por Jocelem Salgado
Velhos conhecidos da medicina oriental, o chá verde e o chá branco tornaram-se famosos nos últimos anos, devido principalmente às várias pesquisas científicas divulgadas mostrando seus benefícios à saúde. Aqui no Brasil, as duas bebidas já fazem parte da dieta de muitas pessoas e têm sido divulgadas por modelos famosas e celebridades do cinema e da TV, preocupadas com a saúde e a boa forma.
Características diferenciadas
Os chás verde e branco são provenientes das folhas da Camellia sinensis, uma planta procedente principalmente do norte da Índia e sul da China, onde é conhecida desde os primórdios da dinastia Tang (618-907 d.C.).
O chá verde é obtido por meio do murchamento das folhas com vapor que, em seguida, são secas, fase na qual ocorre a inativação de uma série de enzimas, chamadas de polifenóis oxidases. As folhas permanecem verdes e não sofrem qualquer tipo de alteração na sua composição, e o chá resultante desse processo apresenta sabor amargo.
Diferentemente do chá verde, na produção do chá branco, só os brotos mais jovens são colhidos. Durante a maturação, os brotos são protegidos contra a ação do tempo e do sol e a colheita é realizada antes que ocorra a síntese de clorofila nas folhas, quando ficam verdes e começam a abrir. Nessa fase, a folha tem uma coloração prateada, devido à fina penugem branca que recobre os brotos, daí a origem do nome chá branco.
Depois de colhidos, os brotos secam naturalmente, sendo assim menos processados que as folhas do chá verde. Todo esse processo é manual e ocorre poucos dias no ano, entre os meses de abril e maio, uma das razões para a raridade e alto custo do produto. O chá branco apresenta sabor mais adocicado e delicado que o chá verde.
Por ser proveniente de brotos muito jovens, acredita-se que o chá branco apresente uma maior concentração de substâncias bioativas que o chá verde, cujas folhas são mais processadas. Nessa fase de maturação, os brotos contêm uma alta concentração de substâncias ativas como os polifenóis (com ação antioxidante), o que pode sugerir uma ação mais eficiente na redução do risco de doenças quando comparado ao chá verde.
O que torna esses chás tão especiais?
O segredo dos chás verde e branco reside no fato deles serem ricos em polifenóis catequinas, particularmente a epigalocatequina galato (EGCG). A EGCG é um poderoso antioxidante que além de inibir o crescimento de células cancerígenas, é capaz de destruir células cancerosas sem danificar os tecidos saudáveis.
Pesquisas com a EGCG demonstram que a substância também é eficaz na redução dos níveis de colesterol LDL (colesterol ruim), além de inibir a formação de coágulos sanguíneos anormais. Este último assume importância quando consideramos que a trombose (a formação de coágulos sanguíneos anormais) é a principal causa de ataques cardíacos e acidentes vasculares cerebrais.
Os efeitos proporcionados pelo consumo de EGCG também têm sido ligados ao “Paradoxo Francês”. Durante anos, pesquisadores ficavam perplexos pelo fato de, apesar de consumirem uma dieta rica em gordura, os franceses apresentavam uma menor incidência de doenças do coração do que os americanos. A resposta foi encontrada no vinho tinto, que contém resveratrol, um polifenol que limita os efeitos negativos do consumo de cigarro e uma dieta gordurosa. Em um estudo de 1997, pesquisadores da Universidade do Kansas determinaram que a EGCG é duas vezes mais poderosa que o resveratrol, o que pode explicar a razão pela qual a taxa de doenças cardíacas entre os japoneses é muito baixa, apesar de cerca de 75% serem fumantes.
O que dizem os estudos
Enquanto o chá verde já foi alvo de muitos estudos científicos internacionais, são poucas as informações sobre o chá branco na literatura científica. Ainda não há trabalhos representativos e que ofereçam informação fidedigna sobre a bebida, embora se saiba que a mesma é tão ou mais rica em catequinas que o próprio chá verde.
Recentes pesquisas mostram uma forte associação entre o consumo desses chás com uma ação antioxidante, anti-inflamatória e anticarcinogênica no trato digestivo. Alguns estudos evidenciam também os benefícios do chá verde para o coração e o sistema cardiovascular, além da capacidade do chá branco de destruir organismos causadores de infecções causadas por Staphylococcus e Streptococcus.
Estudos realizados pela Universidade de Nova Jersey apontam que o consumo desses chás diminui a incidência do aparecimento de diversos tipos de câncer, como o de mama, pâncreas, cólon, esôfago e pulmão, em seres humanos. Outras pesquisas revelam que eles também estimulam o sistema imunológico, aumentando nossa proteção natural contra as infecções, inclusive contra gripe.
A saúde dentária também tem sido alvo das pesquisas com as bebidas derivadas da Camellia sinensis. Assim como esses chás apresentam a capacidade de destruir certas bactérias causadoras de infecções, ajudando na prevenção da intoxicação alimentar, eles podem destruir bactérias responsáveis pela formação da placa dentária.
Fator coadjuvante na perda de peso
Em relação à perda de peso, testes clínicos mostram que aparentemente esses chás são capazes de aumentar as taxas metabólicas e acelerar a oxidação das gorduras. Dulloo e colaboradores da Universidade de Genebra demonstraram que além da cafeína, a presença dos polifenóis presentes no chá verde aumenta a termogênese (taxa pela qual as calorias são queimadas) e o gasto total de energia. Esse gasto não é alto, em torno de 5% do gasto total de energia diário, mas os pesquisadores acreditam que combinado com uma dieta equilibrada, o chá verde pode funcionar como um coadjuvante da perda de peso.
O efeito que alavanca o metabolismo parece ser independente da cafeína suplementar consumida pelos indivíduos estudados, existindo uma interação sinergética entre cafeína e outros componentes bioativos do extrato de chá verde e/ou branco, que acarreta uma promoção de maiores taxas de queima de gordura.
Como esses chás devem ser consumidos?
Os chás verde e branco podem ser consumidos de diversas formas. A mais comum é a infusão das folhas secas em água quente. Contudo, a indústria atualmente pesquisa e desenvolve formas mais práticas e saborosas que oferecem o extrato em altas concentrações. Eu, por exemplo, assessorei dois desenvolvimentos onde foram utilizados extratos do chá verde ou branco com altas concentrações de polifenóis.
Os alimentos, elaborados em forma de pó para o preparo instantâneo da bebida, foram enriquecidos com vitaminas e minerais com ação antioxidante, adoçados com sucralose e flavorizados com sabor suave de frutas (cítrico ou abacaxi com hortelã). As duas bebidas podem ser consumidas geladas ou quentes e facilitam a vida do consumidor que preza pela praticidade e sabor.
Um ponto importante que merece ser destacado aqui é que na onda da popularização dessas duas bebidas, muitos fabricantes se aproveitam da situação e acabam oferecendo produtos com quantidades ínfimas do ingrediente, ou seja, de chá verde ou branco. Existem no mercado até gelatinas onde no rótulo pode-se ler a palavra chá verde em letras grandes, mas na verdade trata-se de uma sobremesa aromatizada com chá verde, e não enriquecida com este ingrediente funcional. Portanto, fica aqui um alerta para que os consumidores atentem-se para os rótulos desses produtos e aprendam a fazer a melhor escolha.
Modismo passageiro?
Os estudos científicos atuais consideram a Camellia sinensis uma planta estratégica para a saúde humana no século XXI. Por isso, do ponto de vista de pesquisadores como eu, que trabalham na área dos alimentos funcionais, bebidas à base dessa planta deverão cada vez mais fazer parte dos hábitos alimentares das pessoas, que até então desconheciam os inúmeros atributos dessas bebidas.
Os japoneses e chineses que as consomem há séculos, são considerados atualmente os povos mais longevos e com menor incidência de doenças do mundo. Entre esses povos, o provérbio chinês "Melhor ser privado de alimento por três dias, do que de chá por um” é seguido à risca, o que faz do chá verde, por exemplo, a segunda bebida mais consumida no mundo depois da água.