por Danilo Baltieri
Resposta: O papel da família no tratamento do usuário de substâncias psicoativas é extremamente importante. Há evidências de que, com muitos dependentes químicos, o adequado relacionamento com a família constitui um dos principais fatores na prevenção de recaídas.
Recomenda-se que os familiares frequentem o profissional de saúde especializado no tratamento das dependências químicas, mesmo que em um primeiro momento, o próprio usuário não queira se envolver em tratamento. A grosso modo, os familiares precisam saber:
a) O consumo de substâncias é um problema inserido entre muitos outros, ou seja, o usuário não apenas consome as substâncias, mas devido a isso, apresenta vários outros problemas (sociais, escolares, interpessoais, jurídicos etc);
b) A comparação do usuário com outras pessoas que são tidas como “modelos” não traz quaisquer benefícios; apenas poderá aumentar a irritabilidade do mesmo;
c) A adoção de uma postura baseada em brigas constantes, criticas severas ou castigos, quando os familiares descobrem que uma pessoa faz uso de substâncias não a impede de continuar usando. Apenas fará que o usuário esconda o fato da família. Dessa forma, caso as provas sobre o consumo forem claras, os familiares devem conversar com o usuário e orientar a procura de um profissional especializado. Caso os familiares apenas desconfiem do consumo, eles devem procurar um profissional que os possa orientar adequadamente sobre como prosseguir e tentar estabelecer um contato maior com o usuário;
d) Uma alternativa interessante é desaprovar determinados comportamentos do usuário, sem necessariamente atribuí-los ao uso de drogas;
e) Nos casos em que os familiares fingem que não há nada errado, continuam a fornecer dinheiro ao usuário (financiando o consumo e a dependência da pessoa), permitindo que o mesmo utilize as substâncias dentro da própria casa (porque é mais seguro do que usar na rua ou com os amigos), o resultado será muito negativo.
Os familiares realmente precisam de orientação. Na grande parte das vezes, eles conhecem os problemas advindos do uso inadequado das drogas, mas não conhecem as formas mais adequadas para lidar com o problema.
Muitos membros familiares do dependente infelizmente comportam-se de uma determinada maneira que, direta ou indiretamente, apóiam, facilitam ou perpetuam o uso inadequado de substâncias pelos filhos. Membros familiares que consciente ou inconscientemente recusam-se a confrontar ou, até mesmo, reconhecer o problema da dependência química apenas aumentarão os problemas futuros.
Comportamentos errôneos da família
Alguns destes comportamentos indesejáveis dos familiares são apontados abaixo:
a) Minimização – os familiares ignoram, racionalizam ou tentam explicar o uso de drogas, atribuindo-o a uma fase passageira, já que “muitas pessoas usam drogas hoje em dia”, ou “ele (o usuário) está passando por uma fase difícil e a droga lhe dá algum alívio”, ou “ele teve uma vida difícil, com vários traumas. Ele precisa melhorar de vida antes de conseguir parar de usar drogas”;
b) Controle – tentar controlar ou manipular o uso de drogas pelo dependente; fazer barganhas com o usuário. Por exemplo, propor ao usuário “consumir apenas um baseado por dia”, ou “usar somente à noite, antes de dormir”, ou propondo “usar aos finais de semana apenas”;
c) Proteção inadequada – tentar proteger o usuário das conseqüências negativas do uso. Por exemplo, desculpando o usuário, negando a responsabilidade do mesmo pelos seus próprios atos;
d) Assumir responsabilidades do usuário – pagar contas do usuário; desempenhar as tarefas domésticas atribuídas ao membro familiar dependente, sem cobrá-lo; defendendo-o de problemas externos e assumindo a responsabilidade por eles;
e) Conluio – ajudar o usuário a obter as drogas, já que “ele sente falta e pode passar muito mal sem elas ou ficar violento sem o uso delas”.
Alguns familiares acabam por organizar suas vidas ao redor do dependente, tentando controlar ou manejar os comportamentos e problemas do usuário. Outras vezes, os familiares tentam esconder o problema de outros membros da família que moram na mesma casa. O segredo não deve ser mantido. O problema deve ser encarado e confrontado de forma clara, transparente e objetiva.
Não há qualquer problema em querer ajudar um membro da família ou amigo em dificuldades, enfrentando as mais variadas situações adversas. O comportamento de ajuda deve ser constantemente estimulado, tendo em vista a sociedade individualista em que nós vivemos. No entanto, “ajudar” requer SABER como “ajudar”. A pessoa que insiste em “ajudar” através de formas erradas, acaba por afetar negativamente tanto o usuário quanto ela própria engajando-se ambos em um processo devastadoramente patológico.
Sempre reitero: a família do dependente precisa também estar inserida no tratamento.
Indicação bibliográfica
Vários leitores têm solicitado referências bibliográficas para aprender mais sobre o problema, o que é uma atitude muito bem-vinda. Recomendo o livro:
Braun IM. Drogas – perguntas e respostas. São Paulo, MG editores, 2007.
Atenção!
As respostas do profissional desta coluna não substituem uma consulta ou acompanhamento de um profissional de psiquiatria e não se caracterizam como sendo um atendimento