por Danilo Baltieri
Resposta: É muito difícil formular uma resposta simplista para esta pergunta, tendo em vista a complexidade dos aspectos que influenciam os resultados dos estudos relacionados ao binômio “saúde e álcool” e a imensa variabilidade (incluindo a genética) entre as pessoas que fazem uso de álcool moderadamente.
Vários estudos científicos têm mostrado que beber moderadamente, cerca de dois drinques para homens e um drinque para mulheres ao dia, pode ser benéfico em termos de redução de risco para algumas doenças cardíacas, diabetes e demência. Entretanto, para outros pesquisadores, beber moderadamente pode ser apenas algo que algumas pessoas saudáveis costumam fazer e não algo que as torna saudáveis.
De fato, estudos demonstram que aqueles que bebem moderadamente, quando comparados àqueles que o fazem imoderadamente, tendem a mostrar hábitos de vida mais saudáveis (como esportes, alimentação), maior nível sócioeconômico e melhor acesso a serviços médicos especializados. Dessa forma, fica difícil estabelecer, além de uma dúvida razoável, o efeito plenamente benéfico do beber moderado.
Certamente, para pessoas com problemas hepáticos (fígado), nenhum consumo de bebida alcoólica deve ser feito. Da mesma forma, pessoas que se tornam agressivas com doses pequenas de bebidas também não devem beber. Também, tendo em vista as altas taxas de acidentes de trânsito relacionadas ao consumo de álcool, nenhuma quantidade de bebida alcoólica antes de dirigir deve ser feita. A lista, seguramente, não para por aqui.
Uma revisão de 143 estudos sobre o relacionamento entre beber moderado e aspectos da cognição mostrou que existe, de fato, uma redução do risco de prejuízos cognitivos (memória, atenção e concentração) ao longo da vida entre aqueles que fazem uso moderado de bebidas alcoólicas. Entretanto, este efeito não permanece, quando a variável beber moderado é controlada para outras, como nível educacional, tabagismo e gênero. Também, outros estudos demonstram que o beber moderado não tem qualquer efeito benéfico ou mesmo “protetor” sobre o declínio cognitivo, quando esses bebedores moderados são geneticamente vulneráveis.
Para fomentar ainda mais a controvérsia do possível efeito benéfico do beber moderado, um estudo recente demonstrou que para indivíduos acima de 50 anos, mesmo o beber moderado não tem efeito protetor contra a calcificação do arco aórtico (aorta – a maior e principal artéria do sistema circulatório humano).
Dessa forma, hábitos saudáveis devem sempre ser estimulados e praticados. O consumo MODERADO ou LEVE de bebidas alcoólicas não pode ser considerado um “remédio” para quaisquer males, mas também não deve ser considerado a causa deles.
Abaixo, forneço interessantes fontes de consulta:
Jiang, C. Q.; Xu, L.; Lam, T. H.; Thomas, G. N.; Zhang, W. S.; Cheng, K. K.; Schooling, C. M., Alcohol consumption and aortic arch calcification in an older Chinese sample: The Guangzhou Biobank Cohort Study. Int J Cardiol. (in press)
Neafsey, E. J.; Collins, M. A., Moderate alcohol consumption and cognitive risk. Neuropsychiatr Dis Treat 7, 465-84. (in press)