por Renato Miranda
No texto anterior (veja aqui), abordamos sobre as possibilidades do lazer passivo e o lazer ativo influenciar nossas vidas e, além disso, como a ambiguidade entre trabalho e lazer está presente em nossa rotina, no que diz respeito à utilização do tempo livre para pretensamente recuperar as forças e energia psíquica.
Em resumo, tanto o trabalho como o lazer podem ser fontes de desenvolvimento pessoal ou de apatia.
A abordagem do lazer frequentemente é vinculada ao trabalho, porque a pretensão básica do lazer é auxiliar em nossa recuperação do esforço dedicado ao mesmo, além do relaxamento e desenvolvimento pessoal.
As possibilidades do lazer – passivo e ativo – são resumidas em dois caminhos: o primeiro é o lazer passivo que gera menos ansiedade, mas provoca embotamento e oferece poucas ou nulas possibilidades de desenvolvimento físico e psíquico.
O segundo caminho é o lazer ativo que pode ser fonte de determinado nível de ansiedade em função das participações em desafios, como por exemplo, praticar algum esporte ou se lançar ao aprendizado de algo novo, divertimento ou hobby é fonte promissora de desenvolvimento psíquico e físico.
É óbvio que o lazer passivo, como relaxar em um sofá ou assistir televisão é algo relaxante. O problema é que o conforto causado por essas atividades passivas, quando não são muito bem dosadas, estimulam a geração de um sólido hábito de apatia e embotamento e, com o passar do tempo, essas mesmas atividades passivas se tornam as únicas fontes de lazer.
Consequências negativas do lazer passivo no trabalho e bem-estar
Com o lazer passivo preenchendo nosso tempo livre teremos como consequência influências negativas em nosso trabalho e bem-estar. Isto porque sem atividades que provoquem novos estímulos tanto físicos como psíquicos, nos tornamos fracos e com pouca capacidade para a mobilização de concentração e motivação. Como resultado nós perdemos desempenho no trabalho, pioramos nossos relacionamentos e o bem-estar.
A ideia das correlações entre lazer passivo e ativo e as possibilidades das pessoas fluírem em sua vida cotidiana (realizar atividades com alto nível de concentração, motivação alegria espontânea e com controle absoluto das ações e detalhes naquilo que tem que ser feito) preconizadas pelo psicólogo *CSIKSZENTMIHALYI, diz respeito a quanto maior é o investimento do lazer ativo, maior é a possibilidade de fluxo, do mesmo modo, quanto maior é a experiência de lazer passivo menor a possibilidade das pessoas fluírem.
Observe como diz o mesmo autor, os hábitos de lazer passivo influenciam, mas não vão originar necessariamente experiências negativas no trabalho ou relacionamentos, por exemplo. De fato, é mais provável que pessoas com trabalhos aborrecedores e problemas de relacionamento optarão por lazer passivo em seu tempo livre.
O lazer ativo pode ser grande oportunidade de desenvolvimento e recuperação da energia despendida no trabalho, mas se o lazer ativo requer aprendizado e desenvolvimento de habilidades tanto de ordem física (por exemplo, bom condicionamento físico para praticar algum esporte) como psíquica (por exemplo, aumento do nível de concentração para aprender a tocar um instrumento musical) é compreensível que a oportunidade de desenvolvimento não surge facilmente. É fundamental, portanto, dedicação e investimento pessoal.
A utilização do tempo livre em um lazer ativo torna a rotina menos tediosa e gera criatividade, como é o exemplo da arte popular: música, artesanato, invenções etc. Além disso, estimula o desenvolvimento de certas habilidades que podem ser expressas no período fora do trabalho e ao mesmo tempo cria um estilo de vida ativo e promissor. Repare como a vida de determinadas pessoas se completa e se mantém em ótimo nível de saúde (física, emocional e social), porque a mesma é repleta de atividades que produzem alegria e satisfação por meio de habilidades desenvolvidas no tempo livre.
Lazer ativo, mesmo que em certa medida pode causar algum nível de ansiedade, não obstante, promove um novo estilo de vida, recheado de criatividade e disposição para uma rotina de desafios duradouros. Com um pouco de imaginação e oportunidade vamos notar que o mundo nos oferece muitas atividades interessantes para aprender e fazer. A escolha é nossa!
* MIHALY CSIKSZENTMIHALYI: psicólogo autor da teoria do flow-feeling.