por Jocelem Salgado
Não existe comprovação científica sobre o 'poder emagrecedor' da caralluma O extrato obtido de um cacto indiano tem sido a onda da vez das propagandas que prometem quase tudo na área do emagrecimento. A caralluma fimbriata já é febre nos EUA e invadiu rapidamente o Brasil.
Fizemos uma avaliação dessa planta, e verificamos que se trata de um fitoterápico e não é considerado alimento pela Anvisa. Os poucos estudos realizados com ela não são focados nos benefícios atribuídos a planta, ou seja, perda de peso. Uma importante revista semanal de circulação nacional entrevistou recentemente vários especialistas e todos concordaram que as alegações são falsas.
No entanto, o entusiasmo das mulheres por esse "produto natural" se deve principalmente a depoimentos de consumidores que asseguram a perda de até 11 kg em 4 semanas. É só buscar caralluma fimbriata na web e verá inúmeros textos exaltando os efeitos milagrosos desse novo suposto emagrecedor. No entanto, surge aquela dúvida: isso funciona mesmo?
Vamos entender melhor o que é a caralluma.
A caralluma é uma fibra vegetal obtida a partir do extrato seco de um cacto de origem indiana, com grande prevalência principalmente no interior da Índia.
A descoberta do medicamento foi resultado de um estudo envolvendo povoados da Índia que mastigavam o cacto em sua preparação para grandes viagens, no intuito de inibir o apetite. O uso se tornou habitual na região por séculos. Nesses povoados, a planta é normalmente consumida de três formas: cozida, em conserva e até mesmo crua.
Assim, com o desejo de perder peso e a promessa de continuar tendo energia, o produto virou febre no Brasil, sendo comercializado principalmente na forma de cápsulas por farmácias de manipulação.
No entanto, uma reportagem exibida no programa Fantástico da Rede Globo, em dezembro de 2010, relatou os falsos remédios para emagrecimento, entre eles a caralluma fimbriata. Complementando a reportagem a agência reguladora de medicamentos destacou que o produto não é regularizado no Brasil e não tem qualquer comprovação de segurança e eficácia, provocando destacável polêmica entre as inúmeras consumidoras do medicamento no país.
No dia seguinte à exibição do programa, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária editou resolução que proíbe a importação, fabricação, distribuição manipulação e comercialização de produtos que contenham caralluma fimbriatta. Segundo a Resolução RE 5915, de 20 de dezembro de 2010, a proibição ocorreu devido à falta de evidências científicas quanto à eficácia e segurança da planta. Uma matéria tem sido veiculada na imprensa sobre um estudo afirmando o potencial dessa planta em reduzir o peso corporal. No entanto, não existe tal estudo e todos os logos que aparecem na página (Globo, CNN, etc.) bem como a imagem do Fantástico foram utilizados para dar credibilidade, mas no fundo é pura enganação.
Acessando link: http://dieta2011.com/?utm_source=fbml&utm_medium=cpc&utm_campaign=fbman, você verá que aparece propaganda de um produto à base de Caralluma.
Portanto, não se trata de reportagem, mas pura propaganda falsa de um produto.
Quem perde com isso sem dúvida alguma é o consumidor desinformado que vê sua saúde ameaçada e seu dinheiro ir pro ralo…
Quanto às evidências cientificas sobre o produto, um único estudo realizado na Índia propôs a aplicação de 1g de extrato de caralluma em 50 homens e mulheres adultos (25-60 anos) com sobrepeso (*IMC superior a 25Kg/m²) durante 60 dias, a fim de detectar o efeito do extrato nas **medidas antropométricas, ingestão alimentar e avaliação do apetite. Nos resultados, foi possível detectar que a circunferência da cintura e os níveis de fome mostraram uma diminuição significativa no grupo experimental quando comparado ao grupo placebo durante o período de observação.
No entanto, não foi verificada diferença significativa entre o grupo placebo e experimental quanto à redução do peso corporal, índice de massa corporal, circunferência do quadril, gordura corporal e ingestão energética. Diante de tal resultado, verifica-se que a redução de peso corporal não pode ser vinculada ao consumo de caralluma fimbriata.
Outro problema seriam os possíveis efeitos colaterais provavelmente provocados pelo consumo por um longo período desse fitoterápico, os quais ainda não foram estabelecidos por conta da falta de estudos científicos. Isso justifica a preocupação da agência nacional de vigilância sanitária quanto à comercialização e consumo do mesmo. Outro fato preocupante era o da compra do medicamento poder ser realizada sem a necessidade de uma receita médica por se tratar de um produto “natural”. Isso leva a crer que o seu consumo possivelmente não contaria com um acompanhamento médico a fim de detectar possíveis efeitos colaterais como palpitação, pressão alta ou problemas cardíacos.
Diante de tantos alarmes e promessas falsas, fica a velha dica: nada como uma alimentação equilibrada associada à prática de atividades físicas para assegurar sua saúde!
A pesquisa na Índia citada está descrita no artigo abaixo:
Effect of Caralluma Fimbriata extract on appetite, food intake and anthropometry in adult Indian men and women
Author(s): Kuriyan R (Kuriyan, Rebecca), Raj T (Raj, Tony), Srinivas SK (Srinivas, S. K.), Vaz M (Vaz, Mario), Rajendran R (Rajendran, R.), Kurpad AV (Kurpad, Anura V.) Source: APPETITE Volume: 48 Issue: 3 Pages: 338-344 Published: MAY 2007
*IMC – Índice de Massa Corpórea
**Antropometria – é o conjunto de técnicas utilizadas para medir o corpo humano ou suas partes.