por Elisandra Vilella G. Sé
Um programa de treinamento cognitivo para pessoas com doença de Alzheimer deve incluir uma série de atividades que priorize as práticas sociais, as práticas com linguagem, autocuidado, independência, atividades físicas e atividades mentais.
Em relação ao treinamento cognitivo, as atividades que estimulem as funções mentais devem ser aquelas que mantêm ativa a memória recente e remota, a memória de aprendizagem, a discriminação visual e auditiva, a *orientação temporal e espacial, a linguagem, o raciocínio matemático, o pensamento abstrato a capacidade de fazer escolhas. Mas uma coisa importante é que todas as atividades devem fazer sentido para o sujeito e principalmente com práticas que envolvam socialização.
A perda de memória é o principal sintoma cognitivo que causa impacto no dia a dia da pessoa com doença de Alzheimer e na dinâmica familiar, porque falhas na memória recente alteram as atividades habituais, a rotina da vida da pessoa. A linguagem é outro sintoma que causa sérios problemas para o portador de doença de Alzheimer. Ocorre uma desestruturação da linguagem, um declínio na capacidade de comunicação. É comum ocorrer dificuldade de lidar com conceitos, categorias, nomeação, repetição, lidar com significados ambíguos, fazer inferências, encontrar palavras durante a conversação, manter coerência no relato, manter-se atento num tópico do discurso.
As atividades programadas para estimular um paciente com doença de Alzheimer, principalmente na fase inicial, devem considerar esses sintomas, como estão os desempenhos da pessoa para diversas tarefas, o que ainda se mantém, sua capacidade de aprender coisas novas e resgatar as experiências do passado, as lembranças e as reminiscências. Assim podem ser utilizados diversos exercícios que envolvam a memória de figuras e sons, exercícios de linguagem, memória discursiva, história oral, jogos de mesa adaptados, música, arte de todo tipo, teatro, literatura, atividade física, interação social e até atividades com animais de estimação para que o paciente exercite sua **capacidade funcional.
Quanto às atividades com música, a pessoa em geral já possui um repertório favorito, pode-se trabalhar com músicas do contexto e cultura do paciente, tais como músicas folclóricas, religiosas, música de fundo que evoque lembranças, vinhetas de programas de televisão, mesclando com atividades novas que trabalhe elementos dos sons e da música contemporânea.
Em relação à atividade física, é importante que a atividade estimule as funções mentais com o objetivo de promover o bem-estar físico. A pessoa com doença de Alzheimer apresenta dificuldades de: planejamento motor, noção de profundidade, orientação e organização espacial, execução de movimentos complexos, rigidez, lentidão e falta de flexibilidade, ***dificuldade na imagem corporal, em ****figura-fundo e equilíbrio. É importante que as atividades envolvam a mente e o corpo aliando relaxamento e conscientização corporal.
A participação do paciente em festas e comemorações familiares, passeios e visitas também são importantes. A vida social e a autoestima não podem ser deixadas de lado, o autocuidado e a saída de casa para ir a festas e visitar parentes e amigos ou fazer uma atividade no clube também são necessários e fazem parte do programa de treinamento cognitivo, mantém o paciente orientado, ativo, funcional e garante seu autorrespeito.
Um aspecto a ser lembrado é a segurança, em todas as atividades para pacientes com doença de Alzheimer, é preciso eliminar tarefas que coloquem em risco a vida do paciente, como utilizar objetos cortantes, sair de casa sozinho, cuidados com quedas e eliminar materiais que possam infantilizar o paciente. O ambiente ideal é aquele que o paciente não se estresse, seja amplo e arejado, claro, cores tranquilas, espaço para convivência, para realizar atividades artísticas, fácil acesso e de preferência com música.
Quanto à rotina dessas atividades de preferência que seja uma programação diária, que tenha horários definidos, que dê continuidade nos exercícios de forma sistemática. As atividades em grupo são mais dinâmicas e estimuladoras, aumentam a participação, diminuem a agitação e problemas de comportamento. O sentido de pertencer a um grupo e ser aceito são sentimentos importantes para a pessoa com doença de Alzheimer, a interação social propicia a manutenção de sua identidade.
Ainda não é possível reverter o quadro dessa doença, mas a inserção em um programa de manutenção, prevenção e reabilitação cognitiva e física ajuda o paciente e a família a enfrentar o desafio desse diagnóstico e a ter uma melhor qualidade de vida.
* Orientação temporal: é saber que horas são, que dia que é hoje, que mês nós estamos, organizar o tempo para compromissos e afazeres.
** Capacidade funcional: é a capacidade, a independência para realizar tarefas no dia a dia.
*** Dificuldade na imagem corporal: é a dificuldade que o paciente com demência tem em perceber seu corpo, sua capacidade de movimento, de organizar o movimento para realizar algo, fica mais lentificado.
**** Figura-fundo: é quando a pessoa consegue selecionar algo que ela decofifica, discrimina ou interpreta. Por exemplo, você está conversando com uma pessoa e tem muito barulho ao seu redor e você escuta, consegue identificar uma música no fundo que você conhece, ou escuta uma voz de alguém conhecido. Isso é figura-fundo auditiva. Isso também ocorre para todos os sentidos (figura-fundo visual), quando identificamos aquelas figuras de ilusão de óptica por exemplo. Enfim é capacidade de selecionar estímulos.