por Lilian Graziano
O nível de autoconhecimento e autopercepção das pessoas parece estar muito baixo. A tendência de o indivíduo ignorar os sinais que o organismo dá de que algo está errado parece ser tão grande quanto a tendência de acharmos que todo mal-estar da humanidade é psicológico.
De fato o estresse psicológico é, dentre outros, fator preponderante de males diversos. Às vezes, porém, tudo de que precisamos é dormir mais, comer uma maçã ou dobrar os copos de água bebidos por dia – e nem sempre isso é demandado por uma questão psicológica.
Basta uma noite bem dormida, muitas vezes, para para mudarmos a perspectiva que temos de relacionamentos, trabalhos, dentre outros exemplos de intervenções orgânicas que resultam em comportamentos mais funcionais e mais energia para enfrentar a vida.
A influência, nesse ponto de vista, é metabólica, e a conta é simples: às vezes um gasto calórico exagerado pode estar causando uma imunossupressão no organismo, resultando em baixa energia, apatia, até depressão – mas nem sempre esse gasto decorre de fatores psicológicos.
Como psicóloga, não posso ignorar a importância de se atentar para as questões relacionadas a emoções e comportamentos que influenciam nosso bem-estar de maneira geral – isso é puro autoconhecimento. Mas também não posso deixar passar despercebida essa nossa péssima relação com o nosso corpo. É preciso conhecê-lo, entendê-lo, percebê-lo e desfrutá-lo, tanto quanto é bom cultivar uma mente saudável.
Arrisco dizer que estamos cada vez mais distantes de nossa pele, achando que nos alimentamos e funcionamos em extensões de bytes nas redes sociais. A virtualização de nossa existência talvez leve a isso – o que também não nos ajuda a conhecer nosso eu psíquico.
Às vezes, o melhor a fazer é voltar-se para si em carne e osso, ouvir-se, sentir-se, para depois psicologizar a respeito. E não o contrário. Enquanto Freud diz "isto é só um cachimbo", permita-se perceber, também, que isto (leia-se ausência de bem-estar) pode ser só falta ou excesso de açúcar circulando no sangue. Mesmo que depois seja preciso refletir sobre o que o levou a consumir/gastar mais ou menos açúcar.
Na equação da Psicologia Positiva, há, com isso, que se cultivar hábitos positivos, incluindo uma boa relação com o corpo, no sentido de observá-lo com um olhar mais atento, para desenvolver melhor autoconsciência e emoções positivas.