por Thaís Petroff
Talvez o ponto mais difícil e desafiador no processo da terapia cognitivo-comportamental seja o de trabalhar para modificar as crenças negativas.
Crenças como já foi explicado anteriormente em outros textos são conteúdos cognitivos – percebidos e apreendidos – construídos ao longo de nossas vidas, principalmente durante a infância, e muitas vezes são inconscientes.
Essas crenças (tanto de conteúdo positivo como negativo) influenciam nossas percepções da realidade (pensamentos automáticos), bem como os comportamentos que temos.
Crenças e comportamentos estão diretamente interligados. Se tenho comportamentos inadequados (disfuncionais) reforço minhas crenças negativas. Se tenho crenças negativas, crio comportamentos inadequados. Dessa maneira, diante de crenças negativas os comportamentos são fortes aliados das mesmas mas, podem ser também grandes inimigos, dependendo de como forem utilizados.
Para modificar ou reestruturar o conteúdo das crenças é necessário que se trabalhe com todos os outros conteúdos cognitivos que as influenciam e se relacionam a elas, sendo esses os pensamentos automáticos e os comportamentos de segurança (ou estratégias compensatórias).
Como as crenças levaram anos para serem construídas, esse processo de desconstrução ou reconstrução é mais lento do que outras estratégias ou intervenções adotadas dentro da TCC, podendo levar alguns meses. Ele somente pode ocorrer após a pessoa já ter passado pelo processo da TCC, trabalhado e flexibilizando tanto seus pensamentos automáticos quanto seus comportamentos disfuncionais.
Existem alguns procedimentos que podem ser adotados para trabalhar com as crenças negativas.
Cinco passos para dissolver uma crença negativa:
1º) Psicoeducação com o paciente sobre os comportamentos disfuncionais (o que são, como são gerados, etc…)
2º) Trabalho de flexibilização dos comportamentos disfuncionais (por exemplo através da técnica do diário de comportamentos desconfortáveis saudáveis – veja aqui), ele é orientado a manter-se atento aos comportamentos inadequados desafiando os pensamentos automáticos negativos quando esses surgirem, para modificá-los (quando altero um pensamento automático negativo e encontro um pensamento alternativo mais adequado e funcional, consequentemente tenho como resultado não mais um comportamento disfuncional, mas sim um comportamento mais adequado à situação).
3º) Monitoração dos reforçadores das crenças positivas, que nada mais são do que esses novos comportamentos mais eficazes que a pessoa passa a ter. Ela passa a ficar atenta a eles e isso ajuda na conscientização dos mesmos.
4º) Anotar as crenças positivas para reforçá-las no dia a dia.
5º) A pessoa se propõe a ter um comportamento diferente do que teria se adotasse um comportamento de segurança baseado em suas crenças negativas, assim ela pode perceber o quanto essa atitude desafia essas crenças, demonstrando que elas não são verdadeiras (só são quando acreditamos nelas e temos comportamentos que as mantêm em continua construção, como se explica através da profecia autorrealizável – veja aqui).
Como já dito no início do texto, é um processo desafiador, difícil e trabalhoso mas, os resultados percebidos fazem o esforço valer a pena, pois finalmente o indivíduo pode sentir-se mais livre da opressão causada pelas crenças negativas.