por Elisandra Vilella G. Sé
Dados do Censo Demográfico 2010, divulgados em 29 de junho pelo IBGE, apontam que que 45,6 milhões de brasileiros têm ao menos uma deficiência: visual, auditiva, motora, mental ou intelectual. Desse percentual 9,5 milhões são idosos.
Normalmente a velhice pode implicar uma diminuição da independência e da autonomia, dependendo dos fatores biológicos, cognitivos, emocionais, sociais e econômicos que influenciam o processo do envelhecimento.
Em alguns, a perda da capacidade funcional é mínima, em outros pode ser mais acentuada.
Durante o processo normal de envelhecimento, as pessoas podem compensar as perdas e adquirir maior adaptação funcional: realização de tarefas, como por exemplo, tomar banho, andar, comer. Esse processo de adaptação é entendido como uma estratégia para envelhecer bem, maximizando e otimizando habilidades para obter resultados compensatórios, positivos e desejáveis.
Mas e a pessoa que envelhece com uma deficiência?
Particularmente uma deficiência física. Uma coisa é tornar-se fisicamente impossibilitado de realizar atividades devido a doenças e perdas que ocorrem na velhice; outra coisa é conviver com a deficiência durante toda a vida ou parte dela e envelhecer com ela.
Estudos descrevem que as pessoas que adquiriram a deficiência na infância possuem maior adaptação pessoal ao contexto e ao ambiente, no que diz respeito à existência de barreiras arquitetônicas: como por exemplo transitar pelos cômodos de uma casa.
Pesquisas populacionais realizadas em vários países mostram que, apesar da velhice não ser sinônimo de doença e de incapacidade, à medida que as pessoas envelhecem, aumenta a possibilidade de que venham a apresentar algum prejuízo funcional.
Esses estudos revelam também que é significativo o efeito da idade avançada associada a certas condições causadoras de incapacidades físicas ou cognitivas (mentais) sobre essa adaptação funcional.
* Segundo Resende (2001), no Brasil, um resultado do aumento da expectativa de vida e dos avanços médicos e tecnológicos é: o gradual aumento do número de pessoas que envelhecem com uma deficiência física, isto é, que estão vivendo o suficiente para fazerem parte do grupo de velhos. Atualmente, esse grupo é o foco de atenção de profissionais de saúde, de políticas públicas, etc.
O entendimento por parte da população e da literatura sobre envelhecer com deficiência ainda é escasso, vide data do estudo publicado acima. Os estudos sobre deficiência ainda estão amadurecendo no Brasil, bem como a literatura sobre as políticas de inclusão. Atualmente, esse tema começa a ocupar mais espaço nas políticas públicas brasileiras em virtude do envelhecimento populacional que reforça o reconhecimento de que a experiência da deficiência não pertence apenas ao universo do inesperado e sim faz parte da vida de grande número de pessoas.
Entender e discutir a relação envelhecimento e deficiência é muito importante no sentido de compreender as limitações que acompanham o envelhecimento, como as limitações podem tornar-se causa de deficiências e como a pessoa com deficiência que envelhece poderá organizar sua rotina e se adaptar às novas necessidades.
É importante ressaltar que a interdependência (leve dependência para várias tarefas) e o cuidado são necessários em vários momentos da vida.
A deficiência no envelhecimento é uma condição que pode colocar a pessoa em desvantagem em termos de funcionalidade e dificultar adaptações arquitetônicas em ambientes sem condições ergonômicas adequadas, bem como ter que lidar com preconceitos e estereótipos, como por exemplo, o de serem considerados incapazes e de serem rejeitados por estarem num segmento mais vulnerável, caso de crianças e idosos.
Na velhice a probabilidade de perdas físicas psicológicas e sociais é maior do que a ocorrência de vantagens evolutivas porque o envelhecimento normal prevê um processo de contração. Ou seja, muitas vezes o aparecimento de doenças crônicas e de incapacidades na velhice é associado à deterioração, à redução de competências e ao aumento da necessidade de suporte, de auxílio.
Envelhecer com deficiência e bem-estar com ajustamento psicológico, produtivos e engajados com a vida, tendo senso de autonomia, pode ser alcançado por diversas pessoas, e isso depende da pessoa responder com resiliência (capacidade de superação) aos eventos que surgem durante a vida.
Assim, é muito importante que os profissionais de saúde que trabalhem com reabilitação compreendam como as pessoas se ajustam e vivem seu dia a dia com uma deficiência.
Envelhecer com deficiência exige competência adaptativa, buscando o equilíbrio para lidar com as adversidades e ajustar-se aos desafios impostos pela própria deficiência, a lutar pelos seus direitos, a estabelecer prioridades e manter relações sociais.
Um grande desafio está também em a sociedade como um todo, saber lidar com a diversidade, a respeitar as diferenças, as particularidades e peculiaridades de cada pessoa, a começar pelo respeito ao próximo. Um exemplo disso é o respeito ao idoso que tanto nossa sociedade precisa. Afinal, amanhã nós seremos os idosos e eles muito contribuíram para construção de nossa nação.
É muito oportuno o respeito ao seu trânsito: faixas do pedestres, vagas de estacionamento destinados aos idosos e deficientes.
* Marinéia Crossara de Resende: psicóloga, mestre em gerontologia, pesquisadora na área do envelhecimento e deficência.