por Elisandra Sé
O processo de envelhecimento da população no mundo coincide com outras tendências globais (globalização, falta de planejamento urbano, migração, mobilidade, acessibilidade, mercado de trabalho, exclusão social, problemas de segurança, educação etc) que moldam o futuro. Essas tendências afetam todas as pessoas de todas as gerações em todos os aspectos da vida.
Dessa forma, o envelhecimento da população mundial, a promoção da saúde, o alcance de um envelhecimento saudável e ativo para todos e, principalmente para os que residem em grandes centros urbanos, é um enorme desafio e urgente. Além do mais, os idosos constituem uma proporção significativa e crescente da população urbana mundial.
Basta saber como os países poderão responder a todas essas tendências de maneira inclusiva, sem criar desigualdade entre gerações, grupos sociais, nações e ainda proporcionar um envelhecimento saudável.
Nos países mais desenvolvidos, a proporção de pessoas que moram nas cidades aumentará dos atuais 78% para 86% até 2050. Com exceção da América Latina, que já é a região mais urbanizada do mundo (80%), o crescimento urbano está ocorrendo numa velocidade sem precedentes em países menos desenvolvidos, em especial na Ásia. No total, esses países irão apresentar um aumento dos cerca de 52% da população que habitava as cidades em 2010 para 67% em 2050.
Em 2005, nos países de alta renda, um em cada cinco habitantes das cidades tinha mais de 60 anos. A proporção de habitantes das cidades acima de 60 anos nos países menos desenvolvidos também irá crescer, de 7,7% em 2005 para 21% em 2050.
As cidades impulsionam o avanço econômico, cultural e social das nações. Para as pessoas de todas as idades, apresentam oportunidades mais centralizadas de educação e emprego, além de melhor acesso a uma gama mais ampla de serviços sociais e de saúde. Por outro lado, também estão concentrados nas cidades, vários riscos relacionados aos problemas de segurança, como o crime e a segurança dos pedestres e dos motoristas. A maior conveniência da vida nas cidades é um fator que contribui para os estilos de vida menos saudáveis, decorrentes, por exemplo, da poluição, do sedentarismo e dos maus hábitos alimentares.
O planejamento urbano não tem acompanhado o crescimento populacional. De modo global, um em cada três habitantes das cidades mora nas periferias ou em áreas invadidas, que se caracterizam por um saneamento básico inadequado e pela falta de água e de alimentos seguros para o consumo, acesso insuficiente a serviços e moradias superlotadas e de má qualidade.
A população urbana pobre de todas as idades apresenta mais risco de contrair doenças infecciosas e desenvolver doenças crônicas. Um exemplo é a epidemia da dengue e do zika vírus.
Nas últimas décadas as cidades têm contribuído significativamente para as mudanças climáticas, levando ao aumento dos níveis de poluição atmosférica e ao calor extremo, que constituem risco à saúde. A infraestrutura não acompanha o número de pessoas que chega às cidades. Além disso, está também mais sujeita a lesões acidentais, ao crime e à exclusão social.
A população que migra para as áreas urbanas está particularmente mais sujeita à pobreza e às más condições de moradia.
Uma característica importante de muitas cidades – que teve início nos países de renda mais alta na década de 1950 – é o rápido crescimento das comunidades residenciais de densidade populacional mais baixa nas periferias das cidades. Existe uma maior proporção de baby boomers e de gerações de adultos que os precederam do que de jovens que moram nas periferias.
Outro aspecto a ser lembrado é que o aumento do uso do carro particular predominou em várias cidades com a tendência de que haja menos transporte público e menos recursos para deslocamento de pedestres do que nos centros urbanos. A distância entre os vizinhos, a má circulação e deslocamento das pessoas e a confusão urbana tornaram-se fatores limitantes e de isolamento dos idosos.
As cidades cada vez maiores nos países menos desenvolvidos estão agora passando pela “expansão das periferias” – o rápido crescimento de comunidades de baixa densidade demográfica na periferia, apresentando muitas dessas características mencionadas.
Embora os indivíduos e os grupos tenham sempre migrado em busca de segurança ou de melhores oportunidades, tanto a migração internacional quanto a nacional vêm se tornando características pronunciadas da nova realidade global.
Também, ao mesmo tempo em que as cidades crescem, as comunidades rurais vêm sendo esvaziadas. A migração dos jovens para as cidades resulta em proporções cada vez maiores de idosos que envelhecem nessas áreas rurais. Em 2005, em regiões mais desenvolvidas, as pessoas acima dos 60 anos constituíam 23% da população rural e 19% da população urbana. Não há projeção em nível global, mas os dados regionais mostram aumento significativo de idosos nas áreas rurais. A concentração rural de idosos é uma tendência significativa também nas regiões menos desenvolvidas.
É importante ressaltar que o lugar onde as pessoas vivem influencia profundamente a mobilidade, a participação, o apoio social e o bem-estar. A distribuição de idade da população afeta de maneira significativa o planejamento urbano, os recursos, a produtividade e os serviços.
Para Sperandio (2010) um município potencialmente saudável não é o que apresenta invejáveis índices de desenvolvimento humano, mas sobretudo, aquele onde se desenvolve uma intrincada teias de relações entre poder público e a sociedade local, tendo como pano de fundo a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos. Para a autora, o que caracteriza o ambiente saudável é a profunda vinculação existente entre os cidadãos e o seu entorno físico e social. Não é possível falar de espaço saudável se as pessoas não se sentem fazendo parte dele. Um município saudável precisa ser amado pelas pessoas que nele habitam.
É de fundamental importância estimular a construção de um processo de tomada de consciência, por parte dos cidadãos para o envelhecimento populacional e os seus reais desafios urgentes.