por Renato Miranda
Tempos atrás,escrevi aqui mesmo no Vya Estelar sobre a finalidade maior do esporte competitivo em qualquer nível (da iniciação ao alto rendimento – clique aqui). Naquela oportunidade dizia que o maior valor do esporte competitivo está no divertimento.
A competição esportiva afinal existe para preencher uma lacuna de lazer em nossas vidas, para fazer bem às pessoas e tornar o mundo um pouco mais alegre, assim como as artes plásticas, a fotografia, o cinema, o teatro e a música.
Muitas pessoas me questionam como isso é possível, já que ao se tratar da competição de alto rendimento, portanto profissional, as tensões, preocupações, treinamentos e disputas árduas e tudo o mais que envolve esse ambiente tornam difícil à suposição de divertimento nas atividades desses atletas.
No entanto, a história esportiva nos mostra que grandes campeões em diversas modalidades, de tempos em tempos, mesmo sobre forte pressão e desgaste, falam sobre a alegria e o divertimento em competir. Especulo que a base de tudo isso está, desde a iniciação esportiva, em aceitar o esporte como uma possibilidade que repercute não apenas a vitória em si ou a expectativa de alguém se tornar um atleta profissional, mas no sucesso de utilizá-lo para a formação de um adulto saudável, otimista, ético, sociável e modelo de cidadão. Nota-se, porém, que por trás de tudo isso, exige-se orientação de qualidade a respeito de treinamento e de competição que podem e devem ser oferecidos aos desportistas iniciantes.
Não obstante, é fato que em toda atividade, profissional ou não, a característica física, psíquica e ambiental influencia o comportamento do indivíduo e também sua adaptação frente à experiência em questão. Em outras palavras, para usufruir do divertimento que o esporte competitivo (e aqui do alto rendimento especialmente) é necessário que haja uma compatibilidade psicofísica do atleta com a experiência vivenciada, no caso a competição de alto rendimento.
Isso quer dizer, capacidade emocional e cognitiva de se adaptar frente às demandas estressantes de treinos, competições, viagens extenuantes, convívio com a mídia (exposição e avaliação pública do atleta), resistência e força psicofísica geral (desde compleição músculoesquelética à capacidade de resistência psíquica frente aos diversos estressores) e adaptação do organismo às exigências do esporte e outros. Ao observarmos as outras atividades humanas de excelência, avaliaremos que o mesmo pensar é válido, em resumo é aquilo que se convencionou chamar de talento.
Recentemente no campeonato mundial de atletismo em Berlim, na Alemanha, o atleta jamaicano Ulsain Bolt, recordista mundial dos 100 e 200 metros (único até hoje a conseguir essa façanha em um campeonato mundial), deu várias declarações afirmando sua alegria em divertir-se nas pistas de atletismo pelo mundo. Ao mesmo tempo em que ele mesmo dizia sobre sua extenuante rotina de treinamentos e competições desde a infância.
Alguns especialistas falaram com muito propósito sobre como as características físicas e psicológicas de Ulsain Bolt combinam com as provas que ele disputa no atletismo. Ressalto, porém, a importância da avaliação de divertimento que o mesmo tem do esporte.
Não é o fato isolado de se divertir que faz Ulsain Bolt um grande campeão. No entanto é isso, o divertimento, que lhe proporciona satisfação em treinar cada vez mais e melhor, para expandir seu potencial físico e psicológico. Possivelmente é esse o diferencial de rendimento entre aqueles que são talentosos. Ou seja, quando muitos percebem tensões e aflições outros percebem alegria e divertimento.
Repito novamente que esporte competitivo pode proporcionar valores positivos ou negativos aos jovens, entre eles, honestidade, confiança, espiritualidade, desonestidade, desrespeito, e opressão. Todos esses valores estão lado a lado no esporte, cabe aos adultos mostrarem e exemplificarem aos jovens qual a melhor escolha. O divertimento é consequência dos valores positivos e isso Ulsain Bolt comprova em sua vida esportiva.
Espero que eu esteja certo e nenhuma atitude ilícita de Bolt faça que eu perca um bom exemplo de ludicidade no esporte!