por Edson Toledo
O tema proposto hoje é bem amplo. Assim não tenho a pretensão de esgotá-lo. O objetivo é chamar a atenção para um crescente fenômeno que os pais têm enfrentado com seus filhos: a depressão infantil.
Já há algum tempo a Organização Mundial da Saúde (OMS) considerou a depressão o mal do século. E não é por menos, já que ultrapassa a casa de 450 milhões de pessoas afetadas por essa doença. Esse número vem crescendo e afeta pessoas de todas as idades, gêneros e classes sociais.
Segundo levantamento do departamento de informática do Sistema Único de Saúde do Brasil (DATASUS), realizado em 2014, aproximadamente, nos últimos 15 anos, o número de mortes relacionadas à depressão cresceu 705% no Brasil. Pacientes com depressão grave podem cometer suicídio. Esse é um dos motivos para que o profissional de saúde mental faça uma investigação criteriosa.
Dados do Ministério da Saúde em parceria com o Instituto de Geografia e Estatística (IBGE) apontaram que no país 11,2 milhões de pacientes adultos estão depressivos, porém, recentemente, crianças e adolescentes passaram a fazer parte das estatísticas. Segundo levantamento realizado pela OMS, e divulgado em dezembro de 2014, o percentual de diagnósticos de depressão na infância (fase que vai do nascimento aos 12 anos de idade) passou de 4,5% para 8% só nos últimos 10 anos.
Só para nos situarmos, historicamente foi entre os séculos 17 e 18 que a infância passou a ser vista como uma etapa do desenvolvimento, e as crianças se tornaram seres sociais, com características e necessidades próprias, tendo assumido papel central nas relações sociais, e a adolescência só estabeleceu-se no final do século 19.
As explicações são várias para justificar esse aumento da depressão nessa faixa etária. Especialistas apontam que esse aumento se deve em grande medida às alterações que a sociedade vem passando. Vejamos algumas considerações sobre o cenário que nossas crianças estão inseridas.
Relações na infância
É durante a infância que as relações se tornam mais amplas e complexas dentro e fora do âmbito familiar. Devemos reconhecer que, na grande maioria das vezes, elas se tornam frágeis e deficitárias pela diminuição e baixa qualidade de tempo entre pais e filhos. Sem falar no pluralismo de posturas e rotinas enfrentadas pelas crianças, que chegam a ficar em vários lugares em um único dia, por exemplo: residência, escola, casa da avó ou cuidadores.
Na infância, frequentemente essa criança recebe uma sobrecarga de atividades, cursos e cobranças que desrespeitam seu processo evolutivo (processo de maturidade). Isso é prejudicial ao seu pleno desenvolvimento e pode levar à depressão infantil.
Psicólogos que estudam o desenvolvimento afirmam que os primeiros anos de vida são os mais importantes. Os pais precisam compreender que os filhos necessitam de tempo e dedicação e não de passeios e estímulos (agrados materiais) para serem felizes.
Segundo o psiquiatra e educador, Içami Tiba, falecido em 2015, trabalhamos para conseguir uma melhor qualidade de vida, mas temos menos tempo para nos dedicarmos à família. Ele completa e diz que a falta de interação entre pais e filhos não só afeta o desenvolvimento da criança como é motivo de autocobrança dos próprios adultos. Segundo o psiquiatra, é preciso haver uma disposição interna e disponibilidade externa para colocar a educação dos filhos como prioridade, sem deixar o trabalho de lado.
Para crianças e adolescentes é importante perceber-se parte do cotidiano. Por isso, o planejamento familiar é fundamental. Torna-se necessário rever onde a correria do dia a dia é prioritária, para poder abrir mão de outros momentos e facilitar o convívio, gerando menos estresse.
A explicação para as crianças terem se tornado vitimas desse transtorno psíquico pode estar em diversos fatores, mas os principais desencadeantes estão ligados à vida moderna. O excesso de cobranças e de atividades para que os filhos se tornem competitivos no mercado de trabalho está no topo da lista, junto aos crescentes casos de bullying nas escolas e o aumento de divórcios entre pais e problemas familiares.
As cobranças exageradas vêm em primeiro lugar como causa da depressão infantil, seguidas de rejeição familiar e sobrecarga de responsabilidades.
Sentimentos de tristeza, fraqueza e desânimo estão presentes nessa sociedade altamente competitiva. Exige-se um esforço cada vez maior do que o suportável em relação às adversidades, como falta de emprego, perda de um ente querido, exigências pelo bom rendimento escolar, e principalmente no caso das crianças, independente de sua classe social, o excesso de atividades obrigatórias e a redução do tempo livre para brincar, em casa ou na escola, é um forte gerador de sintomas depressivos.
O recado que deixamos é bem simples, o que eles mais precisam não pode ser comprado com dinheiro: o capital das experiências. Os pais devem falar com os filhos sobre os acontecimentos, suas lágrimas, contar como lidaram e superaram frustrações, rejeições e problemas. Isso ajudará no desenvolvimento de uma criança saudável.
Sem uma infância rica e diversificada, o self (eu) das crianças e dos jovens, que representa a consciência crítica e a capacidade de escolha, não desenvolverá as habilidades para torná-los autores da própria história. E o processo de formação da personalidade desenvolverá ansiedade, fobias, timidez, intolerância, insegurança, consumismo, conformismo, incapacidade de filtrar estímulos estressantes e depressão.