por Angelo Medina
Nesta entrevista a psicóloga e escritora Ceres Araújo aponta os caminhos para uma educação politicamente correta dos filhos. Segundo ela, a boa educação deve ser pautada pelo bom senso e intuição. Ela explica por que o 'não' dito com firmeza e na hora certa é positivo.
Vya Estelar – Está mais difícil criar os filhos hoje em dia?
Ceres Araújo – Sempre foi difícil criar os filhos, só os modos de criar é que mudaram. Criança não vem com manual, quem escreve o manual são os próprios pais. O que valeu para o primeiro filho na vale para o segundo. Criar um filho e uma aventura porque não é fácil, mas tem chance de dar certo porque se coloca a alma nesse empreendimento. A gente vive uma época mais perigosa e violenta as preocupações dos pais é maior.
A preocupação é legítima, o mundo está mais competitivo, mas preocupação é diferente de angústia e estresse. Preocupação é saudável. É importante que os filhos sintam que os pais estão preocupados, pois eles se sentem alvos de atenção. Mas se a preocupação vira angústia e ansiedade, eles se sentem inseguros, porque a insegurança do ambiente familiar contamina, viver a vida passa a ser uma coisa perigosa.
Vya Estelar – Antigamente não se falava em autoestima, psicologia infantil… Os filhos do passado eram mais bem criados?
Ceres Araújo – É relativo. Uns criavam bem e outros mal, apenas utilizava-se o bom senso intuitivamente. Hoje em dia isso tem nome e por isso se faz uma intervenção profilática. Antigamente o pai não sabia da existência da palavra autoestima, sabia que era importante dar parabéns para o filho, incentivar coisas novas. Não existe nada de novo a psicologia apenas nomeou.
Vya Estelar – Qual é a principal dificuldade encontrada pelos pais?
Ceres Araújo – São muitas informações em todos os lugares e às vezes controvertidas e os pais na ânsia de não cometerem erros, vão cada vez mais em busca dessas informações e assim a confusão se torna cada vez maior. O que vale é a intuição e o bom senso.
O volume de informações é maior, a dificuldade é que o que vale para o filho do vizinho não serve para o meu. O Brasil possui culturas e etnias variadas, o que acontece em São Paulo, não acontece em Belém.
Vya Estelar – Qual é o erro mais comum cometido pelos pais?
Ceres Araújo – Não colocar limites. Os pais têm medo de colocar limites nos filhos. O não é o primeiro elemento organizador do psiquismo. A criança vai tentar transformar o não em sim, mudar o comportamento para satisfazer sua necessidade, assim desenvolve sua inteligência e promove o seu crescimento. Os pais têm medo de os filhos não gostarem mais deles, medo de fazê-los infelizes. Quando eles têm que dizer não se justificam e perdem a força como se tivessem pedindo desculpas para as crianças. E na adolescência já estão cansados e dizem não e ponto. Invertem os valores. O diálogo na infância deve ser curto, mas na adolescência deve ser longo.
Vya Estelar – Por que maioria dos pais tem tremenda dificuldade em impor limites?
Ceres Araújo – Dizer não dá trabalho, dizer sim é fácil, principalmente quando os pais estão cansados após um dia de trabalho e mal com a consciência por estarem ausentes. O não na hora certa é o presente mais oportuno, mas o não deve ser firme, caso contrário, o não se transforma em sim e gera confusão na criança.
Vya Estelar – Qual é essa sensível diferença na educação de um menino ou uma menina?
Ceres Araújo – A diferença não é apenas cultural, a neurociência prova que o cérebro do homem funciona biologicamente diferente do cérebro da mulher. As diferenças entre os sexos vão muito além da anatomia e de alguns hormônios. Homens e mulheres têm habilidades específicas e se saem melhor em algumas atividades do que em outras.O desenvolvimento emocional acentua essas diferenças. Os dois se complementam. As funções, como por exemplo no trabalho, são exercidas de modo diferente pelo cérebro masculino e feminino.
Vya Estelar – Por que os adolescentes têm medo em se transformar em adultos e estão amadurecendo cada vez mais tarde?
Ceres Araújo – O mundo está muito diferente as oportunidades de trabalho estão muito reduzidas. Antigamente o jovem fazia faculdade e ia trabalhar e hoje não tem nenhuma perspectiva de trabalho, de estágio e isso faz com que o jovem fique mais temeroso para escolher uma profissão e os pais idem. Tem que ter competência, interesse e viabilidade da profissão nos dias de hoje, tendo orientação vocacional.
Atualmente a oportunidade de trabalho é menor, mas a oferta de escolha é muito maior. O filho formado acaba ficando na casa dos pais, porque não consegue emprego para manter o mesmo padrão fora da casa dos pais. Namorar em casa está mais liberal, não é preciso mais casar para namorar.
Vya Estelar – As novas tecnologias – videogames, internet, celular – ajudam ou prejudicam no desenvolvimento dos filhos?
Ceres Araújo – Mais ajudam. A tecnologia está a serviço do bem e do mal. A criança aprende na Internet, tem repostas para sua curiosidade. O cérebro treina em várias áreas, processando mais informações de ordens diferentes ao mesmo tempo. Pode até haver uma hiperatividade respondendo a mais estímulos ao mesmo tempo. Essa multiplicidade simultânea de ações: fazer dever de casa, falar no celular, navegar na internet não prejudica. Se ele estiver rendendo e feliz ótimo.
Vya Estelar – Existe uma idade mais apropriada para as crianças terem acesso às novas tecnologias?
Ceres Araújo – Cada vez mais cedo isso vem sendo adquirido pelas crianças. O celular, os videogames e o computador estão chegando no berçário. Não ouso falar em idade. As crianças estão andando mais cedo, falando mais cedo e fazendo tudo mais cedo.
Vya Estelar – A dinâmica familiar está muito mutável, separações, re-casamentos o filho do 'outro', o filho da 'outra'. Como os pais devem lidar com isso?
Ceres Araújo – A separação hoje é muito maior. Um casal que está mal deve se separar, caso contrário, o casamento vira um velório e os pais correm o risco de ser um mau modelo de par pro filho. Com o tempo o papai tem namorada e mamãe namorado.
Padrasto e madrasta podem ser pessoas de grande valor, é preciso desmistificar. Hoje temos a família-mosaico.