por Marta Relvas
Ao longo do desenvolvimento humano, o cérebro foi moldado por milhares de gerações de evolução até se transformar na mais sofisticada máquina de processamento de informações existentes na Terra. E o mais surpreendente, ele se constrói sozinho. Por exemplo, não precisa ensinar a criança a perceber o som, pois desde cedo, ela diferencia ruídos que têm mais significado do que outros.
As crianças não são receptores passivos dos cuidados dos pais, mas sim participantes ativos de cada aspecto de seu próprio desenvolvimento. Desde o nascimento, o cérebro está preparado para buscar e utilizar as experiências mais apropriadas às suas necessidades e preferências individuais. Por esse motivo, o cérebro não requer nenhum equipamento ou treinamento especial e, na maioria das vezes, o bebê descobre uma maneira de se desenvolver, sejam quais forem às condições que o ambiente lhe ofereça.
A construção do cérebro começa na fase inicial da gestação. Durante o primeiro mês, sinais químicos fazem com que um grupo de células no embrião em desenvolvimento comece a se transformar no sistema nervoso.
Três semanas depois da concepção, a placa neural, camada de células que percorre a extensão do feto, une suas extremidades para formar o tubo neural, que mais tarde se transformará no cérebro e na medula espinhal.
O cérebro infantil tem uma quantidade excessiva de sinapses provocadas pelos estímulos (passagem do impulso elétrico e químico entre os neurônios). Esta exuberância sináptica continua até o início da adolescência, quando então começa a ser reduzida por eventos regressivos. Ou seja, perda de funções necessárias para continuar o desenvolvimento cerebral.
O estágio final de maturação do sistema nervoso é marcado pelo processo de mielinização (formação da bainha de mielina). Este se inicia no útero (sexto mês), sua produção intensifica após o nascimento (por volta dos dois anos), e pode prosseguir até a terceira década.
O cérebro infantil em desenvolvimento é plástico, ou seja, capaz de reorganizar-se em padrões e sistemas de conexões sinápticas para melhor adequar o organismo em crescimento às novas capacidades intelectuais e comportamentais da criança.
Permita que a criança tenha uma qualidade de estímulos através do ato de brincar, pois as brincadeiras infantis são ferramentas fundamentais para o desenvolvimento de novas conexões neurais.
Importante pensar e reconhecer que a escola é um espaço de múltiplos estímulos para o cérebro da criança, e é nela que se promove o desenvolvimento para a autopoiése (capacidade dos seres vivos de produzirem a si próprios) da aprendizagem, que se constroi em bases afetivas.
A aprendizagem acontece à medida que os neurônios são estimulados e respondem a um potencial de ação.
“[…] Sem a Educação das Sensibilidades, todas as Habilidades são tolas e sem sentido"…
Rubem Alves