por Patricia Gebrim
Um dia você acorda, olha ao redor e se percebe vivendo em um mundo que não faz muito sentido para você. Vê as pessoas tristes, fazendo mal umas às outras, fazendo mal a si mesmas. Você enxerga com clareza que algo precisa mudar, e decide iniciar a mudança por si mesmo.
Decidido a fazer a diferença, depois de um tempo, em um grau maior ou menor, você finalmente vai simplificando sua vida. Se livra dos excessos. Descobre que sua caminhada é mais leve sem tanta coisa para carregar.
Muitas coisas começam a mudar na sua vida. Você passa a procurar se alimentar melhor, talvez corte a carne de sua dieta, talvez escolha assumir os cabelos brancos, talvez escolha vestir um tipo diferente de roupa, menos ligada ao status ou moda, mais associada ao conforto e ao seu gosto pessoal. Você procura um trabalho onde possa honrar seus valores, talvez deixe de conviver com algumas pessoas e encontre outras, mais em sintonia com a sua essência. Talvez faça cursos, pratique meditação, ou yoga. Talvez compre uma bicicleta, viaje para lugares diferentes, busque mais pelo silêncio.
Algumas dessas pessoas, além dessas mudanças de atitude, aprendem a respeitar os outros, suas escolhas, seu momento, suas limitações. Não julgam nem se sentem superiores. Procuram compartilhar a harmonia, o amor, a delicadeza, a paz.
Mas outras, por mais que caminhem aparentemente nessa direção, estão apenas criando uma máscara espiritual, diariamente lustrada com atitudes que lhes dão a sensação de serem melhores ou mais sábias do que o resto da humanidade.
Não importa se você medita, entende de chacras e sente uma energia pulsando na palma da sua mão, se por outro lado você critica e julga aqueles que fazem escolhas diferentes das que acredita serem as corretas. Se condena os que comem carne, os que compram coisas caras, os que pintam os cabelos ou fazem botox. Se menospreza os que gostam de dançar até amanhecer numa balada. Se você julga as pessoas por todo tipo de coisa, "essa é superficial , aquela mentiu para o marido, o outro vive fazendo churrascos, blá, blá, bla", isso significa que há pouca espiritualidade em você.
A espiritualidade, no meu entender, está baseada na confiança de que tudo é divino e que tudo está acontecendo exatamente como deveria acontecer. Ser espiritual é compreender que estamos todos vivendo experiências, e que cada um precisa de experiências diferentes para caminhar, para evoluir. Ser espiritual tem a ver com viver cada experiência que surge em nosso caminho com o máximo de consciência, aprender, crescer, nos tornarmos seres mais capazes de amar. E permitir que assim seja para todos.
A espiritualidade é uma entrega. A entrega do nosso ego à nossa alma, à luz que mora em nosso íntimo. Sem essa entrega, todas essas atitudes consideradas espirituais são atos vazios, tristes máscaras, apenas mais uma das inúmeras caixinhas prontas que são oferecidas àqueles que ainda não encontraram seu verdadeiro ser.
A felicidade não é uma criança perdida a ser encontrada. Enquanto continuarmos procurando, será como se ela constantemente escapasse de nós. A felicidade está aqui, nunca deixou de estar, agora mesmo. Ser espiritual é saber disso, aprender a aceitar e amar o momento exatamente como ele é. No exato momento em que fazemos isso, em que expressamos essa aceitação total de tudo e de todos, nos tornamos o que buscávamos. Nos integramos com tudo o que existe. Finalmente percebemos que a criança estava em nosso colo o tempo todo, e simplesmente a abraçamos e amamos com todas as fibras do nosso ser.