por Alex Botsaris
Todo dia recebo inúmeros e-mails me pedindo conselhos para uma infinidade de problemas. A maior parte das pessoas quer uma indicação médica para resolver seus problemas de saúde, coisa que não posso fazer por não ser ético nem correto em termos de responsabilidade profissional e conduta médica. Entretanto o que me chama a atenção nessas pessoas é que a maioria deseja solução para problemas cuja causa está em seus hábitos de vida, na sua rotina diária, que elas mesmas criaram.
Por outro lado, em meu consultório, vejo que uma das maiores dificuldades que os pacientes possuem, é para mudar seus hábitos de vida, livrando-se dos costumes que fazem mal à saúde. Tenho a impressão que isso é devido a uma dificuldade crescente das pessoas de perceberem a si mesmas, identificando suas necessidades e também aquilo que lhes faz mal a saúde.
Com a urbanização da sociedade, e em especial após a evolução tecnológica, as pessoas foram se acostumando a ter acesso aos bens de uso diário em lojas e foram se afastando cada vez mais da natureza. Cada vez mais produtos industrializados foram sendo usados na alimentação no lugar de alimentos naturais. A informação via mídia eletrônica está substituindo a experiência direta com a natureza. Crianças, por exemplo, estão, cada vez mais, tomando contato com animais e a vida selvagem na televisão e no computador.
Com a urbanização e o uso maciço de mídia eletrônica, as pessoas estão perdendo a capacidade de desenvolver seus instintos. Da mesma forma que perderam sua percepção da natureza (como o que pode fazer mal ou bem numa floresta), estão experimentando uma perda da capacidade de se autoperceber. Assim cada vez mais se acostumam com hábitos criados no ambiente urbano (como fumar ou usar drogas) que embotam os sentidos e apagam as percepções do próprio corpo.
Não sou o único a ter essa visão dos problemas de saúde atuais. O Dr. Fernando Bignardi, professor de medicina na UNIFESP, escreve que um dos primeiros passos do processo psicoterapêutico é incentivar o paciente a fazer conexão com sua própria essência, ou seja aprender a escutar seu próprio organismo. Ele entende que muitos problemas de ansiedade e insatisfação, vêm da incapacidade das pessoas de saberem exatamente o que querem. A esse processo de escutar a si mesmo, ele chama de ‘autoconexão’.
Estudo feitos no Canadá, revelaram que pessoas que têm hábito de leitura e evitam excesso de mídia eletrônica, têm melhores padrões de saúde, em atendimento primário à saúde, que aqueles viciados em televisão e jogos de computador. Em geral o primeiro grupo gosta de sair mais à rua e entrar em contato direto com as pessoas e as coisas. É possível que isso revele uma maior capacidade de percepção de si mesmo, nessas pessoas.
No Brasil um estudo com idosos revelou que pacientes que possuem mais capacidade de avaliar sua situação clínica e se cuidar, possuem melhor qualidade de vida que aqueles que não têm essa capacidade. Estudos revelaram ainda que, quanto maior a capacidade das pessoas de expressarem seu afeto, seja por si mesmas ou pelos outros, corresponde a uma menor incidência de doenças do coração câncer e diabetes.
Por isso, se você quer mesmo cuidar da sua saúde, comece por tentar escutar o seu próprio organismo e olhar em volta e buscar entender que desequilíbrios podem estar afetando negativamente a sua saúde. Não adianta procurar um médico, seja ele quem for, se não há disposição de mudar seus hábitos de vida que são nocivos. E isso depende fundamentalmente de identificar quais são esses hábitos.
Parar um pouco, ir para um local quieto e agradável e tentar sentir o que se passa em seu próprio organismo, são os primeiros passos nessa jornada. É bom reservar alguns momentos durante o dia para esses momentos consigo mesmo. Outro ponto é descobrir seus pontos fracos. Quase todo mundo sabe quais são. Não custa cuidar especialmente das fraquezas, não é verdade?
Bem sei que não basta identificar os problemas e desejar resolvê-los. Muitas pessoas conseguem chegar até esse ponto, mas não têm informação e força de vontade para galgar um novo patamar de qualidade de vida. Ai nesse momento que entra o médico. É ele que possui o conhecimento que vai permitir dar os próximos passos.
Por isso, não adianta ser qualquer um. É preciso escolher um profissional especial e qualificado, e que o paciente acredite em sua competência, mesmo que seja necessário esperar numa fila ou pagar uma consulta particular.
Atenção! Esse texto e esta coluna não substituem uma consulta ou acompanhamento de um médico e não se caracterizam como sendo um atendimento