por Renato Miranda
Na terceira parte da *série de textos sobre bem-estar (caracterizado pela harmonia biopsicossocial) escreverei sobre o terceiro passo para a manutenção da saúde cíclica (estado psicofísico ótimo para a realização das atividades cotidianas): restabelecer as forças a tempo (antes de uma nova tarefa).
Atletas e pessoas que buscam sua auto-realização e, portanto, estão em constante atividade, naturalmente têm um grande desgaste de energia em suas rotinas, o que provoca uma desorganização no organismo psicofísico. Essa desorganização é representada, por exemplo, pelo cansaço (e em muitos casos, esgotamento) físico, mental, e também emocional.
Homeostase
Este fenômeno é vivenciado constantemente e temos que aceitá-lo como um processo natural da vida do ser humano, que pode (e deve) ser bem administrado. Para tanto, é necessário uma atividade que seja mobilizadora para manter ou reorganizar nosso equilíbrio corporal e mental (psicofísico). Essa atividade é denominada homeostase. Ex. alimentação e descanso.
De princípio parece que estamos falando de algo muito óbvio: depois de uma atividade física ou psíquica intensa, é fundamental o descanso, a alimentação e a hidratação. No entanto, com as exigências para um alto desempenho nos dias atuais em que a competição por melhoria de resultados é constante, reorganizar (recuperar) as energias se transformou para o atleta em algo não muito simples, e muitas vezes o mesmo acontece em outras atividades da vida humana além do esporte propriamente dito.
Quando as forças não são restabelecidas a tempo para o início de uma nova tarefa há uma queda inevitável de rendimento. Técnicos distraídos, ao invés de permitirem uma recuperação adequada, aumentam ainda mais os estímulos dos treinamentos em busca do desempenho desejado. Nesse caso, é necessário refletir sobre o conceito de simultaneidade psicofisiológica, ou seja, qualquer atividade pode carregar consigo tanto aspectos desgastantes (entrópicos) quanto de (re) equilíbrio (homeostáticos).
Por exemplo:
A atividade física realizada por um atleta pode funcionar como um excelente meio restaurador das forças e do equilíbrio do bom-humor. No entanto, esta mesma atividade, com o decorrer da tarefa, irá provocar desníveis ou desgastes enérgicos, tais como: a sede e o cansaço, caracterizando um estado de entropia.
Então, é necessário favorecer um outro processo homeostático. Neste caso, água para restabelecer o nível hídrico e descanso para recuperar as forças. Este processo é contínuo e requer um sucessivo desdobramento de ações. Ou seja, não se consegue ficar tomando água, nem descansando indeterminadamente, caso contrário a homeostase perderá seu sentido.
Cansaço útil
Logo, o restabelecimento das forças é um processo de homeostase que permite a facilitação da manutenção da qualidade de vida positiva do atleta. É bom lembrar que o cansaço é útil para o atleta, porque ao superá-lo utilizará as reservas energéticas do organismo proporcionando novas e efetivas adaptações ao treinamento e, por conseguinte, melhores desempenhos.
A superação do cansaço é o objetivo do esporte. Por isso, medidas de homeostase são condições básicas para a auto-realização. Nesse ponto, não podemos confundir cansaço com esgotamento. O esgotamento é prejudicial ao organismo, pois, as células do cérebro que impulsionam os músculos são as mais prejudicadas. A tarefa do técnico, então, é não fazer o cansaço do treino passar ao esgotamento. O restabelecimento das forças, a tempo para se fazer uma nova atividade, é tão importante que talvez seja por isso que passamos um terço de nossas vidas dormindo.