por Patricia Gebrim
Não anda fácil viver nos dias de hoje.
Se antigamente, os nossos ancestrais enfrentavam batalhas diárias contra os predadores, a ira dos ventos e a fúria das tempestades; hoje enfrentamos batalhas um tanto diferentes, nem por isso menos aterradoras. Hoje enfrentamos a dor diária de ler os jornais, o isolamento e violência nos ameaça nos grandes centros urbanos, o fantasma da crise que nos assombra naquela hora silenciosa, antes de dormir.
Hoje sofremos e sentimos medo ao ver nosso planeta sofrer uma devastação crescente que aflige nossas almas e angustia nossos corações. Não me espanta tanta gente infeliz e o aumento crescente de casos de depressão, doenças, ansiedade, medo. Muito medo.
Minha intenção não é fazer com que você se sinta ainda pior ao ler este artigo. Não. A minha intenção é escrever sobre o que pode nos ajudar a viver melhor, mesmo rodeados por tantos desafios. Como conviver com o caos que nos rodeia e se aproxima, cada vez mais, a cada dia?
Eu andei pensando nisso. Pensei com seriedade, como nos dizem que deve ser feito. E de tanto pensar acabei percebendo uma coisa que chamou minha atenção: quanto mais eu pensava, menos enxergava e mais pesada ficava. Assim, depois de um tempo de “pensação” infernal, senti falta de minha leveza, da minha alegria. (Ah… Como faz falta alegria neste mundo, gente!).
Cansada de tanto pensamento, resolvi ir ao cinema, levar minha cabeça para passear, quem sabe assim eu recuperaria meu brilho, que andava um pouco apagado?
Mas como anda difícil encontrar um filme que nos deixe com o coração leve. Ultimamente, cada vez que vou ao cinema assistir a um desses filmes supostamente feitos para “despertar” as pessoas, elevar seu nível de consciência; sinto como se tivesse sido amarrada a uma cadeira elétrica e torturada pelas intermináveis horas de duração do filme. Nesse dia assisti Quem quer ser um milionário (vencedor de 8 Oscar, entre eles o de direção: Danny Boyle). Foi uma percepção muito pessoal, mas saí da sala escura em estado de choque. Juro! Meu coração parecia ter sido amarrado dentro do peito com arame farpado. Não posso dizer se funciona para outras pessoas, mas no meu caso o filme produziu o efeito contrário. Saí do cinema assustada, angustiada, desesperançada com a humanidade. Mas pode ser que você perceba o filme de outra forma.
Será que precisa ser assim? Será que isso está dando certo? Precisamos MESMO de tratamento de choque?
Quer saber? Eu não quero mais isso para a minha vida! Podem dizer o que quiserem, eu me recuso a ser eletrocutada, a ter meu coração esmagado para supostamente me sentir sendo correta com a humanidade. Eu não preciso disso.
Retorno à questão que levantei lá atrás:
_ Como lidar com tantos desafios deste momento planetário?
A minha visão é que precisamos de menos violência e mais delicadeza. Menos exposição gratuita da infelicidade alheia e mais alimento para a alma. Chega de tentarem nos convencer de que tem muita coisa errada no mundo. Nós já sabemos disso!!! O que é preciso é que nos ajudem a despertar o que existe de melhor em nós, que nos ajudem a redescobrir a delicadeza de nossa essência, a alegria de nosso coração, a leveza de nossas almas.
POR FAVOR, PAREM DE ESFAQUEAR NOSSOS EGOS E NOS AJUDEM A DESPERTAR NOSSAS ALMAS. Parem de mostrar o feio lá fora e nos ajudem a encontrar o belo aqui dentro. Dentro de mim, dentro de você.
Sobre o despertar de almas …
Quando algo me toca, bem no fundo do meu ser, quando algo me dá asas e acorda a alma-borboleta em mim, uma energia linda começa a vir lá de dentro de mim. Quando isso acontece, meu coração fica grande lá dentro do meu peito e eu fico querendo dividi-lo com todo mundo, sou tomada pelo amor.
Nós não precisamos ser esfaqueados, eletrocutados, sacudidos. Basta que nos toquem, gentilmente. Que nos ajudem a acreditar na beleza que todos temos dentro de nós. Nosso coração é como um bebê adormecido. Se o sacudimos, ele desperta chorando, e de tanto chorar acaba se cansando e dorme novamente. Mas se pegarmos o bebê no colo e o acariciarmos de mansinho, se cantarmos baixinho em seus ouvidos, eu sei, ele irá sorrir, e o sorriso de um bebê é mais transformador do que mil descargas elétricas, acreditem.
Por isso, chega de livros, filmes ou pessoas que tentam me eletrocutar, que tentam me fazer despertar à força. Quero ao meu redor livros, filmes e pessoas que me lembrem de que posso amar, de que posso sorrir, que me façam ter vontade de ajudar o próximo, que me ajudem a confiar que sou capaz, que me elevem _ e que não me enterrem sob um manto de angústia.
Precisamos de asas para viver e transformar o mundo de hoje. Precisamos de memória para lembrar de quem realmente somos. Precisamos de alimento para a alma, de espiritualidade e coragem para atravessar essa onda assustadora de medo e opressão que nos mantém angustiados ou anestesiados.
Gosto de imaginar que seremos capazes de nos dar as mãos, não movidos pelo medo ou pela crença de que morreremos se não o fizermos, e sim pelo fato de que algo lindo dentro de nós se torna tão grande que não existe outro caminho a não ser dividir isso com quem está ao nosso redor.
Que sensação boa essa, a de segurar uma mão amiga, você já sentiu isso? Afasta o medo. Acalma o coração.
Por isso tenho andado de mãos dadas com a poesia, com Rubem Alves (que alma mais bela e delicada a dele), Fernando Pessoa, Bach, Vivaldi… com Villa Lobos. Ando me rodeando de flores, de silêncio, de poucos e queridos amigos, de natureza, estrelas, saladinhas sem agrotóxicos, meu gato Sky, simplicidade e tecidos leves e macios que me afagam antes de dormir.
Se você se cansar dos choques, essa é a minha sugestão: escolha se rodear dessas coisas que fazem o coração da gente crescer.
Sabem … Nosso planeta precisa de gente que tenha o coração grande.