por Samanta Obadia
Intermináveis vinte e três dias para agendar um almoço. Entre sete dias de cada semana, duas horas em comum são impossíveis.
“O assunto dos e-mails, inicialmente, era ‘o encontro’, depois, ‘ a missão” – e quando acontecer, será: o ‘milagre’.
Quatro mulheres na mesma cidade não conseguem criar espaço em comum em suas agendas “superatribuladas”.
O tempo passou e deixou para trás quatro meninas que frequentavam o mesmo colégio, e se encontravam invariavelmente, cinco dias por semana, na mesma sala de aula.
O fato é que a vontade de agendar este evento, ou melhor, a dificuldade da concretização deste almoço, me fez refletir no que fizemos com nossas vidas, e, obviamente, com o nosso tempo.
Na esquisita agenda adulta, parece que o último item a ser priorizado é o do encontro com amigas. Nosso tempo é antes de tudo um cumprimento ininterrupto de obrigações: exames médicos periódicos, academias de ginástica, trabalho, filhos, afazeres dos filhos, saidinhas com os maridos ou namorados, e até o sexo de muitas pessoas é programado para tal dia da semana. Além dos compromissos sociais, culturais, comerciais e familiares.
Sei lá, é uma sensação estranha de perda de controle e de gosto por nossas próprias vidas.
Como assim, eu não posso parar tudo para almoçar com antigas amigas? A vida de adulto ganhou ou perdeu o sentido? O que antes era simples agora ficou muito complicado. E nós nos sentimos obrigadas a cumprir com afazeres sem graça, sem vida, sem sentido. E aí, o que tem sentido fica pra depois, ou simplesmente não fica.
O almoço estava marcado para amanhã, mas o tempo não para e, imprevistos também acontecem. Não bastassem as perdas que tivemos como meninas, perdemos entes queridos fora do tempo, os quais nos fazem, mais uma vez, parar para pensar que o que mais nos dói é a falta de tempo que dedicamos a eles, pois tempo para estar junto tem de ser sempre mais importante, mesmo nas agendas modernizadas.
Que saudade dos tempos de menina em que todos os dias eram feitos para as amigas!