Elas esperam com o coração apertado, com o corpo cansado de tentativas, com a alma cheia de fé, mas também cheia de dor
A mulher mal sobe ao altar e já ouve: “- E filhos, para quando?”. Mal nasce o primeiro, vem logo a cobrança do segundo. A mulher parece não ser vista na sua totalidade, e é reduzida a um relógio biológico, a um útero em potencial, a uma expectativa alheia, a um projeto de maternidade, a um cronômetro invisível da sociedade que insiste em medir a sua felicidade pelas convenções alheias. Mas a vida não cabe em fórmulas.
Nem toda mulher sonha com a maternidade.
Nem toda mulher pode conceber naturalmente ou não consegue ser mãe no tempo em que os outros acham que ela deveria ser.
Nem toda mulher quer ouvir que “o tempo está passando”, e ela pode não mais ser mãe um dia.
A dor das mulheres tentantes
E há as que esperam. Esperam com o coração apertado, com o corpo cansado de tentativas, com a alma cheia de fé, mas também cheia de dor. As que contam os dias e medem temperaturas. As que enchem as prateleiras de vitaminas e farmácias de esperança. São as que chamamos de “tentantes”. Mulheres que carregam no silêncio o peso das perguntas simples, mas que ferem como lâminas quando são feitas a elas: “- E aí quando vem um bebê?”.
Essas perguntas não são inocentes, são invasões disfarçadas de preocupação, julgamentos vestidos de curiosidade.
A sociedade precisa aprender que nem toda história é linear. Que muitas mulheres “tentantes” estão gestando uma esperança que ainda não se realizou. E respeitar o tempo de cada uma é urgente. Calar diante do que que não se sabe, é sabedoria. Oferecer empatia em vez de cobrança é colo e amor.
Porque ninguém sabe a batalha da espera que cada uma delas enfrenta. Ninguém sabe das lágrimas derramadas em noites solitárias. Ninguém sente o vazio de quem espera por um filho que ainda não veio.
Antes de perguntar, abrace com o olhar. Antes de julgar, silencie com o respeito.
Sabedoria é não questionar, muitas vezes. E lembre-se: maternidade não define valor. Toda mulher já é inteira. E o ventre alheio não é lugar para perguntas. É isso. Por todas as minhas pacientes que acompanho e já acompanhei, que vivem esta dor.