Por Edson Toledo
Diz o proverbio hindu: “O prazer é a sombra da felicidade”, para se referir ao efeito efêmero e prazeroso da exposição a estímulos sensoriais, estéticos ou intelectuais. Embora intrinsecamente satisfatória, a sensação não se sustenta e, muito rapidamente, tende a se tornar neutra ou mesmo desagradável. Mas ainda que saibamos disso, uma significativa parcela de nós corre atrás dessa vivência, insistindo em repeti-la a todo custo.
Nas últimas décadas, porém, grupos menos filosóficos (Aristóteles escreveu sobre a felicidade) se juntaram a essa difícil tarefa de entender os mecanismos da felicidade: psicólogos, endocrinologistas e neurocientistas. O objetivo é estudar a felicidade como um processo biológico para encontrar o que desencadeia esse sentimento sob o ponto de vista físico.
Os estados emocionais são acompanhados por mudanças dos polipeptídios, chamados de “moléculas das emoções”. A cada alteração de humor, uma cachoeira de hormônios e neurotransmissores flui através do corpo, afetando todas as células.
Anedonia: a perda de sentir prazer
Robert Sapolsky, neuroendocrinologista da Universidade Stanford, é um dos mais reconhecidos especialistas nesse tema. Ele explica que a característica definidora de um surto depressivo é a perda de prazer. Disse Sapolsky: “Se eu tivesse de definir depressão severa em apenas uma frase, diria que é um distúrbio genético-neuroquímico que requer um forte gatilho ambiental, cuja característica manifestada é a incapacidade de apreciar o pôr-do-sol”. Essa perda de prazer é conhecida por “anedonia”, ou seja, perda da capacidade da pessoa de sentir prazer.
O correlato fisiológico desse estado é um aumento na secreção de glucocorticoides, especialmente do cortisol, hormônio do estresse produzido pelas glândulas suprarrenais. O comando para a produção dessa substância parte do eixo hipotálamo-pituitária, no cérebro. Quando o individuo se expõe a um grande estressor, o hipotálamo, por meio da glândula pituitária, mobiliza a secreção de cortisol das suprarrenais. Em uma pessoa saudável, quando o nível de cortisol sobe, o hipotálamo desacelera a estimulação das suprarrenais, fazendo com que os níveis de cortisol diminuam e o corpo alcance uma situação de equilíbrio, condição chamada de homeostase.
Mas se a pessoa estiver deprimida, esse circuito de retroalimentação não funciona adequadamente, e o hipotálamo continua a estimular a secreção de ainda mais cortisol. Aqueles que sofrem não apenas de estresse e depressão, mas também de ansiedade crônica. Transtorno e outros distúrbios têm níveis de cortisol cronicamente elevados, a chamada hipercortisolemia: “uma das anormalidades biológicas mais frequentes encontradas em pacientes com depressão, é a hipersecreção contínua de cortisol – uma reação de estresse generalizada que escapou da contrarregulação normal, como se estivesse ‘travada’ na posição ‘liga’. “Esses processos bioquímicos anômalos resultam provavelmente de um estresse sistêmico, com constante aumento do nível de cortisol”, afirma Sapolsky.
Como a felicidade transforma nossa bioquímica
A epidemiologista Jane Wardle, pesquisadora da College em Londres e uma das autoras do estudo, concluiu como que a felicidade transforma nossa bioquímica. Pessoas felizes secretam cerca de 30% menos de cortisol durante o dia – mesmo quando estão passando por algum estresse! Essa pesquisa demonstra que a busca de um aumento da felicidade deveria ser uma preocupação dos órgãos de saúde pública. Uma vez que a sensação de bem-estar subjetivo está diretamente relacionada com processos biológicos, os cientistas estão examinando os meios possíveis de mudar a nossa biologia e, assim, transformar nosso humor. O desafio agora é encontrar formas de regular esse excesso e reduzir a incidência de emoção negativa.
O fato é que o tema tem instigado os especialistas a produzirem pesquisas que estão longe de serem conclusivas. Porém, podemos refletir sobre as conclusões dos estudos e validar sua aplicabilidade com uma visão mais racionalista sobre a felicidade já que o tema não se esgota.