por Elisandra Vilella G. Sé
A apatia é um sintoma preocupante na doença de Alzheimer e em vários transtornos neuropsiquiátricos no processo de envelhecimento. A apatia na doença de Alzheimer pode prejudicar o status cognitivo do indivíduo.
A doença de Alzheimer (DA), é uma patologia neuropsiquiátrica degenerativa e progressiva, que tem sua base na genética, mas produz uma considerável ruptura na vida social e no funcionamento sociocognitivo do indivíduo com graves consequências para seus familiares. É uma das formas mais comuns e mais prevalentes de demência.
Recentemente foram criados critérios para o diagnóstico da apatia em idosos amplamente aceitos pela comunidade clínica e científica e que serão facilmente aplicados na prática.
Apatia é definida como um distúrbio de motivação que persiste ao longo do tempo. Em primeiro lugar, a característica central da apatia é que a motivação diminuída deva estar presente pelo menos por quatro semanas. Em segundo lugar, duas das três dimensões da apatia (diminuição da iniciativa e expressão das emoções) também devem estar presentes. Em terceiro lugar, limitações na funcionalidade do indivíduo atribuíveis à apatia, ou seja, a pessoa não realiza mais algumas tarefas em casa como antes por estar apática e demotivada.
A apatia diferencia dos sintomas de depressão, que também inclui desmotivação, mas que caracteriza principalmente por uma tristeza com “pesar”, sofrimento por eventos negativos, sintomas afetivo-emocionais negativos, choro fácil. Já a apatia caractetiza-se especificamente pela perda ou redução da motivação em comparação com o estado anterior de funcionamento da pessoa e que não é consistente com a idade ou cultura do paciente. Ou seja, um comportamento que a pessoa não apresentava anteriormente à doença.
Essas mudanças na motivação podem ser relatadas pelo próprio paciente ou por outros. Também estão presentes a perda ou redução dos comportamentos dirigidos a uma finalidade, como perda de iniciativa para realizar tarefas do dia a dia, iniciar uma conversação, realizar atividades básicas da vida cotidiana, iniciar atividades sociais, comunicar escolhas, tomadas de decisões; e perda do comportamento de resposta às solicitações do meio – por exemplo: responder a uma conversação, participar de uma atividade social.
Também é possível observar redução da espontaneidade ou da curiosidade para as atividades habituais ou para novos eventos (por exemplo iniciar tarefas complexas, interessar-se por eventos recentes, responder às atividades sociais, manifestar interesse por assuntos pessoais, familiares ou sociais); não reagir aos comentários ou ter curiosidade em relação às situações habituais ou a novos eventos – por exemplo: sobre as pessoas da casa, vizinhos ou comunidade. E pode ocorrer a perda da reatividade emocional (sentimento de diminuição ou ausência de emoções) relatada pelo próprio sujeito ou observado por outras pessoas.
A perda da reatividade emocional pode ser tanto para eventos agradáveis ou desagradáveis, para ações das pessoas ou notícias. O paciente fica indiferente, com um embotamento afetivo.
Todos esses sintomas devem ser observados se estão ocorrendo pelo menos durante umas quatro semanas e causando comprometimento clinicamente significativo no funcionamento pessoal, social, ocupacional ou em outras áreas.
Um aspecto importante é que os sintomas, principalmente os dois primeiros descritos (desmotivação e falta de iniciativa), não se explicam ou não são devidos exclusivamente a incapacidades sensoriais (por exemplo: perda da visão ou da audição) a incapacidades motoras, diminuição do nível de consciência ou efeitos fisiológicos diretos de substância (por exemplo: abuso de drogas, medicamentos).
Um estudo para investigar a apatia na doença de Alzheimer realizado por S E Starkstein, R Jorge, R Mizrahi, R G Robinson (2007), teve como objetivo verificar o impacto negativo da apatia sobre a progressão da doença. Esse estudo analisou também se a apatia é um indicador significativo de mais rápido declínio cognitivo, funcional e emocional em idosos.
Nesse estudo foi feita uma avaliação psiquiátrica estruturada, examinando uma série consecutiva de 354 indivíduos com diagnóstico clínico de doença de Alzheimer. Os resultados mostraram que a apatia foi significativamente associada com idade mais avançada e uma maior frequência de depressão. A apatia no início foi um indicador significativo de depressão e foi associada com uma rápida progressão dos sintomas cognitivos (perda de memória, orientação, atenção, funções executivas).
Os pesquisadores concluíram que a apatia na doença de Alzheimer é um marcador de comportamento de uma demência mais agressiva, caracterizado por uma progressão mais rápida da disfunção cognitiva, funcional e emocional do indivíduo.
Segundo DAHLKE, R. (1992) em seu livro “A Doença como linguagem da alma” a doença de Alzheimer tem seu centro de gravidade por volta dos 60 anos e o quadro de sintomas ganha rapidamente relevância numa sociedade em que a população apresenta um processo de envelhecimento frágil.
Dessa forma, na medida em que a severidade da DA vai avançando, a dependência e a fragilidade se tornam mais presentes, os distúrbios cognitivos e afetivos são mais acentuados.
Sabemos que com a DA a pessoa perde aos poucos sua natureza, sua percepção de si mesma, sua identidade pessoal. É muito importante para a preservação da identidade desses pacientes que os familiares e demais acompanhantes saibam como agir com esses pacientes e as várias faces da doença.