por Ceres Alves Araujo
Bebês gigantes – o termo é utilizado por Boris Cyrulnik, especialista em Resiliência, para falar de crianças mimadas e superprotegidas que, atualmente, proliferam no mundo. Resiliência é a capacidade de sobreviver às adversidades com ganhos. Para essas crianças o desenvolvimento da capacidade de resiliência fica comprometido.
Os bebês e as crianças que foram protegidos de todas as provações normais do desenvolvimento, que foram atendidos, até a priori, na grande maioria das suas necessidades, que foram poupados de todas as privações, não têm estímulos para crescer. Transformam-se nos bebês gigantes, que possuem um narcisismo hipertrofiado.
Tal situação ocorre com frequência nas famílias em que a criança é a autoridade a ser obedecida, servida e satisfeita em todos os seus desejos. O triangulo edípico (pai, mãe, filho) desaparece, é retificado, ficando o filho no meio, ladeado pelos pais. Nessa situação, a conjugalidade desaparece, marido e mulher se transformam em apenas pais. O filho é o único a dar sentido ao casal parental e essa situação é condição básica para vir a ser um tirano doméstico.
O excesso de afeto asfixia o aprendizado da vida cotidiana. Quando uma criança é absorvida por um amor que asfixia, ela fica presa no espaço familiar, sem o desejo do diferente, sem o desejo de experimentar o desconhecido e, por isso, ela não se desenvolve. Vivendo com uma sobrecarga afetiva, a criança se torna uma prisioneira desse tipo de ambiente e autocentrada, por não ter a necessidade de investir afeto em um outro.
A criança, centro das atenções dos pais, não tem aprendizagens inibidoras, não é ensinada a tolerar esperas, a lidar com frustrações, a adiar satisfação de desejos e não consegue fazer trocas afetivas com os demais. A sociabilidade fica comprometida, pois ela quer ser sempre o centro das atenções do ambiente e sua vontade deve prevalecer.
Quando o bebê gigante chega à escola, usualmente tem problemas de adaptação. Ele não sabe se inserir em grupos, não aprende a ceder e a se impor quando necessário. Não desenvolve o papel de aluno, daquele que "sabe que não sabe" e que aprende com o outro, pois se acredita bom demais e só vê o que sabe.
Na adolescência, o bebê gigante, sem os treinos da inibição, quer apenas desfrutar a satisfação imediata, tendo ausência de projetos de vida. Por não ter experimentado falta e por não poder preenchê-la com aspirações, sonhos e desejos, esse adolescente não desenvolve a coragem de brigar por metas e princípios, pois não os tem e pode perder o prazer de viver.
A resiliência para os bebês gigantes é muito mais difícil que para as crianças abandonadas, maltratadas e feridas, pois o agressor-devotado não é identificável. Conseguem se defender apenas por oposição. Permanecem estagnados no desenvolvimento e empobrecidos do ponto de vista psicológico.
Como pais, temos a obrigação de amar de forma adequada, voltada para o crescimento e fortalecimento do filho e para sua inserção na sociedade em que a família vive, evitando assim, que na vida adulta, ele permaneça como um bebê gigante.