por Roberto Goldkorn
Se você não leu o livro, nem assistiu ao filme, pelo menos deve ter esbarrado com uma das inúmeras polêmicas que a obra de Dan Brown causou, nos jornais, na Internet ou nos cafés descolados.
Se não está incluído em nenhuma dessas categorias então certamente não deveria estar lendo esse texto, pois você é um 'ser superior'.
Mas não se preocupe eu não vou ser mais um a pegar carona e faturar (alto) no sucesso do escritor que por sua vez pegou carona em outros autores que por motivos misteriosos não fizeram o mesmo sucesso que ele. Como a maioria, eu também fiquei fascinado com toda essa história cheia de mistérios que aconteceu há 2000 anos e move e comove milhões até hoje.
Ao que tudo indica parece que ainda vai vender muito livro e muitas entradas de cinema por todo o século XXI. Porém, o que mais me impressiona é a reação dos católicos mais militantes. Saudosos de uma época onde se queimavam 'hereges', livros eram proibidos (e também queimados), e quem não adotava a religião oficial era excluído da vida, eles queriam proibir o filme, atacaram o escritor, e o ameaçaram de morte. Toda essa bagunça em torno de nada, novamente me arrepiou os pêlos.
Por mais que os defensores da mensagem cristã afirmem que toda essa história de Santo Graal e Maria Magdalena é mentirosa, não se trata absolutamente de um confronto de verdades ou mentiras e sim, de fé e de poder. A história da gênese e da vitória da religião cristã (assim como da judaica e do Islã) é a história da Fé e do uso ostensivo de poder, de força, de coerção. Mesmo se fosse descoberto em alguma caverna do Oriente Médio um papiro escrito pelas mãos do próprio Jesus contando uma outra história diferente das reunidas pelos padres da Igreja ao longo dos séculos, nada mudaria entre os milhões de católicos e cristãos, por quê? Vou repetir não se trata de analisar o que é verdade ou mentira, trata-se de crer ou não crer. De minha parte acho que as evidências de que a principal discípula de Jesus foi Maria Magdalena, e de que houve muito mais que uma intensa relação mestre/discípula são claras.
Não vou nem recorrer ao texto do recém-descoberto evangélio de Felipe, onde essa relação ganha tons bem calientes. Mas se juntarem às informações do próprio texto bíblico, com a compreensão do contexto histórico cultural da época, isso fica bem aparente. Porém, como diz um pastor evangélico meu amigo: “cada um acredita no que quer”.
Da Vinci e o poder feminino na 'Última Ceia'
Reparem na tela de Da Vinci as imagens de Jesus e da suposta Maria (estou aceitando que seja ela). As linhas de seus perfis formam um triângulo descendente, ou seja as linhas de cada perfil convergem para baixo, sugerindo que um encontro entre os dois aconteça debaixo da mesa, na parte não-visível. Além disso, o triângulo de ponta para baixo é o grande símbolo da mulher, da taça, da vagina, do poder feminino.
A Bíblia nos diz que foi Maria Magdalena a primeira para quem Jesus se mostrou depois de ressuscitar. Um ser supraconsciente como ele, que não “jogou dados” não faria isso se esse gesto não estivesse revestido de grande significado. Isso contrasta com o impressionante silêncio que os evangelistas fazem em torno de sua figura.
Mesmo levando-se em conta o machismo ferrenho da religião judaica na qual eram todos formados, é mais um sinal de despeito, e quem sabe até inveja. Mas perguntará algum crente já enfezado pelas minhas heresias: “e daí? Qual o valor de um quadro pintado por um pintor, por melhor que ele seja? Ou ainda dessas minhas ilações heréticas?” Nenhum, tenho de confessar.
Cada um crê no que quer, no que pode, no que lhe interessa. Há algum tempo atrás cai na besteira de tentar explicar a um religioso que a castidade de Maria mãe de Jesus, foi decidida por um grupo de padres numa eleição (fraudada), no século IV, derrotando a corrente que defendia uma Maria humana, parindo depois de conceber como qualquer mulher. Isso é história (na verdade faz parte da história da própria Igreja que infelizmente poucos conhecem) recebi o consolo de saber que “mesmo assim Jesus lhe perdoa”.
Verdade versus Fé, essa luta desigual é um jogo de cartas marcadas. Mas compreendo o porquê dessa pressão que os religiosos militantes exercem constantemente sobre esses 'novidadeiros' tipo Dan Brown, Salmon Rushdie e seus iguais. Primeiro há um 'modelo' antigo de ganhar no grito como se tudo não passasse de um jogo. Segundo, há um temor oculto no fundinho dessas mentes absolutas de que a maré vire, e que deixem de ser maioria, ou que um dia se descubra que muito do que acreditaram e no que empenharam a sua vida, não seja verdade. Isso é uma bobagem, relaxem, como já disse antes quando se trata de crença a verdade é a última coisa que importa.