Por Sandra Midori Kuwahara Sasaki
Estou aqui sincronicamente lendo Italo Calvino, esse escritor que transforma a realidade em poesia. Suas cidades invisíveis estão mexendo muito comigo. Sua alma dialoga com a polis, mergulhando em detalhes coloridos que mexem com todos os nossos sentidos… realmente não dá para lê-lo com pressa, assim como toda obra de arte merece ser apreciada como um gole de vinho, sentindo toda a história inserida em sua existência…
Estamos num momento tão difícil nessa minha amada terra, e como disse Calvino: “é o desesperado momento em que se descobre que este império, que nos parecia a soma de todas as maravilhas, é um esfacelo sem fim e sem forma, que a sua corrupção é gangrenosa demais para ser remediada pelo nosso cetro, que o triunfo sobre os soberanos adversários nos fez herdeiros de suas prolongadas ruínas.”
Sim, estamos num momento difícil… Mas, as cidades falam mais sobre nós do que sobre os outros… fala como olhamos e cuidamos da nossa terra, de como identificamos as pegadas da população que migram em direção aos seus desejos ocultos, das nossas escolhas, do grito e do pulsar do coração, da terra que escoe da ampulheta que teima em nos mover para outros caminhos…
Como disse Italo Calvino ao poderoso Kublai Khan: “De uma cidade, não aproveitamos as suas sete ou setenta maravilhas, mas a resposta que dá às nossas perguntas.”
Que pergunta é essa que você faz a si mesmo?
Calvino, Italo. As cidades invisíveis. São Paulo: Companhia das letras, 1990. 1 ed. [Le citta invisibili, 1972]