Da Redação
Estudos anteriores já haviam mostrado que dependentes de álcool apresentam mudanças na atividade cerebral, mesmo em repouso. E agora, pela primeira vez, pesquisadores da Universidade do Porto, Portugal, encontraram mudanças semelhantes no cérebro de estudantes não dependentes de álcool, mas que bebem em padrão “binge”, também chamado de “beber pesado episódico” (BPE). O estudo, divulgado pelo Centro de Informações sobre Saúde e Álcool – CISA, foi publicado recentemente na revista Frontiers in Behavioral Neuroscience.
Segundo a pesquisa, as áreas onde se observou aumento de atividade cerebral são características de processamento de informações, sugerindo potenciais dificuldades nessas atividades. Além disso, a hiperatividade cerebral pode corresponder a um atraso na maturação neuronal durante o desenvolvimento cerebral em jovens, devido ao consumo excessivo de álcool.
Consumo de álcool que caracteriza o BPE
O BPE é definido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelo Instituto Nacional de Abuso de Álcool e Alcoolismo (NIAAA) como o consumo de cinco ou mais doses (álccol etílico/destilados) para homens e quatro ou mais doses para mulheres, em um período de duas horas.
“Há uma série de riscos associados para a saúde em longo prazo, como pressão alta, doenças cardíacas, acidentes vasculares cerebrais, certos tipos de câncer e doenças hepáticas. O consumo excessivo também aumenta os comportamentos sexuais de risco e o envolvimento em violência”, explica Erica Siu, biomédica especialista em dependência química.
Nos Estados Unidos, estima-se que 1 em cada 6 adultos beba no padrão BPE quatro vezes por mês, consumindo em média 8 doses por vez, e esse comportamento é mais comum entre os jovens. No Brasil, o I Levantamento Nacional sobre o Uso de Álcool, Tabaco e Outras Drogas entre Universitários das 27 Capitais Brasileiras mostrou que 1 em cada 4 estudantes universitários relataram esse tipo de comportamento.
Os efeitos do BPE em jovens adultos na realização de tarefas que envolvem atenção e memória já haviam sido avaliados anteriormente. Neste estudo, os pesquisadores investigaram se haviam diferenças nos cérebros de bebedores BPE em repouso, isto é, sem realizar nenhuma tarefa cognitiva, quando comparados aos cérebros de bebedores não BPE.
Oitenta estudantes de graduação, maiores de 18 anos, de uma Universidade na Espanha, foram divididos em dois grupos: um que nunca bebeu no padrão BPE, e outro que bebeu em BPE pelo menos uma vez no mês anterior à pesquisa. É importante salientar que nenhum dos participantes apresentava dependência de álcool. Houve um aumento significativo na atividade elétrica de regiões específicas do cérebro em repouso do grupo BPE, registradas por eletroencefalograma (EEG): essa superatividade cerebral ocorreu em áreas relacionadas à memória e ao processamento de informações visuais, e refletem os resultados encontrados nos cérebros dos dependentes de álcool. Ou seja, as alterações cerebrais são as mesmas para dependentes de álcool e para bebedores BPE que não são dependentes.
A próxima questão a ser investigada pela equipe da Universidade do Porto é saber se o desempenho do cérebro permanece prejudicado no longo prazo.