por Patricia Gebrim
Eu me pergunto, enquanto aqueço meus dedos em frente ao teclado:
“De onde tiramos essa certeza de que todos devemos namorar, casar e ter filhos para sermos felizes?”
É incrível como acabamos assimilando algumas ideias sobre a vida como se fossem verdades universais, não é? Pense comigo… então pessoas solteiras, ou sem filhos, nunca poderiam ser felizes? Você acredita mesmo nisso???
Bem, se eu começo este artigo com esses questionamentos é por que tenho a proposta de escrever sobre o tal casamento, e a primeira coisa que me ocorre dizer é que “o casamento não é para todos!”.
Eu acredito de verdade que algumas pessoas fariam um enorme favor a si mesmas, e aos outros, se optassem por não se casar. (Digo o mesmo quanto a ter filhos, mas isso fica para um próximo artigo!)
Não que eu seja contra o casamento, longe disso!
Mas sou a favor de escolhas conscientes.
É preciso que a gente abra mão dessa visão romântica que vende o casamento como um conto de fadas, onde os parceiros se casam e “são felizes para sempre”, como se isso acontecesse por um passe de mágica, sem o menor esforço!
Ouça … É claro que eu acredito que podemos ser felizes no casamento!
Tanto quanto podemos ser felizes se estivermos solteiros, ou se dedicarmos nossa vida a um trabalho, ou a viagens, ou a estudar as salamandras do sudoeste asiático! Eu repito: Não é o casamento que fará ninguém feliz! A felicidade é uma conquista interna.
Vejo o casamento como uma escolha. Escolher casar é escolher ter um ombro onde podemos nos deitar de vez em quando, um parceiro para dividir as coisas boas e ruins da vida. É escolher aprender junto com o outro coisas como amor, respeito, perdão, amizade.
Longe de ser um “parquinho de diversões” recheado de doces, divertimentos e riso solto, o casamento na verdade seria melhor representado se comparado a uma escola, com seus testes, desafios, possibilidades e conquistas. Um espaço de crescimento e mútua transformação – com deliciosos toques de prazer e ternura, é claro, afinal ninguém é de ferro !!!!
O casamento pode ser uma oportunidade maravilhosa ou uma armadilha ardilosa. Dependerá do grau de amadurecimento dos que se casam!
Um pequeno teste para você!
Pare um pouco a leitura e pergunte-se o que você espera do casamento.
Você espera que o casamento seja um espaço onde você será plenamente aceito como é?
Espera que seu casamento seja livre de conflitos?
Espera prazer ilimitado? Perfeito entendimento entre você e seu (sua) parceiro (a)?
Segurança total?
Você sonha chegar em casa e encontrar à sua espera uma pessoa sempre feliz, pronta a satisfazer todas as suas necessidades?
Você acredita que isso seja possível?
Eu vou lhe dizer que sim, talvez isso seja possível, se – preste atenção agora!!! – “se” você for capaz de aceitar-se plenamente como é, “se” nunca tiver nenhum conflito em sua vida pessoal, “se” for capaz de permitir-se prazer ilimitado, “se” for totalmente seguro, “se” estiver sempre feliz e pronto a satisfazer todas as necessidades de quem ama. E “se” encontrar alguém que também tenha todas essas características!
Bem, por outro lado, se aceitarmos que o casamento seja um espaço de crescimento, precisamos considerar que todos os nossos aspectos imaturos e não trabalhados aparecerão nesse espaço, bem como os de nosso parceiro conjugal. Todos nós trazemos conosco uma boa quantidade de lixo emocional, que fomos acumulando desde nossa infância. Esse lixo é feito de ideias errôneas, crenças distorcidas, percepções enganosas. Bem, todas essas distorções atuais e passadas aparecerão refletidas na tela do casamento, e você precisa saber que isso vai acontecer!
O casamento é como um espelho. Impossível não nos enxergarmos nele!
Quer ver? Imagine, por exemplo, que você tenha sido uma criança insegura em uma família grande, onde ninguém nunca tenha dado ouvidos às suas opiniões. O tempo passa, e você seguiu achando que muitas vezes as pessoas ao seu redor não ouviam você, nem os amigos, nem o chefe… ninguém. Então você se casa, faz uma linda festa, e passa-se um tempo, e então você começa a ter “certeza” de que … seu parceiro simplesmente não ouve você!
É isso o que quero dizer com enxergar-se no espelho do casamento. E é nesse ponto que podemos decidir se o nosso casamento será uma história de crescimento ou não.
Se aceitarmos os conflitos do casamento como pistas sobre os aspectos a serem trabalhados em nós (e no outro), poderemos conviver com as imperfeições e utilizá-las para nos tornarmos pessoas mais maduras e melhores. Poderemos ajudar, amorosamente, nosso parceiro a fazer o mesmo. Não nos sentiremos tão ameaçados quando as coisas parecerem dar errado. Na verdade aceitaremos melhor as crises e imperfeições. As nossas e as de nosso parceiro. Nesse tipo de casamento, também haverá abertura para a alegria, o prazer, o afeto compartilhado, o companheirismo. Não haverá exigências inalcançáveis ou expectativas irrealistas.
Mas se esperarmos demais do casamento e encararmos os conflitos como sinais de imperfeição, como se o casamento estivesse defeituoso e precisasse ser consertado, ou mesmo “jogado fora” (você já reparou como hoje em dia as pessoas jogam fora sem pensar?); perderemos essa preciosa oportunidade, e mais; ficaremos aprisionados em uma teia indissolúvel de mágoas e ressentimentos. Não é difícil perceber que quando nos recusamos a lidar com os conflitos, mesmo que consigamos desviar deles, em breve eles voltarão, minando a vida do relacionamento.
Para aqueles de vocês que são mais práticos (embora eu não acredite em regras do tipo “como ser feliz em seu casamento”) vou compartilhar algumas reflexões…
– Conflitos e desentendimentos fazem parte de casamentos saudáveis.
– Não espere demais de seu casamento! Aprenda a valorizar o que você tem.
– Um casamento pode ser bem-sucedido se os parceiros amorosos estiverem dispostos a crescer juntos, abrindo mão de culpar o outro pelas dificuldades da relação.
– Homens e mulheres “cuidam” de formas diferentes. Aprenda a valorizar a forma de cuidar do outro!
– Não espere que seu parceiro satisfaça todas as suas necessidades!
– Exercite colocar-se no lugar do outro. Pergunte-se: “Como será que ele (ela) está se sentindo com tudo isso?”
– Não leve as coisas tão a sério e regue seu casamento com boas doses de bom humor.