por Roberto Goldkorn
Há cerca de quatro meses um amigo me contratou para uma consulta em sua casa nova. Ele veio me buscar em sua SUV moderna e luxuosa. Fomos até um dos condomínios fechados mais sofisticados que conheci, meu “sonho” de consumo.
Sua casa me pareceu à primeira vista maravilhosa. Um amplo gramado e algumas árvores criavam a moldura harmoniosa para uma casa rústica, mas aparentemente legal.
Logo ao entrar, me deparei com sinais evidentes de encrenca: bagunça, coisas amontoadas em cantos, mofo escondido aqui e ali, vidros quebrados, e uma sensação de desconforto que não pude ignorar.
A cada cômodo novo, sinais de “doença” e de contaminação dos moradores. Por fim, sem que eu pedisse, meu amigo me relatou o histórico de desavenças, doença e morte ocorrido (e em curso) naquela habitação, por parte dos antigos moradores.
Sugeri ao meu amigo que colocasse em prática as minhas orientações o mais rápido possível e que pensasse seriamente em se mudar dali no máximo em um ano e meio.
Resumo da ópera: ele começou numa espiral descendente perdendo, perdendo… até que na semana passada me confessou que estava quebrado, nem a luxuosa SUV existia mais.
É óbvio que não podemos atribuir apenas à casa essa desdita do meu amigo.
Minha teoria é a de que o programa de derrocada instalado no inconsciente dele o atraiu para a casa doente, que se encarregaria de fazer o resto.
É possível que essa casa tivesse sido construída sobre um pântano, ou sobre bolsões de gás, ou sobre algum antigo cemitério. Não tenho ferramentas para me certificar desses focos “infecciosos”. Mas posso perceber que há algo de muito errado pelos sintomas visíveis e pelo rastro de destruição (histórico) deixado pelo imóvel.
O interessante é que seus moradores tendem a defender essas habitações nefastas. Isso também acontece com viciados em geral, psicopatas e outros portadores de patologias que, assim que são cutucados, se apressam em produzir defesas racionalizantes ou emocionais de seus carrascos.
Isso pode ser chamada com certa licença poética de outra versão da síndrome de estocolmo (quando os reféns de um sequestro acabam se afeiçoando e colaborando com seus sequestradores).
De certa forma é o mesmo comportamento bizarro que vemos na mulher espancada que defende o companheiro espancador.
Isso só confirma essa simbiose que passa a existir entre habitação e habitante, unidos pela doença, como o casamento do sádico com o masoquista.
Por isso é tão difícil quebrar essa ligação onde o corpo se encaixa no caixão de forma perfeita.
As casas que matam, nem sempre matam, mas costumam aleijar seus habitantes mais insistentes.
A minha percepção é de que mais importante que operar “curas” na habitação é conseguir operar a “cura” nos seus habitantes. Conscientizá-los da relação doentia que estão estabelecendo e se possível a fugirem de lá, o mais rápido possível.