por Luiz Alberto Py
A questão que vou tratar aqui hoje é: como recuperar a autoestima prejudicada. Trata-se de começar a reconstruir a relação do indivíduo consigo mesmo, dentro de um parâmetro diferente, que não seja o parâmetro da exigência social, da exigência parental, da exigência no colégio.
Pois nos colégios é o mesmo: dão nota para as crianças. Quer coisa mais medieval, dar nota para uma criança. Uma nota baixa é interpretada como: “não estamos gostando de você.” A tradução é essa. Seria melhor se fosse um convite a melhorar, e não uma sanção.
Por mais que nós, como pais e educadores, sejamos cuidadosos e em vez de dizer “não gosto, está feio, está errado, não gosto de vocês”, nos esforcemos para constantemente repetir: “eu adoro vocês, eu amo vocês”. Por mais que se acentue: “eu fico chateado quando você faz uma coisa assim, mas eu não deixo de gostar de você”, e embora sempre ressalvemos para evitar abalar a autoestima deles, a escuta das crianças inevitavelmente passa pelo não gostar. Faz parte da nossa cultura, da sociedade, da vida em comum, dos seres humanos, da existência da razão que vê o futuro, não podemos nos queixar disso. Essas lesões na autoestima são o ônus de se ter uma razão e o que podemos fazer é procurar minimizar isso.
Autoestima: filho mais velho em geral sofre mais
Mas está lá, não tem jeito. E há crianças que são extremamente sofridas com essa obrigação de ter de fazer tudo certo. Geralmente são os filhos mais velhos; os segundos já estão mais protegidos porque tem o irmão na frente errando e sofrendo com as responsabilidades.
Para se mudar a situação de baixa autoestima, o melhor instrumento de que dispomos é a tolerância, que nos é ensinada pelo amor. Através dela aprende-se a lidar com os erros. Quando aceitamos a ideia de desenvolver uma capacidade para tolerar os erros percebemos que esta atitude reforça a autoestima, a qual, por sua vez, contribui para uma melhor tolerância, gerando um círculo virtuoso que melhora a relação de cada um consigo mesmo.
Nesta relação, é de crucial importância o entendimento de que precisamos nos dar todas as oportunidades para tentar e experimentar, mesmo errando, e insistir em nossas tentativas e experiências enquanto for razoável acreditar nas possibilidades de se chegar ao sucesso. Esta é uma das wp_posts da autoestima, pois o amor-próprio se revigora nos momentos em que nos permitimos o esforço das tentativas, da busca, do aprendizado.
Generosidade do perdão e displicência vazia
Vale a pena ressalvar uma crucial diferença entre a generosidade do perdão e a displicência vazia de uma complacência que tudo aceita sem nada questionar. Importa distinguir o erro repetido e estagnado, do erro cometido em busca do acerto, do aprimoramento, a partir do qual se desenvolve um processo de crescimento. Assim, quando por detrás do erro está o empenho e a procura, deve haver uma margem de aceitação dele, de tolerância para com suas conseqüências negativas, pois daí pode advir o mais positivo de todos os resultados – a evolução, mola fundamental do processo de vida. Este tipo de erro precisa ser bem recebido, pois, no longo prazo, dele resulta o bem.
Quem tem boa autoestima em geral é altruísta
Muitas pessoas confundem atitudes de egoísmo com autoestima. Há uma diferença enorme entre uma e outra forma de sentir e de se comportar. Geralmente, a pessoa egoísta se comporta assim exatamente por falta de autoestima. Na maioria das vezes, o egoísmo é um pobre e insatisfatório substituto de um sentimento real de autoestima. As pessoas bem dotadas de autoestima costumam ser generosas, solidárias e altruístas, comportando-se de uma maneira oposta ao comportamento do egoísta. Este, por insegurança ou por ganância, sente necessidade de dar excessiva atenção às suas necessidades e aos seus desejos. Ansioso, procura atender seus interesses colocando-os à frente de qualquer outra coisa.
Curiosamente, encontro com muita frequência pessoas acusando outras de serem egoístas. A maioria delas, entretanto, é apenas um egoísta que está irritado por não ver seus interesses atendidos pelo outro. Quando existe um conflito de desejos o mais comum é que cada um lute pelo seu interesse.
Neste momento é que podemos perceber com clareza pessoas que primam pela generosidade e pelo altruísmo, abrindo mão de vantagens para beneficiar os outros. Estas pessoas geralmente estão tranquilamente felizes, por desfrutar de uma boa autoestima, e podem, sem sofrimento, abrir mão de alguma satisfação ou prazer para beneficiar outro mais necessitado ou carente. É como alguém que, por ser suficientemente abastado, pode ser dar ao prazer de ajudar os outros. Quem tem elevada autoestima possui uma riqueza interior que lhe permite ser dadivoso sem se considerar prejudicado.