por Roberto Shinyashiki
Carícia é a unidade de reconhecimento humano. Começa no nascimento, com o toque físico. Depois passa para palavras, olhares, gestos e aceitação.
Na história das carícias, existem conceitos de distribuição de carícias que levam a gente a acreditar que as carícias são poucas, tão poucas que precisamos guardá-las. O resultado é mesquinhez de afeto. Em contrapartida, todos nós queremos ser reconhecidos. Todos nós necessitamos de carícias.
Homens e mulheres guardam seus carinhos como um avarento guarda dinheiro. Ou sexualizam tudo (e vivem se culpando por isso, achando que estão pecando), fogem do contato real com as pessoas e acabam vivendo na miséria afetiva, ou sexualizam a vida de forma consumista, em que o orgasmo, a quantidade de parceiros, o desempenho “atlético” passam a ser mais importantes que a entrega.
Então nasce “o amor de troca”!
Se as carícias são em número limitado e podem acabar…
“Então, sempre que lhe dou algo, tenho que receber algo em troca (porque senão eu fico sem nenhuma carícia)!”
“Você tem que cuidar de mim hoje… porque na semana passada eu cuidei de você.”
“Cuidei de você quando pequena, agora você tem que cuidar de mim.”
“Eu vou para a cama com você… se você casar comigo.”
Como se o amor fosse uma moeda.
O prazer da entrega é substituído pelo medo de ficar sem algo, de ficar vazio. Porque, com o pressuposto de que o amor acaba, é preciso escolher muito bem a pessoa, a situação, para dar carícias… Isso é miséria afetiva, em que as pessoas passam fome de amor, apesar da abundância de amor que existe na humanidade…
É como na miséria humana, na qual pessoas passam fome, apesar de produtivas, porque os recursos gerados são usados para aumentar o controle de umas sobre as outras.
A miséria afetiva é tão ou mais grave do que a miséria material, pois tira do ser humano a sua condição de homem participante de sua espécie, porque conduz o homem à mesquinhez, à solidão.
As pessoas, em razão da mesquinhez afetiva, começam a desconsiderar suas necessidades. Como diz o psiquiatra inglês Ronald Laing: “Com um trabalho enorme, um desejo é negado, substituído por um receio, que gera um pesadelo, que é negado, e sobre o qual é, então, colocada uma fachada”.
Porque para alguém ser ele próprio é necessária uma dinâmica que respeite sua individualidade. Mas as pessoas condicionam-se a seguir padrões predeterminados em que o novo incomoda, amedronta, revela os sistemas que a família e toda a sociedade desenvolveram para anular a sua criatividade.
E o novo, o individual, é sacrificado, em benefício do coletivo. Se for muito revolucionário, cria-se a ameaça de punição (“Portanto, o melhor que você faz, é assumir a direção da nossa fábrica, porque com esta crise…”).
E passa-se a viver dentro de um sistema de medo.
Medo de ser abandonado, rejeitado ou criticado.
E é dada uma importância absurda ao perigo de não ser amado por todos.
Sempre existirão pessoas que gostam de nós do jeito que somos (e isso é sensacional); outras podem não gostar, pelas mais variadas razões — e isso é um direito também. É importante entender que todo mundo tem o direito de amar quem quiser. Mas, independentemente da reação das pessoas, você tem o direito de seguir o seu caminho e buscar a sua forma de ser feliz…