por Lilian Graziano
Vou me abster de qualquer julgamento sobre o estilo de interpretação de Robin Williams, mas o fato é que era um ator de renome mundial, no gosto popular e da alta cúpula hollywoodiana, e muita gente sequer sabia de seu drama pessoal com a depressão e o alcoolismo, que culminou em suicídio.
Para muitos, apenas a notícia de sua morte veio à tona, causando perplexidade diante da imagem que tinham associada ao artista – a da comédia, do riso, do clima romântico ou divertido de muitos de seus filmes (exceto por Além da Vida, que ocasiona profunda reflexão sobre morte e espiritualidade).
O caso de Robin Williams nos remete, além do choque, a tristes estatísticas: todos os anos, um milhão de pessoas se matam no mundo (a média de uma morte a cada 40 segundos). Já a depressão acomete mais de 350 milhões de pessoas no planeta e é a causa de 60% dos suicídios (todos os dados são da Organização Mundial de Saúde – OMS). Só no Brasil, mortes relacionadas com depressão cresceram 705%, em 16 anos*. Com isso foi criado o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, promovido pela própria OMS, todo dia 10 de setembro.
Os números e fatos (e mesmo a necessidade de um dia mundial para a conscientização sobre o problema) são lamentáveis! Mas a Psicologia Positiva também deve se ocupar disso, até mesmo por ter como foco a felicidade, as emoções positivas e o funcionamento ótimo do indivíduo.
Nós psicólogos positivos não ignoramos a dor, o sofrimento… apenas temos uma abordagem bem diferente da Psicologia tradicional para lidar com saúde mental, com doenças como a depressão. Algo que vai muito além da cura (essa necessária para qualquer projeto de vida feliz). E então um movimento reverso, em relação ao projeto de conscientização da OMS, faz-se necessário.
Esperar o primeiro episódio de depressão acontecer, para agir, não é a postura de um psicólogo positivo. O projeto da abordagem é romper as barreiras do consultório e fortalecer as emoções positivas e a resiliência (capacidade de autossuperação) dos indivíduos a partir das escolas, consolidando esse trabalho, mais tarde, nas empresas e na comunidade.
Ainda que as causas da depressão possam ser orgânicas, tal ação aumenta o repertório de **coping dos depressivos para lidar com o problema, o que favorece a remissão dos sintomas e de seu fator de cronicidade. Aliás, igualmente ampliadas, nesse projeto, são as estratégias para a lida com outro problema grave e crônico da sociedade (e que também pode ocasionar episódios de depressão, ansiedade e pânico): o estresse.
Como já mencionado nesta coluna, quando trabalhamos sob o alicerce das forças pessoais dos indivíduos (veja aqui), promovendo seu uso ou fazendo a calibragem necessária entre elas para que se chegue ao funcionamento ótimo dessas pessoas, estamos fortalecendo suas virtudes, muitas vezes fortalecendo seus valores.
Esse outro trabalho da Psicologia Positiva facilita a descoberta de um sentido para a vida, a reflexão sobre se a vida que se leva está de acordo com nossa essência. E ausência de um sentido para a vida é fator desencadeante de episódios de depressão, assim como a ausência dessa doença, por si, não é capaz de tornar o indivíduo feliz. Tal reflexão pode ser despertada tanto em ação preventiva e contínua do psicólogo positivo, nas instituições e no consultório, como nos tratamentos psicoterápicos que desenvolver, quando as emoções positivas e a resiliência do indivíduo também podem ser ampliadas.
Não é um processo assim tão simples, mas as intervenções brevemente descritas ilustram bem o caráter preventivo e os possíveis resultados contra problemas como a depressão e males associados. E a necessidade de uma sólida educação emocional para evitar que a sociedade entre em um colapso causado por esses problemas. Ilustra, ainda, a visível contribuição da Psicologia Positiva para um projeto de felicidade.
Reivindico, então, além da bandeira de um trabalho preventivo, de intervenção precoce, na contra mão do que tem sido feito na saúde em geral, um Dia Mundial da Felicidade, em que a conscientização seja feita exatamente em prol desse projeto de educação emocional. Sonho com o dia em que 10 de setembro possa ser o dia em que se discute a vida e não as implicações da morte.
* Levantamento feito por um jornal paulistano.
**Coping: estratégia para enfrentar a adversidade sobre a qual a Psicologia Positiva tem se debruçado desde o seu início.