Da Redação
Se há uma coisa que consegue tirar a alegria de um lar e desestabilizar um ambiente, são as brigas entre irmãos. Nada pode ser mais desagradável. Os pais pedem, imploram, mas quando eles decidem brigar, não há quem consiga fazê-los parar.
Além da cena terrível que é ver dois irmãos brigarem, fica para os pais um sentimento de amargura, de incompetência, de incapacidade de lidar com um problema que parece tão simples e tão banal. E na sequência, vem a culpa e a pergunta: por que brigam tanto, o que estou fazendo de errado, serei eu culpado de tudo isso? De uma certa forma, esta pergunta já contém em si a resposta. Quando desconfiamos de que podemos estar fazendo algo de errado, é quase certo que estamos fazendo.
É bem verdade que o ciúme é uma das principais causas das brigas constantes, e o que provoca o ciúme é a forma diferenciada como tratamos nossos filhos. Cada filho é um filho e é único, e justamente por causa disso, o tratamento que dedicamos a cada um também é bastante distinto. Não há como negar tal fato. Nunca tratamos todos os filhos da mesma forma, até porque cada um exige e necessita de tratamento diferenciado e nosso afeto, muitas vezes, também acaba sendo bastante diferenciado.
Ou por questões de afinidade pessoal, ou por momentos diferentes da vida em que foram concebidos; ou por razões muito subjetivas, ou por maior facilidade de comunicação com um do que com o outro, o fato é que temos maneiras e linguagens diferentes para nos relacionar com cada um dos filhos. Mas para eles este é um fato muito difícil de ser compreendido ou aceito, pois, aos olhos dos filhos os pais são os mesmos, e deveriam tratar todos os filhos da mesma maneira. Na sua incapacidade de lidar com a situação ou de argumentar de forma lógica, o modo que a criança encontra para extravasar a raiva e o ódio é por meio dos socos, chutes, murros, mordidas, beliscões e palavrões. É a forma mais primitiva que existe de manifestação da raiva. Mas será que só o ciúme explica tanta agressividade entre irmãos?
De fato, parece que há mesmo algum erro dos pais que se reflete nas brigas dos filhos. Quando observamos casais estáveis, bem resolvidos e em harmonia, observamos também que as brigas entre os filhos são raras, e em geral, são por problemas passageiros, que em poucos minutos se resolvem.
Entretanto, há famílias em que as brigas são frequentes, em que os filhos parecem ter desenvolvido uma linguagem corporal toda própria, que é a linguagem dos socos e dos palavrões. E através desses socos e chutes tentam transmitir alguma mensagem que os pais dificilmente conseguem captar. O que estarão eles tentando nos dizer com todos esses murros e palavrões?
Os filhos são o nosso reflexo, refletem nosso humor, nossos comportamentos, nossas angústias, nossa doçura e nossa agressividade. Assim, se eles brigam demais com certeza é porque algo não vai bem em nossas vidas. Como a criança ou o jovem não pode ou não sabe como extravasar sua raiva, ele parte para a agressão física, que é a linguagem que conhece. E em quem ele vai bater, já que não pode bater nos pais? Naquele que estiver mais próximo, que quase sempre é o irmão mais novo.
Penso que a maioria das brigas entre irmãos são causadas pelo desejo que têm de bater nos pais; pelo desejo de se rebelar contra uma situação que não aceitam, ou que não suportam. Bater é a saída para aliviar a tensão, a raiva, a frustração. Ocorre, no entanto, que a cada briga a tensão piora muito, o clima fica insuportável, e o desentendimento familiar recomeça, como num ciclo vicioso. A mãe grita com um, o pai grita com o outro, a mãe culpa o pai, que por sua vez culpa a mãe, que culpa o filho, que culpa a avó, que culpa a empregada, e por aí vai. E a bola de neve vai aumentando. Observe como seus filhos se comportam de forma diferente quando estão com pessoas mais calmas e mais dóceis. Eles reagem à calma com calma, à doçura com doçura, à delicadeza com delicadeza, e à raiva com raiva.
Todavia, quando um determinado comportamento se instala em um núcleo familiar é muito difícil quebrá-lo, porque ele fica incorporado à dinâmica da família, passa a ser o modus vivendi daquela família. Então…
Como resolver as brigas?
Primeiro e antes de tudo: pergunte-se como você é realmente como pessoa; como funciona seu humor, como é a dinâmica do casal e do seu casamento; como a família interage entre os membros. Será que tudo não se desencadeia por causa da sua insatisfação pessoal, por causa da sua maneira de lidar com as situações, que talvez seja de forma agressiva e pouco tolerante? Existe entre o casal uma harmonia, uma satisfação verdadeira, uma delicadeza e gentileza no trato diário? Os filhos aceitam o seu cônjuge como seu legítimo companheiro? Quando estamos insatisfeitos com nossas realidades de vida tendemos a ser agressivos e neurastênicos, e esse estado de humor é refletido pelo comportamento dos filhos.
Segundo: procure relacionar-se com cada um de seus filhos em momentos diferentes, a sós. Dê a cada um aquilo que ele merece e precisa. Dê tratamento diferenciado, mas não estabeleça comparações nem estimule a competitividade entre os irmãos, isso só mina as relações familiares e destrói a autoestima. Pessoas com baixa autoestima são sempre mais agressivas e revoltadas.
Terceiro: nunca bata nem xingue seu filho. Uma vez aberto o precedente, nunca mais haverá moral para corrigi-lo. Quando as brigas se tornarem insuportáveis, dê punições, retire regalias, corte os brinquedos, corte as diversões, corte alguns prazeres e informe porque está fazendo isso, mas jamais bata em seu filho. Agressão gera mais agressão. Além disso, existe um ditado muito verdadeiro, que vale para todos os pais: "Quem bate esquece, quem apanha nunca esquece." Apanhar do irmão é suportável, apanhar dos pais é imperdoável.
É horrível ter que dizer isto, mas os grandes causadores das brigas dentro de casa somos nós mesmos, que ainda não aprendemos a lidar com nossos próprios sentimentos e emoções. E que sem perceber, instalamos a rivalidade, a inveja, a competitividade e fazemos do nosso lar o despejo de nossos fracassos e frustrações. Quando paramos para reavaliar nossas condutas e nossa maneira de nos relacionarmos com as pessoas, metade dos problemas acabam por se dissolver naturalmente, e com isso, o ar fica mais leve, o ambiente menos tenso e as relações mais prazerosas.
Fonte: Cybele Russi é Pós-graduada em Psicopedagogia Clínica e Institucional