – exerce vários efeitos no sistema nervoso central, como crescimento, diferenciação e reparo dos próprios neurônios
Middleton LE, Barnes DE, Lui LY, Yaffe K, 2010. Physical activity over the life course and its association with cognitive performance and impairment in old age. J Am Geriatr Soc 58(7):1322-6.
Morrison JH, Hof PR, 2003. Changes in cortical circuits during aging. Clin. Neurosci Res 2:294-304. Nesselroade, J.R., Baltes, P.B., 1979. Longitudinal Research in the Study of Behavior and Development. Academic Press, New York.
Whalley LJ, Deary IJ, Appleton CL, Starr JM, 2004. Cognitive reserve and the neurobiology of cognitive aging. Ageing Res Rev 3(4):369-382.
Dik M, Deeg DJ, Visser M, Jonker C, 2003. Early life physical activity and cognition at old age. J Clin Exp Neuropsychol; 25:643-653.
Richards M, Sacker A, 2003. Lifetime antecedents of cognitive reserve. J Clin Exp Neuropsychol 25:614-624.