por Roberto A. Santos
Quantas vezes por dia e quantos dias por semana, não amarguramos com problemas que nos parecem descomunalmente grandes, herculeamente impossíveis de se resolver. Contudo, ao nos depararmos com eles, temos uma saída apenas: decifrá-los e resolvê-los ou, cedo ou tarde, sermos por eles devorados, como no mito da Esfinge.
Pensando sobre essas complicadas charadas cotidianas, lembrei de um instrutor de um curso sobre Análise e Solução de Problemas e Tomada de Decisão, que fiz no passado. O mestre dizia que o segredo era "dividir o leão em vários gatinhos", com os quais poderíamos lidar. Por mais ridícula que essa analogia possa ser para mim atualmente, uma coisa ela guarda de verdade: há problemas que podem nos devorar se nada fizermos ou se insistirmos em destruí-lo num golpe só.
A principal lição daquele curso foi a decomposição de uma situação problema, para analisar seus elementos e organizá-los de uma maneira viável de ser entendida. Aprendíamos primeiro a analisar as situações e encontrar o que, de fato, era um problema: um desvio entre o que aconteceu e o que deveria ter acontecido. Por exemplo, por gerações ouvimos no Brasil que este é o País do futuro. Porém, problemas têm havido que impedem que isto se torne realidade e muitos se encontram no Planalto Central.
Daí, me lembrei de outra informação que estava coberta de teias de aranha em minha mente: a Análise Sintática – inútil vilã de vestibulares. Ela trata (até hoje não curou…) da organização das palavras em períodos, frases e orações. Das últimas, me lembro bem pela necessidade de solicitar ajuda de algum 'Ser Superior' para as provas de português do temido Professor Guilherme (vulgo "fantasminha", pois sua imagem já era aterrorizante).
Refletindo sobre as dificuldades aparentemente intransponíveis dos dias de hoje, procurei todos recursos de meu "Drive C" e periféricos, e me deparei com a Análise Sintática. Será que ela poderia vir a meu socorro tantos anos depois de ter me livrado dela?
Juntaram-se ambos ensinamentos de minha memória e a solução de problemas se fez clara pela decomposição (não aquela dos defuntos da série "CSI" – Investigação da Cena do Crime) de elementos complexos em outros mais simples que possam ser compreendidos, administrados e solucionados.
Texto, período, oração
Quando nos deparamos com situações criptografadas, como aqueles textos de Camões, nossa primeira reação é de fuga ("depois da balada desta noite, eu leio esta coisa") ou negação ("deve haver algum erro de impressão aqui…"). O mesmo costuma acontecer com os problemas racionais ou emocionais que vivemos diariamente. Enquanto não pararmos e enfrentarmos aquele texto indecifrável e o decompusermos em períodos, frases e orações que fazem sentido, tudo soará ameaçador. Devemos buscar o sentido completo e a entonação por trás de uma frase, como precisamos buscar o significado de cada parte de um problema, incluída a emoção que o acompanha.
Termos essenciais, integrantes e acessórios
Quem diria que este título tem a ver com análise sintática e não com propaganda de carro. No entanto, aí se encontram os "gatinhos" que o "texto-Leão" se nos apresenta: sujeitos, predicados, complementos nominais e verbais e adjuntos (estes muito encontradiços nas repartições públicas do "baixo clero") que, acredite se quiser, formam um sentido.
Quando analisamos um problema daqueles mais cabeludos do que membros de uma banda de heavy-metal dos anos 90, precisamos entender: Quem, fez o quê, por que, prá quem, como, quando, onde, etc. Aí então, começamos a decifrar os temidos mistérios das esfinges organizacionais.
Em todas as situações-problema, de aspecto aparentemente insolúvel, existe aquilo que é essencial e o que é acessório. E, não raro, ficamos preocupados com o friso do pára-lama dianteiro quando roubaram nosso motor. Discernir o importante do urgente, que, geralmente, não tem nenhuma importância, é boa parte da análise do que precisa ser atacado como desvio de rota merecedor de atenção.
Não adianta perdermos tempo com um maravilhoso adjunto adnominal ou com o esbravejante vocativo, se não soubermos nem o que aconteceu (o verbo cheio de nove horas e flexões) ou quem o provocou (o muitas vezes oculto sujeito).
Então, precisamos tratar dos problemas dos negócios, sentimentais, financeiros como uma análise sintática on-line (para modernizar o conceito um pouco), ou seja, não esperar o momento da autópsia do problema, depois que as conseqüências podem ter sido fatais. Antes, buscar a efetivação de sua composição diante de nós, para nos anteciparmos em compreender cada pequeno elemento e dar-lhe pequenas e simples soluções, para evitar os grandes descarrilamentos.
Ao refletirmos sobre a análise sintática de nossa língua e a solução de nossos problemas, sobrevêm a razão e finalidade de ambos: a comunicação entre as pessoas. Não há texto complexo ou problema cabeludo que resista à tesoura da comunicação, aquela que corta mal entendidos e busca consensos. Porém, esta requer um esforço, nem sempre fácil de se empreender.
Como conclusão final, nunca jogue fora seus aprendizados, por mais inúteis ou esotéricos que possam parecer no momento que o está adquirindo. Alguma utilidade para sua vida futura poderá surgir a partir de um período de reflexão ou depois de muita oração.